Estamos nos aproximando do final do ano e a nossa espécie humana tem o costume ou hábito de fazer avaliações para medir a performance dos indivíduos. Medimos com provas, testes, programas de mensuração de desempenho e etc.
Desde pequenos somos submetidos à corrida para atingir um modelo standard nota 10. Nas empresas repetimos isso com metas e avaliações de desempenho e, com isso, perpetuamos as comparações, competições e disputas entre a nossa própria espécie.
Para qualquer animal que vive neste planeta o segredo está em se adaptar e não em ser o mais forte. Darwin nos explica bem isso. Nossa capacidade de adaptação está diretamente ligada às nossas habilidades.
Você sabe quais são suas verdadeiras habilidades? Tem consciência das suas inabilidades? Tenho a impressão de que ambas aparecem logo cedo, quando ainda somos crianças e cada um, de forma singular, já dá seus primeiros sinais das áreas onde têm facilidade de se desenvolver e nas outras onde a coisa aperta.
A meu ver, é justamente essa singularidade que trazemos conosco a semente do nosso propósito de vida. É ela que nos faz seres humanos únicos tecendo um mundo tão plural; que nos guia na jornada e nos move ao crescimento e desenvolvimento integral.
Mas então, porque insistimos tanto em massificar o conhecimento e cobrar de nossas crianças (e adultos também) que desenvolvam os mesmos potenciais, na mesma idade, da mesma forma? Por que insistimos em dar nota para seus desempenhos?
Isso não só é injusto como ilusório. Nenhum de nós pode responder da mesma forma aos mesmos estímulos. Porém, em nosso sistema educacional (e em nossa sociedade), ainda insistimos em promover um conteúdo pronto, pasteurizado, sem nenhum olhar para o indivíduo.
Somos treinados a nos moldar dentro do que precisa ser, causando, muitas vezes, danos irreversíveis à nossa essência. Somos adestrados e passamos a acreditar que nossas habilidades natas não possuem valor, já que em muitos casos, não se adequam ao exigido. Essa frustração, somada a dor de não ser bom o bastante para responder ao que é pedido, mina qualquer vestígio de autoconfiança e faz com que nos desviemos da rota do coração.
Meu filho mais novo, de apenas 6 anos, está em processo de alfabetização e tem sido lindo vê-lo curioso com este aprendizado. Diferente do processo do meu filho mais velho, hoje com 9 anos, o caçula tem sido respeitado no seu tempo. Não há cobranças e nem julgamentos, há respeito e reconhecimento. Sua curiosidade aflora e sua vontade em aprender cresce.
Para o meu mais velho foi diferente. “Forçado” a alcançar os colegas no processo de alfabetização, com aulas de reforço sugeridas pela escola, sua alfabetização foi uma tortura. Comigo foi assim e igualmente difícil de atravessar. Ao ver meu mais velho passar por isso voltei no tempo, à minha própria dor, frustração e vergonha. Não queria isso para ele, pois sabia o estrago que seria.
Conversei com a escola e pedi respeito ao tempo dele. Deu certo! Ele começou a se desenvolver melhor sem as cobranças e exigências da escola. Com a mudança para a nova escola, onde a singularidade é muito respeitada, seu aprendizado acelerou.
Hoje a lição de casa é feita com prazer, nem preciso lembrá-lo, ele quer fazer pois se apropriou do seu processo de aprendizado, além de ter este compromisso com seu desenvolvimento e com o grupo de colegas da escola. Sua expansão de conhecimento acontece pois ele é respeitado e valorizado como ser singular é.
Não é fácil cuidar das nossas inabilidades, mas extremamente necessário. Acredito que só olhando para elas de frente, com coragem, é possível superar esses sentimentos e aceitar a beleza de quem somos, explorando e conectando ao máximo nossas áreas de talento, acessando nossa real potência, entregando ao mundo algo único e de valor.
No hipismo, como na vida, cada cavalo tem a sua singularidade a ser observada e respeitada, assim como seu tempo de amadurecimento. O cavaleiro, por sua vez, também traz seu pacote de pontos fortes e fracos, talentos e dificuldades, e é ele quem precisa encontrar um jeito de orquestrar esse conjunto. Onde o cavalo ainda não está maduro o suficiente ou apresenta menos habilidade, o cavaleiro assume e vice-versa. Um dá cobertura para o outro e juntos, somam forças.
Esse é um exercício e tanto a ser praticado em nossas relações, pessoais e profissionais. Um casamento precisa seguir essa dança, assim como um líder precisa aprender a orquestrar bem sua equipe. Cada integrante do time tem suas potências que precisam ser bem aproveitadas e suas fragilidades a serem acolhidas. Esse é um encontro de forças e fraquezas, de luz e de sombra e, por isso mesmo, não é uma ciência exata.
Quando as coisas dão certo? Quando existe autoconhecimento, clareza de si próprio e um tanto de humildade. Quando sei onde preciso atuar e quando preciso deixar o outro assumir. Quando não tenho receio de expor minha vulnerabilidade e posso ter compaixão pela nudez alheia. Quando sei quem sou e o medo não me impede mais de seguir em direção ao meu propósito.
Por Flávia de Oliveira Ramos/Amazona de si
Crédito da foto: Divulgação
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