Tive a sorte de nascer em uma família que ama esportes equestres. Esse contato com os cavalos foi então proporcionado a mim desde bebê. Sim é verdade! Aprendi a cavalgar antes mesmo de andar e o destino estava selado para sempre. Acompanhava minha mãe, Andrea, em provas de Hipismo e assim todo esse mundo equestre foi me envolvendo. Após meu período de reabilitação e da participação na prova de marcha, comecei a acompanhar minha mãe em seus treinos de Três Tambores.
Foi então que um ‘bichinho’ começou a me despertar a atenção para esse esporte. A partir desse dia, comecei a procurar tudo o que podia pela internet para ficar por dentro desse mundo, mas foi depois que participei de um curso, como ouvinte, na Fazenda Nossa Senhora de Lourdes, com a renomada Joyce Loomis, que eu não tirei mais isso da cabeça. Tive a certeza de que a minha vida estava começando no mundo do esporte. Nessa época, morava em um sítio e minha mãe resolveu fazer uma pista para treinar cavalos para esse tipo de modalidade.
Então, como acredito que Deus coloca tudo em nossas vidas, numa noite, com a chegada de alguns animais adquiridos para comércio, havia um que nos chamou a atenção devido o estado de desnutrição que se encontrava.
Porém, o olhar dele era de uma doçura incomparável. Passamos a tratar desse querido e colocamos nele o nome de Smoke. Todos os dias, levávamos ração em um pasto que ficava um pouco longe de casa, e na mesma hora em que ele me via, vinha correndo para me encontrar.
Com o passar dos meses, Smoke foi ficando forte e saudável. De acordo com as informações que tínhamos, ele tinha uma índole muito boa e assim resolvi arriscar e montar. Saíamos para longos passeios e a cada dia eu adquiria mais confiança nesse cavalo. Nos dias em que minha mãe treinava, eu montava nele, trotava e galopava pela pista. Dai pensei: Vou colocar esse cavalo a trote e tentar fazer o mesmo que vejo os cavaleiros de Três Tambores fazerem.
Era só uma tentativa, mas, já na primeira vez – nem sei se consigo explicar a sensação que tive -, me veio uma certeza de que aquela modalidade, o esporte que eu queria. Via ali a expressão de liberdade quando minha mãe passava a galope no percurso. Fomos almoçar e eu falei: Mãe, essa é a modalidade que quero para mim, vou correr prova de Três Tambores!
Consegui o apoio da minha mãe, mas todo o resto da família ficou muito bravo com ela. Acharam simplesmente um absurdo que uma pessoa com tantos comprometimentos pudesse transpor três tambores em velocidade! A verdade é que a mente nos faz capazes, a coragem não me faltava e nem a determinação. É que, após todos os processos dolorosos pelos quais passei, esse era para mim o início do momento de colher os frutos de toda a luta.
Meu cavalo e eu: Juntos fomos descobrindo pequenos segredos
Até 2015, minha mãe é quem sempre me treinou. No entanto, ela achou que havia chegado o momento de nos separarmos, a hora de eu adquirir a minha tão sonhada liberdade. Ela conversou com o seu treinador, João Gabriel Daniel, ele veio até o sítio para me conhecer e topou me treinar. Yes! Aí sim! Agora a sorte estava lançada.
Confesso que os primeiros treinos foram bem difíceis. Eu chorava de dor nas pernas e meu treinador falou: Olha Andrea, eu acho que esse esporte não é para a Veri. Vamos tentar outra coisa.
Eu não podia aceitar essa negativa, não nasci para desistir, nasci para insistir e vencer. E, por minha decisão continuei a praticar, independentemente de dores, choros, o que eu queria eu iria conseguir. Bastava ter força, muito foco e fé, e isso sobrava para mim. Todos os dias mais um pouquinho!
E o legal de tudo isso era que nós dois não tínhamos nenhuma intimidade com o esporte, nem eu nem o Smoke, mas fomos devagar descobrindo pequenos segredos para juntos formarmos uma dupla. Sim, tínhamos que formar um casamento perfeito, mas tudo isso demandaria tempo, segundo o Gabriel, muito tempo.
Os dias foram passando, meses e meses e fui evoluindo bastante. Pela internet, comecei a acompanhar provas oficializadas pela ABQM. Que delícia! Era maravilhosa toda aquela adrenalina circulando por entre os competidores. Tinha chegando a minha hora, eu queria participar de provas, mas não havia uma categoria específica para pessoas como eu, com algum tipo de limitação.
E aí comecei a matutar – o que poderia ser feito para que eu pudesse participar de igual para igual e ser reconhecida como uma paratleta? Então, através de uma amiga que conheci na época do curso – a Natasha Marcondes César -, enviei um e-mail para a ABQM contando a minha história e pedindo que fosse criada uma categoria para paratletas. O não eu já tinha, como muitos outros nãos desde que nasci, mas por que não arriscar? E assim, mais uma vez, fui atrás do meu sonho.
Por Veri Real
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