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Criação das raças Dorper e White Dorper no Nordeste brasileiro

5 de maio de 2021

Conheça as opiniões de criadores da região sobre manejo, técnicas, expectativas, ajustes e desafios nos plantéis
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Conversamos com alguns criadores para entender sobre o manejo, as dificuldades, bem como as vantagens de se criar o Dorper em pleno semiárido nordestino. A região Nordeste do Brasil é marcada por altas temperaturas, chuvas escassas, mal distribuídas e com longos períodos de estiagem.  

Mas antes de falarmos sobre a criação no Nordeste, vale lembrar alguns dados importantes. Em 2018, o Brasil alcançou o maior rebanho da raça Dorper PO do mundo, com 122.500 animais, de acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO). São mais de 800 criadores das raças de ovinos Dorper e White Dorper espalhados por todos os estados do país 

Atualmente, são cerca de 140 mil animais registrados e 1.000 criadores espalhados por 21 estados brasileiros. Tais números mostram a vasta distribuição da criação das raças pelo país que, em virtude da sua grandeza territorial, com uma área de 8.515.767 km² aproximadamente, é considerado continental. Ou seja, comparável com a área de um continente, com ampla diversidade ambiental e climática. 

Principal dificuldade na criação nordestina do Dorper

De acordo com Luiz Teixeira, da Rebanho Buriá, localizado em Senhor de Bonfim/BA, o maior problema da criação das raças Dorper e White Dorper começa na fase de estruturação. Afinal, para estruturar uma criação é necessário ter uma produção de alimentos. E isso depende de chuva e de regularidade de clima. “A alimentação dos animais em todas as suas fases, mas especialmente os destinados à reprodução, deve ser um ponto de extremos cuidados. Isso é necessário para que eles mostrem todo seu potencial de desenvolvimento ao longo de suas vidas, expressando o melhor de sua herança genéticaSem uma boa alimentação, a genética não se manifesta. Esse é o primeiro ponto”. 

Augusto Sérgio de Oliveira Barbosa, titular da Cabanha Lage da Cruz, de Itiúba/BA, reforça dizendo que, de fato, a escassez de chuvas regulares e clima muito quente prejudicam muito a alimentação adequada dos animais. “Isso causa aumento dos custos, principalmente da ração e feno”. 

Como alternativa, alguns criadores plantam milho e outros produtos para baratear a ração nos períodos de chuva, estocando para o período de seca. Mesmo assim, Sidney de Andrade Almeida, do Rebanho LCB, de Rio Largo, Alagoas, conta que fica refém dos altos preços dos insumos. “Pois além da alta do dólar que influi diretamente nos grãos e sais minerais, ainda temos o alto valor do frete do Sul para o Nordeste”, cita o produtor alagoano. 

“É muito difícil se impor nesse item de custo alimentar e de produção. Se você não tiver a chance de verticalizar (produzir internamente tudo o que puder)torna-se impraticável organizar uma estrutura rentável e produtiva no carneiro. O fato de ter que adquirir insumos de fora, sem ter uma produção verticalizada de alimentos, acaba inviabilizando o processo economicamente”, reforça Luiz Teixeira. 

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Rebanho Buriá – Foto: Reprodução/ABCDorper
Vantagens na criação no Nordeste 

No quesito vantagens na criação no Nordeste, Teixeira cita o sol e o calor, que são favoráveis ao carneiro. “Esses animais adoram o tempo seco, são de uma rusticidade excepcional. Seu poder de adaptação é incrível. Se houver alimento adequado e sol, eles estarão bem. Vão ter boa saúdepelo sedoso, ganho de peso e produtividade. Mesmo com a adversidade climática, o carneiro se vira, sobrevive”. 

Além disso, a vegetação nativa da região, a chamada caatinga, também pode ser uma forte aliada na criação de ovinos. Afinal, trata-se de plantas cactiformes, ou seja, elas enfloram na época chuvosa e na seca caem todas as folhas, ficando só galho seco. Mas os ovinos se alimentam dessas folhas que caem. 

Se compararmos a extrema seca a um cenário de guerra, o Dorper vai conseguir passar onde o bovino não consegue. Por isso, a nossa aptidão e competência aqui no Nordeste é para o caprino e ovino. Uma região fantástica de produção dessa pecuária para fornecer para esse Brasil todo”, cita Teixeira. 

O que falta aos criadores nordestinos?  

“Falta de mão de obra qualificada”, essa foi a resposta comum entre os criadores entrevistados nesta reportagem. Para eles, um dos principais desafios da criação das raças no Nordeste é conseguir montar uma equipe capacitada. “Precisamos de mão de obra treinada, faltam programas de capacitação técnica. Além disso, não há disponibilidade de assistência técnica. Muitos começam e desistem”, frisa Augusto Barbosa. 

Teixeira reforça que a maioria dos trabalhadores não possui, de fato, conhecimento tecnológico e científico dos manejos. Contudo, cita outro problema recorrente nessa situação: a remuneração inadequada. “90% da criação de ovino no semiárido do Nordeste é do pequeno criador familiar que a usa como subsistência. Esse pequeno criador é explorado de alguma maneira, por atravessadores que remuneram mal e isso vai restringindo o nosso mercado para o consumidor local”. 

Sidney de Andrade Almeida acredita que para solucionar esse problema, a resposta deve vir somente através da união do grupo criadores. “Isso para que nossa querida raça Dorper cresça cada vez mais, pois ela já mostrou que se destaca na produção de carne ovina no país. Lembro-me de uma visita a um grande projeto de produção de carne ovina, em 2014, no Rio Grande do Norte, quando o proprietário me falou a seguinte frase: meu projeto só se tornou viável após a introdução da raça Dorper no plantel”, finaliza 

Fonte: Redação Agrovenki para a ABCDorper 
Crédito das fotos: Reprodução/ABCDorper/Rebanho Buriá

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