EMBRAPA NO ESPAÇO: O Voo das mulheres e a inovação agronômica

24 de abril de 2025

As pesquisas em agricultura espacial têm o potencial de acelerar o melhoramento genético e trazer inovações para a agricultura na Terra
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EMBRAPA NO ESPAÇO: O Voo das mulheres e a inovação agronômica
Imagem ilustrativa: META IA por sugestão da redação do site

Mais do que uma equipe excepcional composta inteiramente por mulheres, o recente voo suborbital da Blue Origin, realizado na segunda-feira, 14 de abril, transportou um valioso material: sementes de batata-doce das cultivares Beauregard e Covington, além de grão-de-bico BRS Aleppo, desenvolvido por cientistas brasileiros da Embrapa.

Esta pesquisa, focada nas duas espécies sob condições espaciais, faz parte da Rede Space Farming Brazil, uma colaboração entre a Embrapa e a Agência Espacial Brasileira (AEB), que reúne as principais investigações no Brasil sobre a produção de alimentos em ambientes extraterrestres, caracterizados por elevada radiação e baixa gravidade. A inclusão das sementes brasileiras se deu por meio de um convite da Winston-Salem State University (WSSU), localizada na Carolina do Norte, EUA.

A astronauta Aisha Bowe, ex-cientista de foguetes da WSSU, será responsável pelos experimentos com as sementes brasileiras, em colaboração com a Odyssey, uma empresa que facilita operações e ciências espaciais da universidade.

A escolha da batata-doce e do grão-de-bico se justifica por suas vantagens agronômicas e nutricionais, levando em conta os desafios de cultivar plantas no espaço. Ambas as espécies se destacam pela adaptabilidade e resiliência, apresentando rápido crescimento e facilidade de manejo, mesmo em condições adversas e com recursos limitados.

Considerada uma aliada na dieta dos astronautas, a batata-doce fornece carboidratos de baixo índice glicêmico, e suas folhas são uma alternativa de proteína vegetal. A engenheira-agrônoma Larissa Vendrame, da Embrapa Hortaliças, ressalta que as raízes da batata-doce contêm compostos bioativos que atuam como antioxidantes essenciais, especialmente em ambientes expostos à radiação, como na Lua, Marte ou na Estação Espacial Internacional.

As cultivares de batata-doce que serão analisadas – Covington e Beauregard – possuem polpa alaranjada, rica em betacaroteno, um precursor da pró-vitamina A, benéfico para a saúde ocular e da pele.

Conhecido por seu alto valor nutricional, o grão-de-bico, frequentemente chamado de “grão da felicidade”, foi escolhido pela cultivar BRS Aleppo, que se adapta bem às condições do espaço. O pesquisador da Embrapa, Fábio Suinaga, explica que a missão visa desenvolver plantas mais produtivas, com porte adequado às limitações do ambiente espacial.

“Explorar o espaço é semear o futuro da agricultura: inovações que podem transformar a produção alimentar na Terra e garantir a segurança nutricional dos astronautas.”

O cultivo no espaço demanda o desenvolvimento de sistemas sem solo ou utilizando regolito lunar e marciano, além de cultivares selecionadas para a escassez de água e nutrientes. Segundo Vendrame, esses desafios são também relevantes para a agricultura da batata-doce no Brasil. “Uma equipe multidisciplinar da Rede de Agricultura Espacial Brasileira está empenhada em obter novas cultivares com as características desejadas de maneira mais eficiente e inovadora”, conclui.

As pesquisas em agricultura espacial têm o potencial de acelerar o melhoramento genético e trazer inovações para a agricultura na Terra, especialmente diante das mudanças climáticas, além de gerar impactantes spin-offs que poderão avançar o conhecimento agronômico e as tecnologias no Brasil.

“Muitos são os exemplos de soluções espaciais que tiveram aplicações no cotidiano das pessoas. A NASA já publicou mais de duas mil dessas tecnologias que são utilizadas no nosso dia a dia, como telas de celulares, ferramentas sem fio, termômetros com infravermelho, comida desidratada, etc. Da mesma forma, podemos avançar muito em tecnologias modernas para auxílio na agricultura brasileira, usando inteligência artificial na irrigação, melhoria e adequação de plantas em cultivo indoor, novas cultivares mais tolerantes à seca, mais eficientes no uso da energia ou mais adaptadas aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, mais produtivas e mais nutritivas”, destacou a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Alessandra Fávero, que coordena a Rede Space Farming Brazil. A idealização do experimento foi feita por pesquisadores de diversas instituições participantes da rede. No retorno das amostras ao Brasil, cientistas da rede se juntarão para avaliar o material recebido.
Uma imagem contendo no interior, mesa, comida, homemO conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.
Esta pesquisa, focada nas duas espécies sob condições espaciais, faz parte da Rede Space Farming Brazil (Foto: Embrapa) A rede de agricultura espacial brasileira A rede Space Farming Brazil foi criada para inovar na produção de alimentos em ambientes fora da Terra. Este grupo de cientistas está trabalhando no desenvolvimento de sistemas de produção adaptáveis ao espaço, buscando soluções para desafios complexos, garantindo a produção de alimentos em condições de elevada radiação, baixa gravidade e ausência de solo. Em novembro de 2023, foi firmado um protocolo de intenções entre a Embrapa e a Agência Espacial Brasileira (AEB) em prol da participação do País no Programa Artemis, da Nasa, que reúne projetos de colaboração internacional. Desde então, a Embrapa atua como provedora de dados, tecnologias e produtos que serão usados tanto no espaço quanto no dia a dia da sociedade brasileira, gerando novas oportunidades para superar desafios como o das mudanças climáticas, novas formas de produção e cultivares adaptadas a condições extremas e a novos mercados. Atualmente, a Rede é composta por 56 pesquisadores de 22 instituições diferentes: Agência Espacial Brasileira, Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo, Embrapa, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, Instituto Agronômico de Campinas, Instituto de Estudos Avançados, Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Instituto de Química da Universidade de São Paulo, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Florida Tech University, Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos, Universidade da Flórida, Universidade de Newcastle, Universidade Federal do ABC, Universidade Federal de Lavras, Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal de São Carlos, Universidade Federal de Santa Maria, Universidade Federal de Viçosa e Winston Salem State University. Fonte: Embrapa Hortaliças

Por Cerrado Rural Agronegócios

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