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Empatia Vital

“...Vamos trabalhar mais e mais próximos, para alcançar resultados e limitar o aquecimento global a 1,5 ºC até 2050, um desafio enorme e necessário” - Embaixador Britânico no Brasil, Peter Wilson
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Empatia Vital

Com o término da COP 26, começa a fase do “arregaçar as mangas”, “sair do discurso e ir para a ação”.

Há Estados que precisam desta plataforma verde para sua sobrevivência ou para se destacar, ganhar credibilidade e, paradoxalmente, há outros que não percebem a importância de proteger os seus e nosso planeta agonizante, focando apenas no bom resultado de curto prazo. E friso o conceito de “Estado” e não de “Nação”, pois houve uma ação estruturada de organizações privadas, ONGs, academia, influenciadores, que se fizeram ouvir, saindo do greenwashing, da retórica, para além da crítica (necessária), mas principalmente para debater com profundidade e oferecer soluções, nas mais diferentes áreas.

Quando leio o Embaixador Britânico Peter Wilson afirmando que necessitamos trabalhar mais e mais próximos, está totalmente aderente à urgente necessidade de não buscar ações isoladas, mas transversais, coletivas, colaborativas, que não sejam excludentes social e financeiramente.

Diante de um cenário complexo e no mínimo angustiante, onde juntamos a pandemia, o desemprego, o distanciamento social, a insegurança alimentar, acelerada por condições adversas de clima, me faz lembrar algo que li nos bancos de escola a muitos anos atras e que me marcou muito: “O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Há uma ligação em tudo.” Uma frase que continua tão atual e dita por um chefe indígena de Seattle no ano de 1854.

Complementando esta carta: “…Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra….”

Isto remete a 1983, data do documento “Nosso Futuro Comum”, quando foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD, presidida por Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega. Desta Comissão saiu o “Our Common Future” ou, como é bastante conhecido, o Relatório Brundtland, que cunhou o significado da palavra sustentabilidade, como o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Interessante observar como são temas e objetivos tão semelhantes, apesar de ter mais de um século de diferença, que é proteger nosso meio ambiente para o bem de todos, de hoje e de amanhã, pois não é possível dissociar homem e natureza…….

Sinto que a grande população deste nosso país, não entende qual a importância de limitar o aquecimento em 1,5 oC. E aqui faço uma crítica aos especialistas que precisam demonstrar de forma didática, simples e direta e o que significa isso e suas consequências nefastas.

Não conheço pesquisa que trata sobre esta percepção, mas sinto que precisamos utilizar todos os meios de comunicação – tradicionais e novos, alinhados às novas gerações – para alertar que estamos – infelizmente – caminhando para um precipício, e não sabemos se, após esta queda, haverá um comércio saudável entre as nações, se haverá emprego para todos, se haverá capacidade de produção de alimentos para todos, se mais pessoas irão passar fome que hoje já ultrapassa 20 milhões, apenas no Brasil.

A revista científica Environmental Research Letters, identificou que as regiões do mundo que mais podem sofrer os impactos, caso as políticas para combater este aquecimento não ocorram ou pelo menos não sejam mitigadas, afetarão mais de 1 bilhão de pessoas. E, quem vencerá a força do mar que causará danos em tantas regiões densamente habitadas à beira mar?

O Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA) divulgou onde os climatologistas acreditam que o continente asiático e especificamente as áreas próximas aos oceanos sejam uma das mais atingidas pelos impactos do aquecimento global como, elevação do nível do mar, enchentes e ciclones tropicais intensos, temperaturas mais elevadas, mudanças na quantidade e intensidade de chuvas, maior variabilidade das monções entre outros eventos.

Segundo o Relatório de Agencias da ONU, diante de um mundo com mais de 811 milhões de pessoas que passam fome (antes da pandemia), com a pandemia houve um acréscimo de 40%. Este mesmo relatório informa que 75 milhões de crianças com menos de cinco anos tiveram seu crescimento prejudicado por déficit alimentar.

Não acesso a alimentos, pressão de preços das commodities com consequente aumento no preço de frangos, porco, gado, que se alimentam destes grãos, diminuição do poder aquisitivo que gera insegurança alimentar; quem vencerá a corrida entre produzir variedades de alimentos que serão mais produtivas e tolerantes à seca versus a prevalência da seca que pode voltar a ocorrer pelo La Niña, tornando a oferta de alimentos menor, como já ocorreu na safra passada principalmente nas lavouras da região sul do Brasil?

Ou pela mudança na quantidade dos “rios voadores” (grandes fluxos de vapor de água que podem transportar mais água que o próprio rio Amazonas) que enfraquecem com o desmatamento e queimadas na Amazonia?

Segundo o INPA, uma árvore de grande porte pode transpirar de 300 a 1.000 l. de água/ dia. Falando de um bioma como o amazônico, com mais de 600 milhões de árvores, cerca de 20 trilhões de l. de água são enviados para a atmosfera diariamente.

Empatia – nova reflexão

Empatia é a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa e sentir o mesmo, caso estivesse na mesma situação.

Gostaria de ampliar este conceito e dizer que empatia é também entender que a natureza não é apenas uma porção da terra, ou uma empresa, ou uma fábrica, que é utilizada apenas para extrair dela aquilo que necessitamos, dentro de uma visão de economia linear.

Empatia sustentável é pensar e agir dentro do conceito de economia circular, de redução, de reuso, de reciclagem, de recusar produtos não aderentes à esta proposta, de repensar seu papel como consumidor ativo e produtor de resíduos…….. E não esquecer que há recursos finitos….

Precisamos compreender o impacto, no seu sentido mais amplo, se a terra (e aqui estou falando do planeta), não mais oferecer em quantidade e qualidade os recursos essenciais para nossa sobrevivência, poderemos nos tornar mais uma civilização como tantas outras, que teve seu começo, crescimento, apogeu e queda, repetindo a eterna curva de Gauss.

E dentro da visão de empatia compassiva, que é de se colocar no lugar do “indivíduo” que sofre, e procurar fazer ações práticas para ajudar, queria te convidar a mudar o mindset e sentir a “dor” deste planeta que tem 80% de suas águas poluídas por plásticos, por diversos países que utilizam como matriz energética o carvão gerando gases de efeito estufa, a falta de tratamento de esgoto sendo jogado in natura nos rios, de grileiros que queimam florestas para colocar apenas 01 cabeça de gado por hectare e onde o degelo está ocorrendo em grandes proporções (a Terra perdeu 28 trilhões de ton. de gelo entre 1994 e 2017).

Não será neste planeta que nossos filhos ou netos terão a oportunidade de terem suas necessidades supridas no futuro.

O Brasil consciente e que quer se manter competitivo e crível, está fazendo este trabalho, ampliando com o auxílio da tecnologia, como, por exemplo, nos casos da agricultura de baixo carbono:

  • Plantio direto – é utilizado em 90% de toda área de plantio de grãos de acordo com a Febrapdp. Além de inúmeros benefícios, como não causar erosão laminar, manter a umidade do solo por maior tempo, melhorar a condição do solo, em uma área de 1 hectare com sistema de plantio direto, o produtor pode obter de 0,5 a 1 tonelada de carbono sequestrado por ano — o equivalente à produção de quatro carros emitindo CO2 ao longo de 12 meses (Fonte: Projeto Carbono 360 – Bayer).
  • Integração lavoura pecuária floresta (ILPF) – diversificação de atividades, melhor conforto térmico do animal, redução de custos na reforma de pastagens, melhor aproveitamento da área e da qualidade do solo, tendo como grandes benefícios: o aumento da produtividade, melhor gestão de fluxo de caixa e recuperação de áreas degradadas. E como um resultado natural: a ILPF reduz a pressão pela abertura de novas áreas. A Rede ILPF, apresentou oficialmente o fundo Financiamento Facilitado para Agricultura Sustentável (SAFF, na sigla em inglês). O foco é mostrar a outros investidores o quanto a transformação de uma área de pastagem degradada em uma área mais produtiva, com maior lotação de animais e com mais atividades agregadas à criação de gado, pode ser mais lucrativa para eles também. O aporte inicial anunciado foi de US$ 86 milhões, vindos do Banco Mundial. A meta para os próximos dez anos é que o País saia de uma área de 16 milhões de ha de ILPF para 30 milhões de ha.

É urgente olhar ao nosso redor, e ter a capacidade de identificar estes riscos tão eminentes e se perguntar qual é o nosso papel? Como podemos diminuir individualmente nosso consumo de 1 kg de plástico por semana?

Precisamos como diz a carta de Seattle entender que “o ar é precioso para o homem…….., pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro.”

Há também uma outra frase muito impactante: “….Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem – todos pertencem à mesma família…”

E como somos interdependentes: “O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios”.

Por Mario Fujii
Gerente de logística do inpEV

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Já não questionamos os impactos do aquecimento global.
Somos seres estruturalmente muito simples: basicamente compostos de 65% de oxigênio, 18% de carbono e 10,2% de hidrogênio (Fonte: BBC Science Focus).