Search
Close this search box.

Agronegócio tenta reduzir suas obrigações em projeto de mudanças climáticas

5 de março de 2024

Proposta original exigia adaptação do setor por meio de um plano para redução de emissão de carbono, mas redação foi alterada
Compartilhe no WhatsApp
Agronegócio tenta reduzir suas obrigações em projeto de mudanças climáticas
As cadeias produtivas que compõem o agronegócio respondem por um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e por quase 50% das exportações

A bancada ruralista articula para reduzir as obrigações do agronegócio em mais um projeto de lei em tramitação no Congresso. Desta vez, em uma proposta que estabelece orientações a serem seguidas pelo poder público na elaboração de planos de adaptação do país às mudanças climáticas.

O texto, relatado pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE), foi aprovado na CMA (Comissão de Meio Ambiente) do Senado na última quarta-feira (28).

A iniciativa agora está pronta para ir ao plenário da Casa, mas a bancada ruralista apresentou um requerimento para que o projeto seja antes apreciado pela Comissão de Agricultura (CRA), na qual o grupo tem ampla maioria.

Na comissão ambiental, que também tem boa parte de seus parlamentares ligados ao setor, a bancada já conseguiu emplacar uma emenda para reduzir as responsabilidades do agro.

O projeto original exigia a adaptação do setor agropecuário por meio de um plano para redução de emissão de carbono. Após pedido do senador Zequinha Marinho (PL-PA), a redação foi alterada.

A exigência foi retirada e o texto passou a prever, genericamente, que haverá um “estímulo” (ligado a investimentos em pesquisa e desenvolvimento, por exemplo) para que o setor corte suas emissões. A nova versão não especifica se o estímulo inclui recursos públicos.

Sob reserva, parlamentares veem um movimento semelhante ao que aconteceu no projeto de crédito de carbono, quando o agronegócio conseguiu se livrar das obrigatoriedades de redução de emissões após pressão da bancada ruralista.

Marinho também queria que o projeto de adaptação às mudanças climáticas criasse a previsão de “pagamento por serviços ambientais e ecossistêmicos” para o agronegócio, mas esse trecho não foi aceito pelo relator.

Vieira considera que as mudanças feitas no texto até agora possibilitaram o avanço na Comissão de Meio Ambiente sem que o mérito fosse prejudicado, e que a tramitação pela Comissão de Agricultura faz sentido caso os senadores entendam que o projeto precisa ser mais amplamente debatido.

“Um eventual requerimento de remessa do plenário para a Comissão de Agricultura me parece razoável caso a gente não consiga esclarecer ao plenário sobre o que é o projeto. É uma proposta que cuida da adaptação, da proteção de cidades e pessoas, e do meio ambiente. O que pedimos é que uma eventual tramitação tenha prazo, uma razoabilidade de duração”, diz.

“A gente tem que compreender que são mudanças que estão sendo implantadas, uma tomada de consciência que é crescente na sociedade e em particular nos setores econômicos mais vinculados ao agro”, completa, sobre a resistência do setor à pauta.

O senador Zequinha Marinho foi procurado, mas não tivemos  resposta até a publicação deste texto.

Alexandre Prado, líder da área de mudanças climáticas da organização ambiental WWF, lembra que um dos principais desafios do país é reduzir as emissões ligadas ao uso da terra, e que as mudanças climáticas já impactam até mesmo o próprio agronegócio.

Ainda assim, ele avalia que as alterações não chegam a invalidar o cerne do projeto, que ele vê como de fundamental importância para o combate aos efeitos do aquecimento global. “Não faria disso um cavalo de batalha. Esse projeto, se for para votação, está de bom tamanho”, analisa.

Ele diz que o Brasil está entre os dez países mais potencialmente impactados pelos efeitos do aquecimento global e vê a proposta como a criadora das condições necessárias para que, após sua aprovação, cada um dos setores econômicos possa regulamentar suas ações específicas para a adaptação às mudanças climáticas.

A proposta em discussão estabelece diretrizes para os planos de adaptação às mudanças climáticas previstos pela Política Nacional sobre Mudança do Clima – criada por uma lei de 2009. De acordo com o texto, os documentos devem passar pelo Sisnama (o Sistema Nacional de Meio Ambiente), que inclui órgãos como o Ibama e ICMBio.

A proposta é que os planos contemplem as esferas nacional, estadual e municipal. O texto em discussão prevê ainda que eles podem ser financiados com recursos do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, criado em 2009 e administrado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). (João Gabriel/FolhaPress)

De O tempo

Leia outras notícias no portal Mundo Agro Brasil

Relacionadas

Veja também

Sanção do projeto Combustível do Futuro aconteceu nessa terça-feira (8), em Brasília.
Produtores rurais, em busca de apoio para superar as dificuldades, se deparam com um decreto injusto que gera preocupação e coloca em risco o setor com a possibilidade de danos irreparáveis
O valor disponibilizado pelo Governo Federal será distribuído por diversos setores em função do estado de calamidade