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Solo saudável, atividade rural sustentável

18 de fevereiro de 2022

Olhar a produtividade das plantas na colheita é compreender o que envolve a semente que a germinou. É, antes de mais nada, conhecer as características e limites da terra
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Solo saudável, atividade rural sustentável
Augusto Queiroz Pedrazzi, engenheiro agrônomo.

A exigência cada vez maior por uma produção agropecuária sustentável, como um solo saudável, tem trazido à tona conhecimentos não tão novos da ciência agrária, mas que, no entanto, precisam ser retomados para um novo olhar sobre a terra que produz e de onde se pretende alimentar o mundo.

Augusto Queiroz Pedrazzi é engenheiro agrônomo e gerente de operações agrícolas da Ipê Florido Agronegócios, empresa do Grupo Atallah. Trata-se de um técnico de campo que traduz em produção sustentável todo um conhecimento necessário do solo com o que trabalha, a partir de análises e interpretação de dados.

Segundo ele, em questões de metros, a terra se apresenta completamente distinta, no que diz respeito às suas propriedades físicas, químicas e biológicas. E são exatamente elas, diante de suas limitações ambientais, as determinantes para uma exploração duradoura ao longo das gerações.

MAB – Nestes tempos com olhos voltados à produção sustentável no campo, muito de fala da saúde da terra. Como podemos definir este importante agente, o solo?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Solo é um universo onde organismos micros e macros desempenham um papel protagonista, interagindo, fazendo trocas, reproduzindo e devolvendo-se em um ciclo dinâmico e caótico. Na verdade, é a continuação do universo em uma microescala.

MAB – E como produzimos a partir deste “microuniverso”?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Se pensarmos na extensão do que ele representa, temos que alimentar nossos microrganismos do solo de maneira que eles façam as trocas justas com nossos cultivos, das forrageiras às florestas provedoras de madeira e celulose.

solo minhoca



Um solo saudável tem vida e perenidade produtividade agropecuária

MAB – O que seriam estas tais “trocas justas”?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Na verdade, a planta negocia com a biota (microrganismos) a sua nutrição. Então, o açúcar exsudado pelas raízes é trocado por uma abundância de outros nutrientes, deixados pelos microrganismos.

MAB – E o que a adubação tem a ver com isso?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Pensando em reprodução no nível celular, bioquimicamente falando, temos sequências de reações que só ocorrem ou atingem sua frequência dinâmica, quando todos os nutrientes estão equacionados. Isto é nem mais nem menos, deles, pela adubação. Isto responde na formação dos tecidos e órgãos e, por fim, organismos, onde temos a planta, vaca, a galinha, humanos etc.

MAB – Como vamos equilibrar este processo se precisamos atender a demanda mundial de alimentos?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Que fique claro: antes de aumentar produção, precisamos entender os elos fracos do sistema produtivo.  Falando em clima tropical, a dificuldade de acúmulo de matéria orgânica no solo é certa!

Toda nutrição de solo/biota/cultivo deve prever o equilíbrio entre as comunidades biológicas do solo, lembrando que o excesso de um nutriente é a escassez do outro. Assim, subindo apenas o Fósforo (P) e não enxofre (S), e calibrar o Zinco (Zn), os demais elementos com certeza estarão em desequilíbrio. Isto não só atrapalha a produtividade como também aumenta o índice de pragas e doenças.

MAB – Existe uma recomendação para promover este equilíbrio?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Sim! Literaturas sobre biodinâmica já representaram no passado este assunto. Uma das mentes mais conhecidas em ciência do solo é William Albrecht e, claro, Rudolf Steiner, pai da biodinâmica.

MAB – Então se equilibramos essas correlações teremos um aumento em qual porcentagem da produção?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Difícil dizer, pois a produção é multifatorial: depende de clima, solo, altitude, posição no globo terrestre e variedades adaptadas (animal e vegetal). Porém existem análises de solo biológicas que, em conjunto com a química, mostra os limites de incremento que cada solo tolera, inclusive a quantidade de massa microbiana para cada tipo de cultivo.

MAB – Após corrigida as correlações entre os nutrientes é possível aumentar a produtividade ainda mais?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Sim e não! Cada solo tem um limite de mineralização. Há casos que o potencial de mineralização de P são inferiores a 30 kg/ha. Então se jogarmos 60, teremos resposta apenas para 30 kg, estando ainda desequilibrados Zinco, Cobre e Enxofre. Neste caso temos situações perfeitas para uma lavoura susceptível a pragas e doenças.

MAB – Então um solo saudável é um ecossistema em equilíbrio em suas propriedades físicas, químicas e biológicas?

Augusto Queiroz Pedrazzi – Exatamente! Em equilíbrio e trabalhando dentro de suas limitações, ele é saudável, duradouro e, portanto, sustentável. Um solo que trabalha em equilíbrio reduz os gastos com adubação tradicional. Torna-se mais econômico com o passar dos anos. Mas para isso é preciso conhecê-lo com propriedade e manejá-lo com respeito.

Fonte: MAB

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