O estímulo a iniciativas de aumento de produtividade no campo, o desenvolvimento de modelos inovadores de crédito e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) são os elementos-chave para o combate à fome no mundo e a expansão da agricultura sustentável, segundo a avaliação dos líderes de algumas das principais empresas globais de alimentos e insumos agrícolas.
A análise dos executivos compõe um relatório com recomendações aos governos dos países do G20, o grupo em que estão as 19 maiores economias do planeta e a União Europeia.
O documento é o resultado das discussões entre as empresas que ocorreram na força-tarefa de sistemas alimentares e agricultura sustentável do B20, o fórum empresarial dos membros do G20. A coordenação dos diferentes fóruns temáticos e setoriais estará a cargo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) até 30 de novembro, quando vai se encerrar o “mandato” do Brasil na presidência do grupo de países.
Sob a coordenação da CNI, a força-tarefa de sistemas alimentares voltou à agenda do B20, da qual o tema estava ausente desde 2018. Gilberto Tomazoni, o principal executivo global da JBS, encabeçou a força-tarefa, da qual também fazem parte Agnes Kalibata (da indiana Agra) Greg Heckman (Bunge), Livio Tedeschi (Basf e CropLife), Lyu Jun (Cofco), Miguel Gularte (BRF), Pelerson Dalla Vechia (Grupo Roncador), Rodrigo Santos (Bayer Crop Science), Ramon Laguarta (PepsiCo), Sanjiv Puri (ITC Limited), Sulaiman Al-Rumaih (do fundo saudita Salic), todos presidentes executivos de suas respectivas empresas. Também compõem o grupo Marcela Rocha e Jason Weller, diretora executiva de assuntos corporativos e diretor global de sustentabilidade da JBS, respectivamente, e a consultoria Bain & Company deu apoio aos trabalhos.
“Como se trata de um esforço global, a força-tarefa tinha que ter pessoas do mundo inteiro”, afirma Tomazoni à reportagem. “A conclusão [das discussões] não podia levar em conta apenas a realidade brasileira. Ela tinha que ser global”.
A primeira das três recomendações da força-tarefa — apoiar o aumento de produtividade no campo — é virtualmente um consenso nos debates sobre como elevar a oferta de comida para alimentar a crescente população do planeta sem que isso seja necessariamente um vetor de abertura de novas áreas de cultivo. No documento, o grupo sugere ações como o fomento a pesquisa e desenvolvimento, investimento em redes de extensão, em capital humano e em plataformas digitais e melhoria da infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação.
Tomazoni conta que a segunda recomendação — desenvolvimento de modelos de financiamento inovadores — ganhou corpo a partir de reuniões entre a força-tarefa e representantes dos ministérios da Agricultura e da Pesca, que ocorreram em maio.
Nessa frente, diz o executivo, tão importante quanto melhorar o acesso ao crédito é oferecer conhecimento e assistência técnica. Esse cuidado, argumenta, ajudaria a evitar decisões equivocadas na aplicação dos recursos.
Já o “inovador” que compõe a recomendação faz referência a problemas muito comuns no financiamento ao campo, como as restrições que os produtores enfrentam para acessar o crédito e os desafios de se financiar a adoção de modelos de produção mais sustentável, que muitas vezes demoram a dar resultado. “Para adotar um sistema de agricultura regenerativa, o produtor vai ficar com fluxo de caixa negativo. Precisamos diminuir o risco dos produtores”, afirma Tomazoni.
A força-tarefa recomenda ainda o fortalecimento do sistema de comércio agrícola multilateral. A OMC, que perdeu o protagonismo nos últimos anos, centralizaria esses esforços, poderia atuar, por exemplo, para harmonizar as regulações sobre iniciativas sustentáveis e definir práticas regulatórias com base científica.
“Um terço da população mundial sofre com insegurança alimentar. São 2 bilhões, 3 bilhões de pessoas. Estamos discutindo a melhoria do comércio como uma solução para a questão da fome”, diz o executivo.
O B20 Brasil tem sete forças-tarefa e um conselho de ação. As sugestões desses diferentes grupos de trabalho vão integrar a proposta de pauta do setor privado para a Cúpula de Líderes do G20, que está agendada para os dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
Por Globo Rural
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