Um prejuízo de 70 sacas por hectares é o que calcula o produtor de café da cidade de Ilicínea, sul de Minas Gerais, Joaquim Ribeiro de Almeida. A lavoura de quase 5 anos de acauã novo não resistiu a falta de chuva, e já não irá produzir nada na safra 2025. “Minha produção é familiar. Em abril, essa mesma lavoura estava ótima e promissora, mas a seca destruiu tudo em poucos meses e agora já não consigo produzir café para o próximo ano. Vou voltar a ter qualidade nesta produção só em 2027”, relatou o cafeicultor.
De acordo com o que mostra o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com exceção do áreas no Triângulo Mineiro e de municípios a sudeste, o estado de Minas Gerais de forma geral tem uma anomalia de precipitação negativa que se estende desde maio e até mesmo desde de abril para algumas localidades. Nos últimos 30 dias, o estado mineiro teve registros de chuvas apenas em municípios do centro-leste, mas com baixos volumes de no máximo 20 milímetros durante todo o mês, e para o extremo sul, onde a precipitação variou entre 30 e 70 milímetros, mas em poucas áreas.
Apesar de ser considerado por muitos especialistas como resiliente, ou seja, possuir grande capacidade de se adaptar às condições que lhe forem impostas, o café está sentindo os efeitos das altas temperaturas registradas nos últimos meses no Brasil. As principais áreas cafeeiras do interior do país (São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo) estão sem chuva significativa há mais de 130 dias.
Ainda não é possível mensurar os prejuízos da safra de 2025, especialmente dado que floradas significativas não foram reportadas, mas a quebra começa a se tornar cada vez mais uma realidade com uma estimativa de até 20% nas futuras peneiras.
O engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, Alysson Fagundes, contou que a Estação Meteorológica da Fazenda Experimental de Varginha -MG está vivendo o pior déficit hídrico para este período da história de 50 anos. “É um déficit hídrico muito precoce. As lavouras novas são mais prejudicadas e já perderam e estão perdendo safra. As lavouras mais velhas estão entrando nesse processo de perda de safra agora, nesse momento”, apontou o engenheiro.
De acordo com Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria, a florada do Robusta/Conilon está bem avançada, porém, há necessidade de chuvas para garantir sua continuidade e resultados futuros. Já a do arábica deve começar nos próximos dias, e a falta das precipitações pode proporcionar um atraso na floração e, até mesmo, um problema de maturação do grão.
Para tentar mitigar os problemas climáticos muitos produtores estão investindo pesado na irrigação, mas seguem vivenciando o estresse hídrico. “Seca continuada é terrível, todo esforço dos últimos anos dos produtores acaba sendo prejudicado, pois a irrigação em si não é suficiente para qualidade da produção do café”, explica Lúcio Dias, cafeicultor e analista de mercado.
Dias destaca ainda que apesar dos cafeicultores estarem mais capitalizados para se defenderem via mercado, e mesmo diante da volatilidade dos preços nas bolsas de Nova York e Londres, o produtor encontra um mercado interno com bons preços para negociação, já que a seca e as altas temperaturas trazem insegurança e seguem pautando a movimentação dos valores dos vencimentos futuros.
“Esperamos que o clima se normalize para que possamos seguir atendendo o mercado que conquistamos com muitas dificuldades durante estes anos”, completou o cafeicultor.
Leia outras notícias no portal Mundo Agro Brasil