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A vida não é como a gente quer, mas como tem que ser, e isso pode ser bom! 

Nesta coluna, Veri Real vai traçando mais um aspecto de sua personalidade e demonstra que o autoconhecimento é extremamente útil quando o assunto é equilibrar mente, corpo e vontade. “Depois de um novo procedimento médico, percebi que tudo na vida é temporário, menos a vontade, e o ato de insistir, usando aquele momento como ‘trampolim’ para ir em frente”.
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A vida não é como a gente quer, mas como tem que ser, e isso pode ser bom! 

A escola trazia um pouco de dificuldade para mim no raciocínio abstrato. Nunca fui uma das primeiras alunas da turma, me esforçava o máximo, mas precisava de reforço escolar para seguir adiante. Mas, e daí? Tanta gente precisa de ajuda em outras atividades, e para se chegar a um objetivo os meios não importam.

Tive muita sorte porque estudei com a mesma turma desde o jardim da infância, o que ficava mais fácil para uma convivência. Minha mãe nunca me tratou diferente de minha outra irmã e realmente nunca tive essa visão. Acho muito chato quando você tem algum tipo de limitação e fica se fazendo de vítima.

Na verdade, todos nós temos alguma limitação em alguma parte de nós, só não acho certo que a pessoa queira se valer disso. Tive uma formação bem dirigida nesse sentido e assim nunca me senti diferente de ninguém. 

Algumas vezes eu caí sim, mas isso acontece com todo mundo e, tenho que dizer que não curtia muito quando as pessoas vinham me ajudar. Não era por orgulho não, mas gostava de me reerguer e tocar para frente.

Conforme fui crescendo, as minhas pernas. Infelizmente, começaram a ficar cada vez mais tortas. Por mais que não quiséssemos enxergar, essa condição começou a me afetar bastante. Fomos a São Paulo para ver se existia alguma maneira da espasticidade ficar um pouco menos significativa. Meu médico era uma pessoa especial demais. Todos os processos cirúrgicos foram realizados por ele. Devo muito a ele, Dr. Roberto Atílio Santin (in memorian), que ele foi mais do que um pai para mim.

Assim, conversando com meu médico, ele teve a ideia de fazer uma infiltração de botox para ver como seria a reação de meu corpo a esse procedimento. Minha irmã mais velha, a Fernanda, já era formada em fisioterapia e concordou com a ideia. Partimos então para a realização de mais uma tentativa.  

Eu estava com um pouco de medo, pois já estava, a essa altura, com 13 anos e bem consciente, mas graças a Deus, o médico permitiu a entrada dela no centro cirúrgico, e isso, é claro, me deu um grande conforto. Entrei no hospital alemão Osvaldo Cruz e sai no mesmo dia. 

Depois de uns dois dias eu nem acreditava! Parecia um grande milagre, porque eu conseguia encostar meu calcanhar no chão pela primeira vez. Minhas pernas ficaram esticadas também. Era incrível, um milagre da ciência. Fiquei um pouco dolorida, no entanto, perto da felicidade que sentia, isso não era nada.

Foi um dos meses mais felizes de muito tempo na minha vida; viver sem ter a espasticidade, me sentir alongada, andar sem sentir o peso das pernas. Consegui até dançar, trocar pacinhos…  ah! que novidade boa.

Mas, como tudo que é bom dura pouco, devido à camada muscular ser muito grande, essa aplicação só durou um mês. Eu comecei a sentir as mesmas câimbras, o mesmo peso e limitações. Um balde de água fria. Mas, fazer o quê? A vida não é como a gente quer e sim como tem que ser.  

O interessante, e que gosto sempre de compartilhar, é que minha mãe colocou uma coisa na cabeça: “Nós íamos até o fim para chegarmos a uma melhora significativa para o meu quadro”. Essa insistência é o que sempre fez toda a diferença. 

Aproveitei muito essa fase com meu amigo cavalo  

Se os efeitos são temporários, nada melhor do que aproveitá-los ao máximo. Costumo brincar com aquele ditado que diz “Se a vida te dá um limão, faça uma limonada”. Divirta-se espremendo o limão e ainda se refrescando.

Junto da alegria de sentir minhas pernas alongadas, arrisquei algo diferente nos treinamentos diários com meu cavalo, o meu terapeuta sempre de plantão. Isso porque, após essa intervenção, até o montar ficou mais completo, pois sem a presença da espasticidade eu conseguia colocar o pé no estribo e passar a perna por cima do lombo do cavalo, alcançando o outro lado. Coisa que quando o botox terminou nunca mais consegui.  

Minha mãe, a partir daí, passou a me montar e passava a minha perna para o outro lado. Com essa idade eu já arriscava muitas manobras sozinha, respaldada pelos ensinamentos que já tinha adquirido. E também porque já tinha autonomia suficiente para passeios pela fazenda sozinha. Realmente era a independência total, uma liberdade indescritível, adquirida pelas patas do meu melhor amigo. E assim comecei com essa idade a fazer pesquisas sobre provas equestres. 

PoVeri Real
Facebook: @paraatletaveri  | Instagram: @paratletaverireal | Site: http://paratletaverireal.com.br/

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