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Identidade, o que distingue uma raça?

O que vemos hoje em praticamente todas as raças nacionais é, sob o pretexto da inclusão e da popularização, o abandono da identidade racial
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Identidade, o que distingue uma raça
Foto: Divulgação/H. Possebon

Identidade: Do dicionário, “conjunto de características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível individualizá-la”. Ao longo dos séculos de domesticação e uso do cavalo, o homem acabou por separar determinados tipos para usos mais especializados, ou seja, procurou selecionar as ferramentas mais adequadas para a execução de determinados trabalhos.

Cavalos de tração, de corrida, para guerra, trabalho na sela em geral, passeio, sempre foram selecionados por biótipo e desempenho, pois na pratica seu uso acabava por melhor atender o que procurava se extrair daquela ferramenta de trabalho. Parecia, a época, melhor usar um cavalo de corrida para correr e um de tração para puxar o arado, hoje em dia, no entanto, nem sempre vemos toda essa clareza por parte dos criadores, enfim.

Desses subtipos, agregados os regionalismos, questões culturais e ambientais acabaram por surgir ao longo dos anos o que chamamos hoje de raças, algumas raças, notadamente as de esporte, sempre se preocuparam em preservar um desempenho almejado e geneticamente sempre se mantiveram abertas a agregar qualquer indivíduo, mesmo que de fora de seu studbook, que atendesse ou pudesse melhorar esse desempenho, são as raças de livro aberto, algumas outras raças optaram por, uma vez definido o padrão racial, registrar os animais daquela população que atendessem os critérios e fechar o livro de registos para novas introgressões, justamente por zelo em preservar aquele subtipo e aquele desempenho selecionados e almejados, por gerações, são as raças de livro fechado.

A formação das raças acabou por enriquecer muito o uso dos cavalos e acabaram por se tornar verdadeiras marcas registradas de países e regiões, patrimônios históricos, culturais e materiais, e desempenharam feitos memoráveis ao longo da história. O que seriam dos árabes sem seus icônicos cavalos, ou de nossos irmãos Ibéricos?

No Brasil temos belíssimas histórias de formação de raças únicas no mundo, histórias de dedicação e trabalho incansável de famílias e centenas de criadores que moldaram animais a necessidades e gostos regionais, caçadas, longas viagens, trabalhos na fazenda, etc. Onde no mundo se pode encontrar a inigualável Marcha Trotada do Mangalarga, andamento marchado predominantemente bi pedal de alto rendimento? Ou, que país tem um marchador de porte e traços como nosso Campolina? Que falar então de nosso cavalo Pantaneiro, são raças únicas, verdadeiros patrimônios nacionais a serem preservados e cultivados com zelo.

Lamentavelmente, o que vemos hoje em praticamente todas as raças nacionais é, sob o pretexto da inclusão e da popularização, o abandono das identidades raciais.

Não podemos negar que já existiram modas, transgressões nos registros e desvios de rumos em outros tempos, mas o fenômeno de descaracterização completa das identidades raciais ou mesmo a tentativa de reescrever de maneira artificial a história e os padrões raciais são novidades dos novos tempos. Não estão só querendo reinventar a roda, mas redefinindo o que é uma roda.

Cavalo de Sela já não é mais um tipo, Marcha é qualquer coisa que a narrativa de um talentoso juiz quiser e padrões só existem para serem quebrados, “é o cavalo sem fronteiras”, dizem orgulhosos. Hoje um leigo que chegar em uma exposição da Mangalarga, do Mangalarga Marchador ou do Campolina facilmente não vai saber dizer de que raça se trata.

Persistindo o movimento o que restará dessas raças? O “Cavalo Brasileiro”? E o que é isso? Uma massa metamórfica, um amontoado de cavalos sem uso definido? E as associações tornar-se-ão grêmios?

Fica a reflexão pois esse é o caminho das coisas descartáveis, como dizia o mestre Tião Carreiro:

“Viola que não presta
Faca que não corta
Se eu perder, pouco me importa”

Por Luiz Alberto Patriota
Crédito da foto: Divulgação

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