A segurança alimentar é um dos principais assuntos na agenda de sustentabilidade e mudanças climáticas. “Temos de identificar maneiras de construir resiliência em segurança alimentar no Sul Global”, resumiu Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, em evento organizado pela empresa em parceria com a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, na Câmara de Comércio Brasil-EUA, na terça-feira (24). O executivo destacou o papel do setor privado, e principalmente das empresas do agronegócio, como protagonistas na transformação da economia.
O encontro, mediado por Jason Weller, diretor de Sustentabilidade da JBS, reuniu investidores, empresários e autoridades para discutir “Feeding the Next Billion: a model to build climate resilient food systems in the Global South”, ou seja, como alimentar o próximo bilhão de pessoas. Como o próprio título sugere, a solução apresentada passa por construir sistemas alimentares mais resistentes.
Se, por um lado, as mudanças climáticas podem impactar a produtividade, por outro, aplicar práticas sustentáveis no campo pode fazer a diferença para enriquecer os solos, prevenir deslizamentos de terra e inundações, garantir maior produtividade e obter vantagens financeiras e redução de custos.
Agricultura regenerativa
Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão Brasil — movimento que visa conectar os agentes da cadeia para melhorar a produção de alimentos no país —, ressaltou que aplicar práticas de agricultura regenerativa é uma proposição ambiciosa, mas o caminho para a solução está traçado e passa por colaboração. “Para soluções complexas, as redes de contatos são primordiais”, disse.
Ela defendeu que é preciso atenção especial aos pequenos produtores. “Os produtores precisam de financiamento e suporte técnico para melhorar a produção e ajudar na ambição de combate à fome e segurança alimentar”, afirmou.
Ana Paula da Silva, produtora rural da Fazenda Cigana em Minas Gerais, contou no evento sua experiência pessoal. “A prática sustentável mudou toda a nossa fazenda”. Ela explicou que faz rotação de culturas com pastagens, milho, gado e batata, o que garante uma disponibilidade de nutrientes no solo bem maior do que antes.
Também usa resíduos agrícolas, como bagaço de cana-de-açúcar, cascas de café e alguns minerais, como fosfato de rocha e gesso para produzir um fertilizante natural. “ Isso reduziu nosso uso de fertilizantes químicos em cerca de 50%”, contou.
A energia também vem de fonte renovável — painéis solares — o que a ajuda a economizar. Os eucaliptos cultivados também são usados para produzir as cercas dos 800 hectares da propriedade, o que garante, segundo ela, que não haja risco de compra em área desmatada e ainda é outra fonte de economia de recursos e custos. “Por esse trabalho, recebemos recentemente um prêmio do Ministro da Agricultura, devido aos nossos números financeiros”, disse.
A dificuldade de escala é um dos principais desafios que a Amaggi, que cultiva soja, processa e comercializa, enfrenta no Brasil. “Para atingirmos a neutralidade de carbono até 2050, um dos maiores desafios é como produzir de forma mais sustentável com uma produção de baixo carbono. E a agricultura regenerativa se tornou um dos aspectos-chave para isso”, afirmou Juliana de Lavor, diretora de Sustentabilidade da Amaggi, no evento.
Segundo ela, a questão mais latente é a mudança de mentalidade, especialmente dos pequenos produtores. A empresa começou o projeto-piloto de agricultura regenerativa há cinco anos nas fazendas próprias. O que começou com 100 hectares, foi crescendo, primeiro para 1.000, depois 10.000, e agora está em todas as fazendas.
Desafios
Contudo, os desafios são múltiplos. “Na primeira safra que temos, normalmente soja, produzimos uma área equivalente à da cidade de São Paulo, que é grande. Mas essa área de produção representa apenas 5% do volume que comercializamos a cada ano. Portanto, 95% do volume vem de produtores, mais de 6.000 a cada ano, com os quais nos abastecemos”, disse.
A mudança de mentalidade dos produtores é uma barreira. “Como eu vou fazer o produtor entender que, ao usar fertilizante natural, ele vai ver a plantação dele morrendo, mas precisa acreditar que em alguns dias vai ser protegida”, questionou.
Entre outras ações, a Amaggi utiliza energia renovável em toda a operação e conseguiu reduzir a pegada de carbono da frota. “Temos a maior frota fluvial de grãos do Brasil e a maior frota de caminhões de biodiesel, 100%. Na agricultura, temos 100 caminhões utilizando 100% de biodiesel produzido por nós mesmos. É quase um ciclo fechado”, afirmou Lavor.
No evento, Cristine Morgan, diretora Científica do Soil Health Institute, ressaltou os benefícios da agricultura regenerativa. Entre eles, a maior concentração de minerais no solo, que ajuda no aumento de produtividade, a diminuição da degradação do solo, a “blindagem” contra o impacto de chuvas e secas, além da própria fixação maior de carbono.
Segundo ela, estudos apontam que a captura de carbono pode ser 10% superior em áreas com agricultura regenerativa e práticas sustentáveis, porque a prática favorece o desenvolvimento das plantas.
“O mais importante é a adaptação às mudanças climáticas”, defendeu, ao contar sua experiência no Texas, onde morou por muitos anos e lecionou ciência do solo na Texas A&M University.
“Precisamos que nossos solos sejam resilientes a esses tipos de eventos climáticos extremos, que nossos solos ajudem nossas plantas, que eles forneçam água durante secas e que nos ajudem a fornecer nutrientes, carbono e água em nossos sistemas de solo. Portanto, precisamos que os solos permaneçam no lugar”, disse Morgan.
Por Globo Rural
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