Pensamento de Ciclo de Vida

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Pensamento de Ciclo de Vida

Em 2002 as Nações Unidas lançaram ambiente com o objetivo de possibilitar o uso global de conhecimento do Ciclo de Vida para sociedades mais sustentáveis​​. A Life Cycle Initiative completa 20 anos em 2022, e sua provocação não poderia ser mais urgente: como promover uma gestão integrada de impactos, um senso de responsabilidade de fato, evitando a mera transferência de problemas entre elos da cadeia?

Imagine-se num engarrafamento, reclamando de tudo e de todos, essa circunstância provavelmente atrasará compromissos assumidos, planos feitos. É quando repara numa faixa afixada na ponte bem à sua frente: “Você não está no trânsito, você é o trânsito!”. Resumindo numa frase, essa é a essência do pensar Ciclo de Vida. Quais fatores contribuem para um processo? O que aconteceu antes, durante e acontecerá depois dele? E, fundamental: qual o nosso papel nele?

Artigo recente da BBC explora muito bem a complexidade de compromissos de governo e de empresas pela redução de emissões de carbono, anunciados no decorrer dos últimos anos e, especialmente, no contexto da COP26, no final do ano passado. Mas qual é a abrangência destes compromissos? Referem-se às suas próprias operações (Escopo 1), incluem impactos do consumo de energia (Escopo 2), ou todos os elos, inclusive fornecedores e o cliente do cliente, a disposição final e/ou o início de um novo processo (Escopo 3 = perspectiva de Ciclo de Vida)? Se o maior impacto está neste, quão genuíno (e suficiente!) é se comprometer com outra perspectiva?

Há um ano eu afirmava que é simples pensar em Ciclo de Vida. Vamos analisar cada passo:

1º Pergunte-se sempre: “Qual é a função daquilo que eu estou analisando?”

Isso vale para tudo, e é um exercício mental que considero muito enriquecedor! A função do carro, por exemplo: para mim, é uma forma de sair de A para B. Para muitas pessoas, é um símbolo de status. Outras tantas, consideram uma paixão, um hobby.

Qual a função de embalagens? Proteger o conteúdo? Estender sua vida útil? Destacar/diferenciar/posicionar? Transmitir informações? Permitir empilhamento, otimizar a logística? Viabilizar a rastreabilidade? Gerar empregos?

Qual a função dos famosos canudinhos?

2º “Quais são as alternativas que atendem a função?”

O convite é: pense e compare alternativas que atendam a um mesmo objetivo. Assim, na função do meu carro para deslocamento, posso considerar outros meios de transporte, por exemplo; já na função dele como símbolo de status, as alternativas, muito provavelmente, também poderão ser outras coisas, totalmente diferentes.

3º “Quão eficiente é cada alternativa no atendimento da função?”

Há externalidades inerentes, que precisam ser consideradas na avaliação. Quem tem no carro uma paixão, muito provavelmente manda encerá-lo com maior frequência, que eu. Minhas prioridades são: segurança, combustível (no meu caso, a possibilidade de abastecer com etanol), pouca manutenção. Quando considerar a eficiência de alternativas, vou analisá-las nestes quesitos.

4º “Quais são os impactos ambientais, sociais e econômicos de cada alternativa, no Ciclo de Vida?”
Mesmo que não tenhamos todas as informações, é possível começarmos a imaginar e a pesquisar sobre os impactos prováveis. O 0800 das empresas sofre comigo!

5º “Há inovações?”

Sigamos com o exemplo do carro para deslocamento: a pandemia tornou desnecessária a presença física em ambientes de reuniões, eventos e cursos, minha principal razão para utilização do carro. Pensando nas minhas idas ao supermercado (que, para mim, tem a mera função de trazer bens para casa): o que dizer dos drones?

6º “Como eu posso contribuir no processo?”

Frequentemente acreditamos que governos ou empresas são responsáveis por avançarmos em questões fundamentais, como a redução de emissões, de poluição, de desperdícios, a melhoria de condições de vida. Mas nós somos parte do problema (lembra do exemplo do trânsito?), então precisamos nos perguntar como podemos ser parte da solução. Seja através da revisão de hábitos, de uma maior atuação pública, da promoção de debates, do compartilhamento de informações…

Para quem ficou instigado, há muitas possibilidades de acompanhar esta pauta! Recomendo o curso à distância (em português e gratuito!) da Life Cycle Initiative. A Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo de Vida (Rede ACV) promove workshop de Sensibilização em Pensamento de Ciclo de Vida – este mês abrirão turma aberta para não-associados.

Gosto muito dos artigos de Joel Makower, da GreenBiz. Sua última publicação “State of Green Business 2022” é leitura obrigatória, para quem quer, de fato, estar (in)formado para fazer a diferença!

Por Sonia Karin Chapman
Diretora Chapman Consulting

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