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O futuro distópico

Somos seres estruturalmente muito simples: basicamente compostos de 65% de oxigênio, 18% de carbono e 10,2% de hidrogênio (Fonte: BBC Science Focus).
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O futuro distópico

E, dentro do nosso corpo, temos átomos que se formaram no início do planeta Terra.

Se tivéssemos um marcador, um rastreador para acompanhá-los ao longo de toda a história, eles já fizeram parte em algum momento, tanto de outros seres vivos como de plantas.

Então, quando dizemos que fazemos parte do universo, literalmente é uma verdade.

Quando nos encontramos em um lugar lindo e nos vemos inseridos neste ambiente, também faz todo o sentido.

Quanto mais entendemos que ao invés de pensar em Glúons, que cada um de nós temos 100 mil vezes mais átomos que o total de seres humanos que já existiram, começamos a entender que somos um milagre e não um acaso, onde fomos formados a partir dos primeiros aminoácidos com os gases presentes na atmosfera.

E isto nos trás a percepção que somos construídos de “blocos que se encaixaram de forma tão perfeita”, que após a fecundação, fomos desenvolvidos dentro do útero de nossa mãe, nos tornando este ser único, que tem emoções, que sabe ser pragmático, que aprende com as lições que a vida nos impõe, que tem a capacidade de entender o sentido de várias palavras que muito de nós esquecemos, como a empatia, a compaixão, a capacidade de criar, de inovar, de se relacionar com os outros “únicos”.

Por outro lado, de acordo com o Museu de História Natural dos Estados Unidos, entre as pessoas em geral, há 0,1% de diferença no sequenciamento genético. Ou seja, somos geneticamente todos iguais, mas que “rotulamos” / nos “diferenciamos” para ter algum atributo melhor que outro.

Criamos para isto, desde castas, pirâmides, marcas, grifes para demonstrar estas diferenças, este desejo de ser competitivo, de atingir o topo da pirâmide, de ser considerado o melhor.

Mas que melhor é este?

Com a habilidade de plantar alimentos e ter animais domesticados, alteramos nossa cultura de “caçador coletor” para “agricultor e sedentário”.

Isto ocorreu na Idade da Pedra Polida. Foi um momento da sociedade caracterizada pela criação de regras para normatizar o convívio. Daí, se construiu uma sociedade baseada no conceito de cooperação, que gerou o nascimento de grupos que se tornaram cidades, que se tornaram estados, que se tornaram nações. E, com isto, veio novamente o desejo de poder, de dominar outros “menos favorecidos”, com menor capacidade de defesa.

Passaram entre 10.000 e 15.000 anos e, depois de muito progresso e de muito sangue derramado, de duas guerras mundiais, continuamos em busca de organizações sociais ideiais, onde a cooperação, a sinergia, o trabalho coletivo faz toda a diferença, ou deveria.

Aprendemos a cultivar a terra, a comercializar o excedente, a criar uma sociedade que foi além do escambo e, depois de 3 revoluções agrícolas, saímos no século I de 170 milhões de habitantes para mais de 8 bilhões de habitantes. Não sem os efeitos colaterais deste crescimento e do abismo social criado, onde muitos tem pouco e poucos tem muitos. Conforme a Oxfam, os 1% mais rico concentra quase duas vezes a riqueza global.

Mas continuamos a evoluir, onde a tecnologia nos permite conhecer novos planetas, “enxergar” o passado através de equipamentos como o Telescópio James Webb, curar doenças ou pandemias, tornar atividades repetitivas em movimentos robóticos e até, com a Inteligencia Artificial como o Chat-GPT, uma tecnologia de IA, que gera textos em questão de segundos, ameaçando profissões e as verdades publicadas, criando rupturas que não sabemos onde irá parar.

Mas, tudo isso que nos encanta, que nos oferece praticidade, segurança, produtividade, tanto nos ajuda como nos segrega.

Segrega pois não são todos que tem acesso ao “Éden”, nem a oportunidade de se capacitar, utilizar e aprender com as novas ferramentas.

Em pleno século XXI, 18% não tem acesso à internet no Brasil, que representava em 2021, 35,5 milhões de brasileiros (Fonte: Agência Brasil).

Hoje, temos grandes desafios, mas, temos também grandes trunfos: aprendemos a extrair o máximo da terra, seja na questão produtiva como na questão ambiental, buscando uma produção de alimentos alinhados aos objetivos do milênio das Nações Unidas, utilizando tecnologias como o plantio direto, recuperação de pastagens degradadas e o uso de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta.

Com a previsão de ter 9,7 bilhões de habitantes em 2050, não resta outro caminho a não ser produzir mais, utilizando da tecnologia de última geração disponível, com o desafio de promoção da sustentabilidade e segurança alimentar, mitigando o impacto causado por esta produção.

E agora com mais um desafio, que é obter produção com os efeitos do aquecimento global, influenciando todo o clima global.

Se queremos ter um planeta melhor, não há mais condições, senão agir forma coordenada para resolver esta situação.  

Este novo momento, deverá ser uma nova versão da necessidade imperativa de atuarmos de forma colaborativa, não esquecendo jamais, que somos todos únicos, mas parte de um todo, onde nos diferenciamos enquanto seres humanos apenas 0,1% do outro ser humano, que pode ser o menos favorecido, o que se perdeu nas drogas, o desempregado, o que não teve oportunidade de se preparar para este novo mundo que exige novas competências como hard e soft skills; o que sofre abuso por ter escolhido simplesmente ser diferente, o “invisível” uniformizado, o mendigo nas ruas das grandes cidades,  o que não vê perspectiva de um futuro digno, que não sabe se irá almoçar ou jantar.

A agricultura 4.0 veio para trazer uma agricultura de precisão, de uso racional de insumos, de equipamentos georreferenciados visando o gerenciamento de toda atividade e perda mínima em processos, buscando maximizar o uso de insumos além de diminuir as perdas na colheita.

Mas, esquecemos que, sendo este momento inclusivo, necessitaremos assumir o desafio de desenvolver ferramentas sob medida para o pequeno produtor, visando sua manutenção no campo e podendo oferecer sua contribuição na produção de alimentos. No Brasil, a agricultura familiar representa 62% das propriedades rurais (Fonte: Emater).

Não podemos esquecer que há uma quantidade enorme de brasileiros que não tem condições de se capacitar para este novo momento e, cabe ao Estado oferecer dignidade para esta parcela da população, ao mesmo tempo que estrutura um modelo de capacitação em escala para as novas gerações.

O Brasil é o segundo país com maior proporção de jovens “nem-nem” onde 36% de jovens de 18 a 24 anos não estudam e nem trabalham, segundo a OCDE, perdendo apenas para a África do Sul.

Sem esta preocupação, não seremos um país com futuro e igualdade social. Seremos um país de feridas que não fecham, pois a dita sociedade irá cutucar de forma continuada estas feridas e ela ficarão sangrando a céu aberto, à vista de todos, mas pouco visível para aqueles que se autoproclamam como o “umbigo do mundo”.

Por Mario Fujii
Gerente de logística do inpEV

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