Há dez anos, quando foi fundada, a Liga do Araguaia já demonstrava preocupação com as questões de emissão e balanço de carbono que podem ser mitigadas pela pecuária a pasto no Brasil. Em 2024, os pecuaristas que compõem a Liga, dão um passo importante nessa trajetória com um projeto que considera não apenas a conservação ou restauração de vegetação — a forma mais comum de geração de créditos de carbono atualmente — mas, também, a produção em si, diretamente relacionada ao solo.
Isso será possível por meio de técnicas de conservação do solo, manejo de bovinos, intensificação pecuária e uso de insumos biológicos, entre outras práticas, que garantirão a conservação e o sequestro de carbono, transformando esses benefícios em créditos no mercado voluntário global. Além disso, espera-se um aumento na produtividade e uma renda extra proveniente dos créditos.
Este projeto conta com a metodologia da Verra, a principal certificadora global vinculada a projetos de carbono, que realiza auditoria independente. A base será a normativa VM0042 da Verra, amplamente reconhecida, que estabelece como esses créditos podem ser medidos e comercializados. O desenvolvimento do projeto está a cargo da Ambipar (antiga Biofílica), empresa responsável pela implementação da documentação e do monitoramento necessários. Além disso, um parceiro financiador apoiará o projeto por meio do Instituto Agroambiental do Vale do Araguaia, o braço administrativo da Liga do Araguaia.
Implantação e expectativas
Braz Peres Neto, presidente da Liga do Araguaia, explica que o projeto é de longo prazo e será desenvolvido em várias etapas. “Estamos na fase de assinatura do contrato entre todas as partes. O projeto terá uma duração de 50 anos, sendo que os 20 primeiros anos serão dedicados à geração de créditos.” Ele enfatiza que “além do ganho financeiro, haverá um estímulo à adoção de práticas sustentáveis de forma mais rápida”.
No dia a dia, o projeto começará em cada propriedade a partir de uma “linha de base”. Isso significa que as condições encontradas dentro dos critérios analisados naquele momento serão consideradas o “marco zero”. As melhorias implementadas a partir desse ponto, que forem avaliadas ao longo do tempo e que efetivamente contribuírem para mitigar ou evitar a liberação de gases de efeito estufa poderão ser convertidas em créditos de carbono.
“Para a Liga do Araguaia, esse projeto é motivo de grande alegria, pois desde o início nos interessamos por esse tema e percebemos que havia espaço para a consolidação desse mercado. Acreditamos que o setor deve avançar na remuneração das fazendas pelos seus ativos e pela prestação de serviços ambientais”, destaca Braz.
A Liga do Araguaia vem estudando essa questão há bastante tempo. O primeiro projeto do grupo, intitulado Carbono do Araguaia, foi lançado em 2014, envolvendo diversas entidades e ajudando a formatar, de forma mais madura, o projeto atual. Agora, com a norma VM0042 da Verra, inicia uma nova etapa que estabelece como esses créditos podem ser medidos e comercializados.
O projeto
No seu lançamento, o projeto já contou com a intenção de 15 produtores interessados, mas a projeção da Liga do Araguaia é expandir para 30 fazendas. “Nossa meta mínima é atingir 100 mil hectares de área útil, mas o projeto pode começar com menos, mas há potencial para 300 mil hectares, pelo menos. Haverá um processo de aprendizado, implementação de controles e maturação gerencial”, observa Braz. Ao final de 30 anos, com a expectativa de gerar pelo menos 100 mil toneladas de carbono equivalente por ano, espera-se alcançar um total de 3 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Os créditos serão gerados a cada três a cinco anos, pois é necessário um intervalo para mensurar a variação do estoque de carbono no solo. “Se conseguirmos registrar o projeto no ano que vem, a primeira emissão ocorrerá em até três anos, mas isso não impede a realização de vendas antecipadas parciais”.
No mercado de créditos de carbono, é relativamente comum que agentes financeiros tenham interesse em adquirir créditos antecipadamente. “O próprio financiador do projeto desempenhará parte dessa função, pois financiará algumas atividades em troca de um percentual dos créditos futuros”, conclui.
Além dos produtores já participantes da consolidada Liga do Araguaia, no Mato Grosso, também se uniram produtores de Goiás – Instituto Agroambiental do Vale do Araguaia (IAVA), formando um novo grupo que segue os passos do movimento já estabelecido e ampliando a filosofia sustentável e resultados práticos.
Sobre a Liga do Araguaia
O anúncio do projeto ocorreu no dia 17 de agosto, durante o 15º Dia de Campo da Liga do Araguaia, em Cocalinho (MT), com oferecimento da Morada Comum, OCP Brasil, Ambipar Environment. Para integrar a Liga do Araguaia, as fazendas devem participar de pelo menos um de seus projetos. Atualmente, a Liga conta com 73 fazendas que, juntas, totalizam 390 mil hectares e um rebanho de aproximadamente 140 mil cabeças de gado.
A Liga do Araguaia é um movimento que reúne produtores rurais e parceiros para promover o desenvolvimento econômico e social da região, respeitando a legislação ambiental e o Código Florestal. Seus pilares são produtividade, conservação, redução de emissões e turismo agroambiental. Saiba mais em www.ligadoaraguaia.com.br
Mais detalhes sobre a normativa podem ser encontrados no link VM0042 Improved Agricultural Land Management, v2.1 – Verra
Por Flag Comunica
Leia outras notícias no portal Mundo Agro Brasil