Entre as tantas coisas que aprendi, e aprendo sempre, com o hipismo, posso destacar a naturalidade como lidamos com questões como igualdade de gênero. Essa é a única modalidade olímpica em que homens e mulheres, machos e fêmeas, competem por igual. Assim como jovens e seniors também disputam as mesmas provas, sem distinção de idade. Em cima do cavalo prevalece o preparo técnico e a conexão da dupla, o bom preparo físico e a sensibilidade dessa parceria atuando juntas.
Ter vivido desde menina nesse ambiente me fez compreender que a desigualdade de gênero é algo que mantemos para sustentar uma série de outros vícios tão patriarcais e danosos para a nossa sociedade como um todo.
Homens e mulheres donos de si, conhecedores da própria potência, confortáveis em sua vulnerabilidade, são seres humanos inteiros e despertos, capazes de realizar o que for preciso. Mas por que ainda vivemos nos contentando em viver presos a limites e distinções tão duvidosas? Por que ainda escolhemos o medo de ousar ser quem somos e nos acomodar em sistemas que simplesmente “funcionam assim”?
O mais recente estudo do IBGE – Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil nos revela o que a gente já sabia: menos mulheres em cargos de liderança, salários pelo menos 25% menores do que o dos homens, etc. Qual o sentido real de seguirmos perpetuando essa realidade? Por que ainda nos negamos a olhar para dentro e ver de que forma nós, com nossas crenças e hábitos, contribuímos para a manutenção desse cenário?
Cada qual com suas particularidades, homens e mulheres estão na vida sendo desafiados pelos mesmos obstáculos. Nessa prova do viver não há distinção: o comando é evoluir integralmente. E esse desafio é particular, individual e rigoroso. Leva medalha quem aprende a deixar de se boicotar em suas tão variadas formas. Quem se rende à humildade e pode se reconhecer frágil e em constante trabalho de (re)construção. Na prova da vida os obstáculos chegam mesmo quando não treinamos o suficiente, e nessa hora, ser homem ou mulher, macho ou fêmea, não faz diferença alguma.
No hipismo o cavalo é o grande atleta. Os holofotes são sempre deles e não muito dos cavaleiros e amazonas. É ele a força motriz, a grande potência. Na vida também é assim. Quando estamos montando em nosso cavalo – nosso animal, despertos em consciência, firmados em nossa potência, homens e mulheres deixam de ser diferenciados por seu gênero simplesmente porque estão inteiros, compartilhando sua força com o mundo.
Uma mulher não é mais frágil que um homem se estiver montada em seu animal, segura de sua potência. Um homem não é menos sensível do que uma mulher se estiver montado em seu animal, confortável em vivenciar seus sentimentos. Na medida em que nos autoconhecemos e nos tornamos líderes de nós mesmos, fronteiras aparentes como essas deixam de existir. Elas foram construídas pelo medo e se dissolvem na medida em que conhecemos de perto e confiamos em nosso poder e na nossa singularidade.
Por Flávia de Oliveira Ramos/Amazona de si
Crédito da foto: Divulgação
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