Estou bem feliz de compartilhar com vocês que a reportagem de capa da nova edição da revista francesa Profession Fromager, especializada em queijos artesanais, a nº 112, trouxe pela primeira vez um queijo brasileiro.
É o queijo de marajó, nas mão de Cecília Pinheiro, nativa da ilha. De olhos fechados, ela sente o produto nas suas mãos, na porta da casa da fazenda, rodeada de legendas em francês dos assuntos tendências do mundo do queijo europeu…
Queijo na floresta amazônica
Fiz esta reportagem acompanhada de um grupo de 11 franceses da Guilde Internationale des Fromagers por cinco dias na Ilha de Marajó, depois do Mundial do Queijo do Brasil, em abril. Chegando lá, uma surpresa. “Talvez seja graças a vocês que hoje temos búfalos aqui”, disse Carlos Gouveia, produtor nativo, aos franceses da Guilde. “A França enviava regularmente prisioneiros para cumprir penas na Guiana por volta de 1790, com búfalos para alimentá-los. Um barco encalhou na nossa ilha e os búfalos ficaram”, explica ele.
Hoje a ilha tem 200.000 habitantes e 700.000 búfalas, que pastam em campos naturais que nunca foram tratados quimicamente. Adaptaram super bem.
Os franceses fizeram a tradicional cerimônia de acolhimento dos produtores e serviram dez kg de gruyère DOP para a plateia. “Entendemos isso como uma troca, viemos conhecer o queijo deles e trazer algo do velho mundo para eles provarem” disse Roland.
Queijo no caminho do igarapé
Depois de uma hora e meia numa pequena lancha dentro da floresta, nós chegamos na fazenda São Victor. A casa de palafita nos protegeu da chuva que ia começar a cair. No calor equatorial e na umidade que chegava a 95%, almoçamos filé de búfalo com queijo, açaí e farinha e sucos naturais da floresta. A chuva dando aquele espetáculo de tempestade em volta para os gringos.
Queijo de marajó IGP derrete no paladar
O queijo é macio, muito branco, cremoso e derrete na boca, com aromas leitosos e amanteigados, ligeiramente ácidos e salgados, sem casca. “É diferente de tudo que nós já vimos, muito suave”, disse Roland Barthélemy, presidente da Guilde.
O Brasil sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), em novembro de 2025, em Belém (PA), chamando a atenção para o Estado do Pará. O queijo de Marajó bem que poderia surfar na onda e se tornar a primeira denominação de origem brasileira-DOP, pois o Brasil não tem ainda nenhum queijo com esse nobre selo. O microclima, o terroir da Ilha propicia que a produção seja sustentável e muito extensiva.
Horizontes para o queijo
A reportagem do queijo de Marajó inaugurou uma nova seção da revista francesa, “Horizons” (horizontes), onde queijos de outros países serão apresentados, a próxima parada é Menorca, na Espanha. Para mim, que trabalho na revista desde 2012, foi uma vitória pessoal: é a primeira vez que uma produtora brasileira vai para a capa, ainda com a camisa bordada, que é o artesanato típico da ilha. Dentro da revista, Cecília aparece de olhos abertos, olhando o mundo, que espera seu queijo.
Por Estadão
Leia outras notícias no portal Mundo Agro Brasil