Com a palavra: uma Engenheira Agrônoma

Caminhos da Sustentabilidade
Compartilhe no WhatsApp
Com a palavra: uma Engenheira Agrônoma

A escolha da profissão costuma ser um processo recheado de expectativas, questionamentos, angústias e, com frequência, recomeços. A boa notícia é que em Sustentabilidade todos os caminhos são bem-vindos!

Quando assumi o Controlling Regional do Agronegócio da BASF, em 1995, eu já tinha trabalhado 4 anos como auditora externa e percebi a pressão por ser Administradora de Empresas, num mundo de Agrônomos, além de sermos pouquíssimas mulheres à época. Não era, fundamentalmente, um ambiente acolhedor para perspectivas diferentes, e isso me levou a identificar oportunidades, que mirassem a gestão como um todo, a fidelização de clientes através do foco em seus desafios, que eram muito diversos.

Agronomia também era uma escolha majoritariamente masculina, até o final do século passado. Por isso, hoje quero dar a palavra a Isabel Catarina Schulze , que estudou Agronomia na USP, em 1992, e tem uma trajetória profissional incrível. Vamos conhecê-la:

Escolhi Engenharia Agronômica por meu interesse pela natureza. A faculdade foi uma verdadeira “dupla experiência”, onde cursei disciplinas fascinantes, como mecânica, hidráulica, fisiologia vegetal e economia, e participei de diversos estágios. Destaco a experiência no CPZ, onde trabalhei com bovinocultura de leite, e no CIAGRI (Centro de Informática na Agricultura), onde, na época, disputávamos o acesso aos computadores. Viver em uma república foi uma das experiências mais marcantes desse período, criando laços de amizade que mantenho até hoje.

Piuva em flor e arara azul

Piúva em flor e arara azul

Meu primeiro passo profissional foi como guia turístico no Pantanal, onde aprendi muito com os pantaneiros, como reconhecer os pássaros por seus voos, como o pica-pau, e apreciar o canto do João Pinto. Fiquei encantada com as floradas exuberantes das Piúvas e dos Para-tudo. Foi uma experiência incrível, tanto pelas pessoas quanto pelo lugar.

Em seguida, trabalhei em uma consultoria de pesquisa de mercado agrícola, onde tive a oportunidade de conversar com inúmeros produtores e entender os desafios que enfrentam para trazer alimento à nossa mesa. Depois disso, atuei na Monsanto, focando em BI e na exportação de sementes.

Cheguei a um momento da vida em que senti a necessidade de me envolver em uma causa urgente: a Sustentabilidade. Decidi, então, fazer o curso de Gestão de Sustentabilidade da FGV, em busca de ferramentas para contribuir de forma mais efetiva. Lembro que na faculdade, a disciplina mais relacionada a essa área era “agricultura alternativa”, que, infelizmente, não cursei por ser uma optativa que não me interessava à época.

Em 2010, entrei no universo da mensuração da Sustentabilidade, aceitando o desafio na Fundação Espaço ECO, instituída pela BASF e pela agência de cooperação internacional do governo alemão, a GIZ, para promover a Sustentabilidade na América Latina. Minha atuação envolveu a condução de estudos de Ecoeficiência, projetos de reflorestamento e iniciativas de Educação Ambiental. A Ecoeficiência é uma ferramenta baseada na Avaliação de Ciclo de Vida, que mensura os impactos mais relevantes (emissões, uso da água, terra, energia etc.) em todos os elos da cadeia de valor. Dessa forma, é possível identificar potenciais de melhoria, celebrar parcerias e evitar a mera transferência de problemas entre elos e categorias de impacto. Conduzir estudos de Ecoeficiência para usinas sucroalcooleiras e para a associação americana da pecuária me possibilitou compreender o agro do ponto de vista de impactos no ciclo de vida, antes, dentro e fora da porteira, mostrando o quanto podemos influenciar nossas próprias decisões de consumo.

Atualmente, trabalho com a agenda de Análise do Ciclo de Vida (ACV) na Suzano, uma empresa que se destaca pela forte atuação em questões ambientais. A empresa investe significativamente em áreas de preservação e busca diversas alternativas de descarbonização, tanto internamente quanto em parceria com clientes e fornecedores. Essas iniciativas são impulsionadas não apenas pelas regulamentações europeias, como o CBAM e o Desmatamento Zero (EUDR), mas também pela necessidade de garantir a sobrevivência da empresa, que depende de recursos naturais para a produção de sua matéria-prima.

A Engenharia Agronômica, um curso extremamente amplo, me proporcionou conhecimentos que utilizo para orientar decisões voltadas à Sustentabilidade, sempre baseadas na ciência. Isso me traz grande satisfação e realização, pois estou comprometida com uma causa que considero essencial. Ao olhar para o futuro, reconheço que cada esforço pode contribuir para um mundo mais equilibrado e sustentável. Além disso, não posso deixar de mencionar que me sinto abençoada pela minha trajetória, que só foi possível graças à colaboração de cada pessoa com quem convivi, aprendi e trabalhei ao longo de minha vida.

Em 23 e 24 de outubro acontece em São Paulo a 9ª edição do Congresso Nacional das Mulheres no Agronegócio , uma celebração à garra feminina, como a de Isabel.

Venha prestigiar!

Sonia Karin Chapman

Diretora Chapman Consulting

Leia outras notícias no portal Mundo Agro Brasil

Relacionadas

Veja também

A importância de repararmos nos detalhes
Quando nossos hábitos distorcem (quase) tudo
… paraíso para quem? E até quando?
As dicas que a vida te dá