Search
Close this search box.

Sobre obsolescência, rastreabilidade e novos modelos de negócio

O desafio de mudar
Compartilhe no WhatsApp
Sobre obsolescência, rastreabilidade e novos modelos de negócio

Levante a mão quem se sentiu forçado a adquirir algo novo, apesar do atual não ter sido comprado há tanto tempo assim?

Palestra no 26º. Congresso Brasileiro de Direito Ambiental relacionou sete tipos (“Espécies”) de obsolescência planejada. Eu apenas pensava na incompatibilidade, como no meu celular, cuja (restrição de) memória não me permite rodar aplicativos mais recentes. Mas tem outros exemplos: quando não se lança tudo o que tem, de uma vez, para promover compras futuras forçadas, o serviço pós-venda não estar mais disponível, ou quando o item tem uma “bomba-relógio” embutida. Pessoalmente, considero a obsolescência percebida ainda mais cruel, se é que isso é possível. A pressão de ter algo, para agradar um grupo, para se sentir parte de algo (“maior”?). Todas estas situações forçam à compra de algo, vindo a substituir outra coisa, antes desta ter podido alcançar uma vida útil adequada.

Em seu curta-metragem “The story of stuff”, de 2007, Annie Leonard explora modelo linear de extração, produção, consumo e descarte, e todas as suas consequências. Como sociedade, este conceito está totalmente inserido na forma como avaliamos uma economia como sendo forte (Produto Interno Bruto), uma empresa como sólida (retorno aos acionistas), uma pessoa como bem-sucedida: produzir mais, vender mais, ter mais.

Ficamos tão acostumados com estes indicadores, que estranhamos profundamente, quando alguém propõe algo que vai na contramão: empresas que se recusam a publicar dados trimestrais, para forçar seus investidores a olharem mais a médio e longo prazos, pessoas que optam por um estilo de vida minimalista, ou ação de grande rede de comercialização de pneus, que me mandou para casa, pois os pneus do meu carro ainda podiam rodar x mil quilômetros, em segurança.

O desafio está em (querer!) quebrar com as expectativas estabelecidas (e, assim, correr riscos!). Os executivos desta empresa de pneus estavam sendo avaliados em função do que NÃO vendiam desnecessariamente, e isso me causou tão boa impressão, que me fidelizou desde então.

A pandemia promoveu a valorização de itens de segunda mão, mas você já tentou vender algo? Tinha, facilmente, características e dados técnicos do produto, sabia bem qual valor pedir por ele?

E se, ao invés de considerar como meta a venda de (sempre mais!) produtos, uma empresa criasse um canal de relacionamento com seus clientes, acompanhando todo o uso, e promovendo novos modelos de negócio, pós-fim de vida (do produto, não do cliente)? Esta semana conheci a CEO da EON, uma solução que, através da rastreabilidade na rotulagem, gera valor para as empresas, sem terem que produzir mais, vender mais, extrair mais recursos, gerar mais resíduos, poluir mais o ambiente.

Filmes de ficção científica neo-noir, como Blade Runner (1982), pretendiam mostrar à humanidade uma possibilidade de futuro especialmente obscura, para que promovêssemos tudo ao nosso alcance, para essa visão de futuro não se confirmar de fato. Infelizmente, parece que estamos assistindo a estes filmes, para já nos acostumarmos com a ideia…

Por Sonia Karin Chapman
Diretora Chapman Consulting

Leia outras colunas no portal Mundo Agro Brasil

Relacionadas

Veja também

Quando nossos hábitos distorcem (quase) tudo
… paraíso para quem? E até quando?
As dicas que a vida te dá
Se tudo é relativo, como avançar?