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Os bons desafios da agropecuária

3 de maio de 2022

Ainda há muito que ser feito no setor e é por isso que temos que seguir em frente, com perseverança e trabalho
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Os bons desafios da agropecuária
Teresa Vendramini – Foto: Arquivo pessoal

Atual presidente da SRB – Sociedade Rural Brasileira -, Teresa Vendramini, empresária e pecuarista, é também membro integrante do CEEP – Conselho de Economia Empresarial e Política da Fecomércio SP, Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo. Ela faz parte da terceira geração de uma família com mais de 80 anos de dedicação à agropecuária.

É interessante perceber como a visão e as ações de Teresa Vendramini abarcam assuntos tão essenciais inseridos na realidade do agronegócio brasileiro. Sendo a primeira mulher a assumir o comando da SRB, uma associação de produtores rurais que trabalha, há mais de cem anos, na representação política em defesa do setor agropecuário para o desenvolvimento do Brasil, Vendramini, nos dá nesta entrevista a satisfação de conhecer um pouco mais alguns de seus olhares sobre o nosso agro, falando sobre livre mercado, lideranças, produção, sustentabilidade, desafios e conquistas do setor.

Aproveitem a leitura!

MAB – Como descreveria a pecuária de corte hoje no Brasil?

Teresa Vendramini – A pecuária brasileira é sustentável. Avançamos muito. A nossa produtividade cresceu 159% nos últimos 30 anos. Para ter ideia, em 1990 produzimos 1,6 arrobas por hectare. Em 2020, passamos a produzir 4,2 arrobas por hectare. Em algumas propriedades, esse número é ainda maior. Isso tudo, graças à adoção de novas tecnologias de produção e reprodução. A área de pastagem reduziu 13% nas últimas três décadas. Claro, temos muito a avançar, especialmente na recuperação de áreas degradadas, mas estamos caminhando para isso.

MAB – Quais os pontos mais importantes para a manutenção do mercado interno e o que é preciso fazer, ao mesmo tempo, para que as exportações continuem seguindo em ritmo acelerado?

Teresa Vendramini – Defendo o livre mercado. Não acredito que intervenções venham a beneficiar o mercado interno. O que é necessário é reduzir o custo de produção e o tal custo Brasil, para deixar nosso produto ainda mais competitivo no mercado externo e acessível no mercado interno.

“Precisamos avançar em pautas como assegurar o direito de propriedade, promover a regularização fundiária e implementar o Código Florestal. Medidas que vão trazer segurança jurídica, acesso ao crédito e competitividade para o produtor rural brasileiro”

MAB – Sobre capacitação de mulheres no agro, quais episódios mais te marcaram? O que acredita que ainda tenha que ser feito para que essa iniciativa se desenvolva mais fortemente no país?

Teresa Vendramini – Capacidade independe de gênero. Por isso, de modo geral, acho que precisamos de mais investimento em capacitação e extensão rural para aumentar a produtividade com sustentabilidade, o uso de novas tecnologias e a gestão das propriedades rurais. As mulheres podem estar aonde elas quiserem, precisamos seguir em frente com perseverança e trabalho.

MAB – Em momentos de crise as mulheres mostram ainda mais sua força e liderança? Como foi gerenciar a SRB no período de pandemia?

Teresa Vendramini – A mulher tem esse jogo de cintura, se adapta rápido, procura alternativas. Não parei. Na SRB criamos uma agenda para trabalhar grandes temas do agronegócio de maneira remota. Promovemos importantes debates pelo YouTube, mantivemos nossa agenda em Brasília e até algumas viagens, mesmo no auge da pandemia, consegui fazer, o que chamamos de Grandes Encontros da Rural.

“Muito bom ver a juventude frequentando as reuniões de uma entidade tradicional como a SRB. Estamos somando, incentivando o trabalho do jovem no campo e a sucessão familiar – algo tão desafiador para muitos produtores”

MAB – Hoje, diante do parecer da SRB e da sua visão, quais são os principais desafios para garantir a melhoria da agropecuária brasileira? De que maneira a criação de comitês auxilia para lidar com esses desafios?

Teresa Vendramini – Nós evoluímos muito em produtividade, em tecnologia, com o uso da ciência a serviço de uma produção cada vez mais alinhada à sustentabilidade e devemos seguir assim, sempre junto da ciência. Mas temos ainda o desafio de incluir os pequenos produtores neste universo da tecnologia, da sustentabilidade e do ESG. Quando isso acontecer será um salto ainda maior para o nosso agro.

Outro desafio é mostrar isso para a sociedade urbana, que desconhece boa parte destas conquistas. Precisamos ainda seguir avançando em uma comunicação cada vez mais assertiva, divulgando as boas práticas não somente para as diferentes gerações que atuam no campo, mas principalmente para quem consome os alimentos que são produzidos por nós, para quem veste a roupa feita do algodão que plantamos, abastece o carro com o etanol que produzimos e assim por diante.

Por isso, acredito que uma das funções dos comitês da SRB seja essa. Discutir as pautas do agro, em suas várias faces, consolidar as ideias e disseminar por meio dos seus membros. Temos ainda o departamento Rural Jovem, que é uma maneira de aproximar os jovens do agro, trazendo um novo olhar para o setor. Muito bom ver a juventude frequentando as reuniões de uma entidade tradicional como a SRB. Estamos somando, incentivando o trabalho do jovem no campo e a sucessão familiar – algo tão desafiador para muitos produtores.

MAB – Na sua opinião, qual a melhor postura para as lideranças do agronegócio brasileiro diante dos atuais conflitos na Rússia e Ucrânia?

Teresa Vendramini – Trabalhar, buscar alternativas. E foi feito isso. Tão logo começou a guerra, a ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já estava no Canadá buscando novas fontes de fertilizantes. Logo a Embrapa agilizou um plano de ação para capacitar e orientar os produtores rurais pelo Brasil. Precisamos estar atentos a essas fragilidades para que a força do agronegócio brasileiro não seja prejudicada.

“Nos últimos 40 anos, construímos um dos mais importantes setores da história econômica do Brasil e o mundo sabe disso e da imensa capacidade do Brasil de produzir alimentos”

MAB – Como você acredita que o agro brasileiro é visto pelos outros países? Que imagem ele passa e qual a nossa verdadeira realidade? Pode citar o trabalho que você desenvolve junto a entidades de âmbito internacional?

Teresa Vendramini – Nos últimos 40 anos, construímos um dos mais importantes setores da história econômica do Brasil e o mundo sabe disso e da imensa capacidade do Brasil de produzir alimentos. Porém, existe o protecionismo, o temor de depender do mercado externo para garantir alimentos e as questões ambientais. O comitê Internacional da SRB conversa com muitos embaixadores que são unânimes em dizer que precisamos melhorar a comunicação do Brasil com o mercado externo.

MAB – Hoje, diante do parecer da SRB e da sua visão, quais são os principais desafios para garantir a melhoria da produção brasileira? O que o produtor rural mais necessita atualmente? A redução da burocracia entra neste contexto?

Teresa Vendramini – A Sociedade Rural Brasileira tem 102 anos e, ao longo deste período, participamos de importantes pautas do agronegócio no cenário nacional. A entidade é um espaço propositivo na busca de soluções e em defesa de pleitos dos produtores rurais para assegurar a valorização, a eficiência e a competitividade do agronegócio brasileiro. Acreditamos, hoje, que precisamos avançar em pautas como assegurar o direito de propriedade, promover a regularização fundiária e implementar o Código Florestal. Medidas que vão trazer segurança jurídica, acesso ao crédito e competitividade para o produtor rural brasileiro.

Por Mara Iasi – Portal MAB

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