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Boi China confinado cresce e muda o perfil da pecuária do Brasil

8 de abril de 2022

Chamado “boi China”, essa espécie criada para atender as exigências do país asiático, tem preços de R$ 20 a R$ 30 por arroba mais elevados que o gado convencional e vem contribuindo para estimular a terminação de gado intensiva
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Boi China confinado cresce e muda o perfil da pecuária do Brasil
O boi China tem incentivado o confinamento com ração, um sistema mais caro e mais eficiente do que o boi de pasto – Foto: Divulgação

A demanda da China, que requer um boi mais jovem e de carne mais tenra, tem feito avançar a participação de gado confinado que antes representava 10% da criação total no Brasil. Por conta dessa exigência do país asiático, atualmente essa estratégia tem avançado para ocupar um quarto do volume de abates no país.

Vale frisar que, embora o mercado interno responda pela maior parte do consumo da carne produzida no Brasil, ou cerca de dois terços do total, a China leva em torno de 50% dos embarques externos do país, maior exportador mundial do produto.

Esse fator tem incentivado o confinamento com ração, um sistema mais caro – e mais eficiente – do que o boi de pasto, com efeitos na cadeia produtiva e para consumidores. “Os maiores volumes de gado confinado são direcionados para frigoríficos exportadores, já que a China só compra animal com 30 meses de idade, e a gente só consegue isso com terminação em confinamento ou em sistema semi-intensivo”, explicou à Reuters, Hugo Cunha, gerente técnico de confinamento da companhia de nutrição animal DSM.

Chamado de “boi China”, essa espécie tem preços que variam entre 20 a 30 reais por arroba mais elevados que o gado convencional e contribuiu para estimular a terminação de gado intensiva, assim como para a alta de preços da carne, vivenciada nos últimos anos no Brasil. E os números comprovam a mudança do perfil da pecuária.

Conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas em 2021, foram abatidos 27,54 milhões de cabeças de bovinos no Brasil. Para o mesmo ano, o Censo de Confinamento DSM, uma referência no mercado divulgada na última semana, indica que 6,5 milhões de bovinos foram terminados em confinamento. Isso significa que cerca de 23,7% dos animais abatidos vieram da pecuária intensiva.

Tomando como base a mesma lógica para 2016, o IBGE identificou abates de 29,7 milhões de cabeças de gado, contra 3,75 milhões de animais confinados, segundo a DSM. Desta forma, a participação do confinamento era de 12,6% –uma diferença de mais de 10 pontos percentuais no espaço de tempo de cinco anos.

Já, em 2019, o mercado iniciou uma guinada nas exportações de carne bovina, na esteira de uma importante rodada de habilitações de plantas frigoríficas pela China. Somente naquele ano, 22 unidades foram habilitadas em duas etapas, das 37 aprovadas atualmente, informou a Associação das Indústrias Exportadoras – Abiec com base em dados do Ministério da Agricultura.

Exigências para o boi China

A China, que havia importado 644,8 mil toneladas da proteína brasileira no ano anterior, passou para 995,6 mil toneladas adquiridas em 2019, segundo dados da Abiec, com a exigência de que a carne fosse proveniente de animais mais jovens, de 30 meses ou até quatro dentes incisivos, que passaram a ser conhecidos como “boi China”.

Um animal mais jovem tem menos chances de desenvolver doenças como a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), chamada de ‘vaca louca’, o que explica a exigência da China. Casos atípicos da doença, ainda que não gerem riscos à saúde, são registrados em bovinos mais velhos, por exemplo.

Com mais fábricas habilitadas pela China, a parcela de animais terminados em confinamento ultrapassou 20% do total abatido no Brasil. Os preços nominais da arroba bovina refletem essa mudança: antes das novas habilitações, em setembro de 2019, as cotações eram de cerca de 150 reais; pouco mais de um ano depois, tinham rompido a barreira dos 300 reais.

Também colaborou para o movimento uma maior retenção de fêmeas, antes mandadas para o abate, em função da valorização dos bezerros.

Estilo americano

E há uma tendência forte para que essa pecuária intensiva siga em ascensão, aproximando-se cada vez mais do modelo de produção norte-americano, como explicou Caio Toledo, consultor em gerenciamento de risco na pecuária da StoneX. “A nossa tendência é que ocorra, de fato, essa migração da pecuária extensiva para a intensiva”, afirmou ele, ressaltando para os custos de produção elevados.

Segundo Caio, houve a necessidade de adequação do setor a essa nova demanda por animais mais novos para a China, que contribuiu para um processo evolutivo na pecuária que já estava em andamento. “Primeiro, pela valorização da terra, que faz com que o produtor rural tenha que produzir mais em menos espaço; e segundo pela concorrência com outras culturas, onde a pecuária extensiva, a pasto, acaba perdendo em área e rentabilidade para outros cultivos agrícolas, como a soja e milho”, frisou.

Caio ainda disse que para produzir mais em menos tempo, e menor área, o pecuarista também deverá olhar para melhoramento genético, reformas de pastagens e outras tecnologias do setor.

O diretor de Operações do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), Bruno de Jesus Andrade, disse que ainda é possível terminar um animal no pasto com 30 meses, mas isso exige um elevado nível de tecnificação da fazenda e algum processo intensivo, como o semi-confinamento. “A diferença de preço do boi China estimula muito sua produção. Em Mato Grosso, por exemplo, o confinamento já representa um terço do total de abates, e há um outro terço só com animais em terminação intensiva à pasto… O confinamento realmente se consolidou”, disse.

Andrade ainda afirmou que este tipo de animal ainda oferece um bom retorno em termos de carcaça para a indústria frigorífica. Além dos produtos que são destinados à China, os exportadores conseguem alocar os cortes restantes para outros mercados com boa precificação. “Então, quando um grande confinador consegue produzir um animal de qualidade, até 30 meses, ele se associa a grandes indústrias e grandes exportadores, porque vai oferecer essa segurança ao exportador, o que gera uma concentração nos confinamentos de maior porte”.

Gestão de riscos

Para o executivo da DSM, o número de contratos fechados antecipadamente entre confinadores e frigoríficos, com ferramentas financeiras de proteção, está aumentando após o revés sofrido em 2021, quando a China embargou temporariamente as exportações brasileiras de carne bovina por dois casos atípicos de ‘vaca louca’. “O pecuarista que tinha boi saindo do confinamento para abate em outubro do ano passado, e não estava protegido (financeiramente), ficou com rentabilidade negativa”, revelou.

O embargo chinês (já revertido) contribuiu, entretanto, para que os preços do boi magro recuassem neste ano, uma vez que o animal que representa cerca de 70% dos custos de produção do confinador, o que traz perspectivas favoráveis para a produção em 2022. Isso porque parte dos pecuaristas que confinaria o animal no fim de 2021 optou pela terminação a pasto, que se estendeu até 2022, e assim não precisou entrar no mercado de reposição, diminuindo a demanda por boi magro.

Fonte: Reuters

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