Lançamento do Laboratório de Fermentação Ruminal e Nutrição de Bovinos de Corte do IZ

2 de agosto de 2021

Em entrevista ao Portal MAB, a zootecnista e pesquisadora Renata Branco, com especialização na área de Nutrição de Ruminantes, explica a atuação do laboratório de análises e pesquisas junto à cadeia produtiva
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Lançamento do Laboratório de Fermentação Ruminal e Nutrição de Bovinos de Corte do IZ
Foto – Divulgação

A zootecnista Renata Branco é a responsável pelo Laboratório de Fermentação Ruminal e Nutrição de Bovinos de Corte, que faz parte do Instituto de Zootecnia – IZ. Em entrevista exclusiva ao Portal MAB, a profissional, com formação na área de Nutrição de Ruminantes, nos conta como e por quais razões o laboratório foi criado e como atua junto ao centro de pesquisa avançada em bovinos de corte.

“O objetivo do laboratório é entender e aumentar a eficiência de utilização de alimentos, seja pela inserção de novas moléculas no mercado, por blends com moléculas resistentes ou por dietas. Buscamos diminuir as emissões entéricas de metano e otimizar a fermentação ruminal, aumentando a produção de ácidos graxos, síntese de proteína microbiana, dentre outras coisas”, explica a pesquisadora.

Renata Branco é formada em Zootecnia pela UNESP de Botucatu/SP, em 1996. Realizou mestrado e doutorado na Universidade Federal de Viçosa/MG, na área de Nutrição de Ruminantes. E afirma que sempre quis trabalhar nessa área. “Cresci no meio rural. Aos finais de semana ia com meus avós para a fazenda e amava o contato com os animais. Quando comecei a cursar Zootecnia, realmente vi que realmente era minha paixão.”

MAB – Como e quando surgiu a ideia desse laboratório no IZ?

Renata Branco – O laboratório surgiu quando estávamos escrevendo um Plano de Desenvolvimento Institucional do Instituto de Zootecnia – IZ para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, em 2017, quando eu era Diretora do Instituto de Zootecnia – IZ. Com minha formação na área de Nutrição de Ruminantes, trabalhei nisso desde que entrei no IZ, focado para o Programa de Melhoramento Genético.

Para mim, faltava alguma coisa relacionado à cadeia produtiva, para otimizar a produção animal, a dieta de confinamento em substituição aos aditivos que tínhamos no mercado até hoje, e também a proibição de monensina. Então, quis entender um pouco mais o que acontecia no ambiente ruminal e fui atrás do que tinha de novo dentro desta área.

Após isso, levei isso ao nosso laboratório, onde existe a produção de gases e conseguimos medir a produção de metano, CO2, N2O, que é produzido através da fermentação ruminal. Conseguimos entender e medir também a parte de ácidos graxos de cadeia curta através da fermentação ruminal, tudo isso InVitro. Por fim, eu queria entender mais como tudo isso funcionava dentro do ambiente ruminal, qual era o potencial do alimento em promover isso.

MAB – Vocês receberam incentivos para desenvolver esse trabalho?

RB – Sim, quando começamos a desenvolver o trabalho, realizamos um pedido grande à FAPESP, de aproximadamente quinze milhões de reais, com bolsas e projetos auxiliares, além de um projeto chamado de Jovem Pesquisador. Meu objetivo era que esse Jovem Pesquisador pudesse me auxiliar, pois dentro do IZ, sou a única pesquisadora que trabalha nesta área, com muita demanda de tempo. Aprovado o referido projeto, hoje conto com auxílio do Dr. Eduardo Marostegan de Paula, que trabalha diretamente comigo. Anteriormente, o Dr. Eduardo trabalhou nos EUA, e assim trouxemos esta temática para o Brasil.

MAB – Qual é a principal meta do laboratório?

RB – O objetivo do laboratório é entender e aumentar a eficiência de utilização de alimentos, seja pela inserção de novas moléculas no mercado, por blends com moléculas resistentes ou por dietas. Buscamos diminuir as emissões entéricas de metano e otimizar a fermentação ruminal, aumentando a produção de ácidos graxos, síntese de proteína microbiana, dentre outras coisas.

“Quando se entende quais são os padrões de fermentação de cada alimento, nutriente, aditivo, torna-se mais fácil de realizar uma dieta que otimize a fermentação, que diminua os drenos e as emissões de metano”

 MAB – Quantos laboratórios técnicos estão ligados ao IZ hoje?

RB – Hoje, o Instituto de Zootecnia – IZ, nos diferentes centros de pesquisa, conta com seis unidades laboratoriais de referência. Porém, nosso laboratório não é uma unidade de referência, é um laboratório recente e de pesquisa, onde são realizadas diversas pesquisas junto com a cadeia produtiva e a iniciativa privada.

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Renata Branco, zootecnista e responsável pelo Laboratório de Fermentação Ruminal e Nutrição de Bovinos de Corte, que faz parte do Instituto de Zootecnia – IZ. Foto – Divulgação

MAB – Comente sobre a importância da temática ‘Fermentação Ruminal e Nutrição’

RB – Fermentação ruminal é o mais importante, pois alimentamos as bactérias que estão no rúmen e não os animais. Tudo que o animal absorve ou sua maior parte de fonte energética, vem da produção da fermentação ruminal, seja pelos ácidos graxos de cadeia curta, uma grande parte de proteína (cerca de 60% do que o animal absorve de proteína, dependendo da dieta, vem da síntese de proteína microbiana), e também o dreno de hidrogênio, que é o metano, vem da fermentação ruminal. Então, a fermentação ruminal para mim, é uma das coisas mais importantes a serem estudadas em nutrição de ruminantes. Quando se entende quais são os padrões de fermentação de cada alimento, nutriente, aditivo, torna-se mais fácil de realizar uma dieta que otimize a fermentação, que diminua os drenos e as emissões de metano. A fermentação ruminal está ligada intimamente a isso.

MAB – De que forma esse trabalho auxilia o pecuarista e o setor como um todo?

RB – O laboratório é ligado ao centro avançado de pesquisas em bovino de corte. Atua juntamente e faz parte do IZ, onde sou a responsável. Lá, realizamos pesquisas junto a outros colegas que tenham demanda de análise. Focamos o laboratório junto às nossas pesquisas, seja com agência de fomento ou iniciativa privada, trabalhando todos os dias da semana, muitas vezes até vinte e quatro horas por dia.

MAB – Comente sobre a importância no avanço de pesquisas na agropecuária, especialmente aqueles ligados à nutrição, manejo, saúde, ciência e tecnologia

RB – O avanço que tivemos nas pesquisas nos últimos trinta ou quarenta anos é de extrema importância. Sou formada há vinte e cinco anos, na minha época, não existia essa quantidade de pesquisa como de hoje e atividades junto a isso. Nós só somos grandes produtores de produtos de origem animal e vegetal porque existem pesquisas. Sem isso, o Brasil não seria o que é hoje, nesta área. Ainda existem muitas coisas para ser estudadas e avaliadas, principalmente a nutrição, manejo, sanidade, pois ainda seguimos alguns modelos de fora do país. Porém, nossos produtos são diferentes, nosso clima e raças são diferentes. Portanto, precisa-se investir mais na área da pesquisa, onde contamos com excelentes pesquisadores no país.

MAB – Gostaria de destacar outros pontos relevantes sobre a pecuária de corte no Brasil?

RB – Acredito que vários pontos necessitem ser trabalhados, como a parte de manejo, bem-estar animal, qualidade de carne, como conseguimos atingir a qualidade do produto, além da parte de programação fetal – fêmeas merecem destaque na cadeia produtiva, pois não são menos exigentes que machos e não podem ser tratadas como são até hoje. Atualmente discute-se sobre emissão ode metano, e é necessário entender mais sobre a cadeia como um todo, seja com forragens de melhor qualidade, pastagens melhores, dietas mais balanceadas, assim conseguiremos diminuir emissões de metano e aumentar a produtividade do sistema. Não se deve esquecer também de reprodução animal, uma questão de muita relevância.

Fonte: Redação Agrovenki
Foto: Divulgação

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