Sabe aqueles dias que não estamos nos sentindo motivados, produtivos? Meio sem vontade, meio introspectivos? São aqueles momentos que parecem que um aspirador passou como um tornado levando tudo, inclusive nossa disposição para o trabalho.
Pois estava me sentindo assim e, sabendo que seria muito incomodo forçar o que não levaria a bom termo, me permiti dar uma pausa.
Veio uma frase de Nietzsche que dizia algo como “para ver muita coisa é preciso despregar os olhos de si mesmo”. Com esta desculpa verídica, resolvi desacelerar.
E fui buscar algo que me desse prazer, que me permitisse observar o cotidiano e dele aprender um pouco mais, ignorante que sou.
E nada melhor que um bom café com um misto quente quentinho, pois estava sem almoçar, pois fui ao dentista no horário do almoço.
Ao chegar na cafeteria, como sempre, fui muito bem recebido pela “Ca”, que tem uma “vibe” boa, uma sensibilidade incrível.
Enquanto apreciava o café (duplo!) notei pela primeira vez que o nome da cafeteria é “Semeia”. Perguntei o que significava, e ela prontamente disse que tinha um objetivo, uma proposta atrás daquele nome, que era oferecer mais que um café de qualidade, mas repassar conhecimento, dos diferentes tipos de torra, de como preparar um bom café, de usar um filtro Hario…….
Ouvindo-a falar de forma tão apaixonada sobre o que faz, senti que mais que oferecer um café, ela estava realizando um propósito, construindo um legado, oferecendo prazer e aconchego numa xicara de café sempre especial.
Santa Tereza de Calcutá diz que “Não é o quanto fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos. Não é o quanto damos, mas quanto amor colocamos em dar”.
Lembrei de Norman Borlaug que dedicou sua vida a combater a fome, utilizando da ciência para aumentar a produtividade via melhoramento genético, com uso de técnicas modernas de produção, em vários países como Paquistão e Índia, por exemplo. Mesmo com críticos, o seu trabalho se tornou conhecido como Revolução Verde.
Há estimativas que ele tenha salvado da morte por inanição, por falta de alimentos, entre 250 milhões e 1 bilhão de pessoas pelo mundo, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz em 1970.
Como trabalho em um Instituto sem fins lucrativos, me veio a figura do nosso Diretor Presidente João Rando, que capitaneando o inpEV, tornou o Instituto benchmarking mundial na destinação ambientalmente correta de embalagens vazias de agrotóxicos, levando conhecimento para mais de 2,3 milhões de alunos do 4º e 5º ano do ensino fundamental, dentro dos parâmetros curriculares nacionais, que gerou o reconhecimento da ONU como um programa referência em Educação Ambiental.
Saber que já foi retirado do meio ambiente mais de 680 mil ton. de embalagens que equivale a não emissão de mais de 900 mil ton de gases de efeito estufa, que transformados em árvores, seria o equivalente a 6,5 milhões e o orgulho de ter participado deste legado, de ter aprendido muito com este profissional visionário.
É muito gratificante saber que o caminho da embalagem passa por vários elos, desde a sua saída da fábrica, indo para os canais de distribuição onde o produtor adquire enquanto produto, que ele lava e devolve nas centrais e postos de recebimento ou via recebimento itinerante, e que o inpEV dá a destinação, onde, por exemplo, entre os mais de 33 diferentes artefatos, a embalagem volta a ser uma nova embalagem homologada de 20 litros que equivale a não emissão de 1,2 kg de CO2 e o não consumo de 7,7 litros de água, praticando, de fato, a economia circular.
Veio também na memória o que era a região do Mato Grosso, Oeste Baiano, Piauí, Tocantins, Maranhão entre outras novas fronteiras onde o solo pobre e sem variedades adaptadas, não poderia ser o que é hoje: os protagonistas na produção de soja e milho.
E isso ocorreu porque houve o trabalho da Embrapa que, trabalhando variedades de soja utilizadas na região Sul, tornou-as adaptadas para aquele bioma, mais produtivas, com ciclos mais curtos, permitindo mais de uma safra, que normalmente é rotacionado com milho ou, em menor escala com o algodão, nos colocando na liderança da produção de soja, que alimenta frangos, suínos, bovinos, produz óleo de cozinha, viabilizando alimentos em escala, com qualidade, utilizando menos áreas para a produção.
Mas de nada valeria ter a ciência a serviço da maior produtividade, se não houvesse pessoas ou desbravadores como os produtores rurais que saíram majoritariamente da região sul, dos pesquisadores capacitados que, carregando mais do que a vontade de vencer esta nova fronteira agrícola, tinha a paixão, a entrega e muita persistência para realizar a chamada Revolução Verde de Norman Borlaug neste novo bioma, muitas vezes se antecipando à infraestrutura.
E, diferente do que perguntar sobre o que diferencia estas pessoas por realizarem esta revolução que nos colocou como protagonistas no combate à insegurança alimentar, seria mais interessante perguntar o que os une.
Meu sentimento é que além do sonho de realizar, houve e há a persistência, o conhecimento técnico, a curiosidade sobre o novo, que envolve o uso de novas tecnologias e um profundo respeito pela terra produzindo sobre a palha (plantio direto), evitando com isso a erosão laminar, protegendo a terra para as gerações futuras onde o feito é melhor que o perfeito, permitindo trilhar o caminho das boas práticas, da consciência que é preciso preservar para ter a credibilidade para exportar estas comodities para o mundo, fazendo parte dos mais de 2,5 milhões de agricultores que juntos, alimentam 800 milhões de pessoas através do seu trabalho, onde, mais que o binômio “produzir” e “ganhar”, ser protagonista no combate à insegurança alimentar onde apenas no Brasil há mais de 33,1 milhões de cidadãos que vivem esta triste realidade, que sofrem por não ter a certeza que terão um prato de comida sobre a mesa; onde a palavra adaptação ganha um sentido novo, num mundo que sofre as consequências do aquecimento global, com efeitos adversos do La Niña sobre a Região Sul e sul do Mato Grosso do Sul, furacões como o Fiona, seca no Sudoeste dos Estados Unidos, afetando a biodiversidade e os níveis dos reservatórios da região. Será uma batalha contra o tempo entre ciência e condições climáticas cada vez mais adversas.
Mas, neste mundo globalizado, on line, este seleto grupo, e não estou aqui me referindo aos que destroem a floresta amazônica, esta minoria que tanto mal faz, que desmata a mata atlântica, que pode nos levar ao “ponto de não retorno”, mas me referindo a estes produtores que estão cada dia mais informados, mais conscientes da necessidade de alimentar o mundo sem destruir os diferentes biomas, utilizando, por exemplo, de área degradadas, como ocorreu no Rio Grande do Sul para a produção de grãos; em mudar comportamentos com a coragem daqueles que todo dia levantam com o desejo de fazer melhor e, através destes exemplos, conscientizar mais pessoas, onde o círculo virtuoso alimenta a causa, porque “a casa foi construída em rocha firme”.
Se pudesse sintetizar tudo numa única palavra, eu usaria a que nomeia a cafeteria da “Ca”:
Semeia……..
Semeia……..
Por Mario Fujii
Gerente de logística do inpEV
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