Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), destaca o recente aumento da taxa Selic em 0,25 ponto percentual pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo ele, essa alta reflete a preocupação com a inflação acelerada e um mercado interno aquecido, que não tem sido acompanhado pela produção. “O Banco Central está preocupado com a inflação que está fugindo da meta e, por isso, teve que iniciar um novo ciclo de alta dos juros”, explicou Serigati.
O especialista ressaltou que a inflação está sendo impulsionada principalmente pelo aquecimento da economia e pela política fiscal expansionista. “Estamos vivendo o período de política fiscal mais acelerada desde 2010. Isso aquece a economia e faz com que os salários subam acima da produtividade”, afirmou. Ele observou que o aumento dos salários é positivo para o consumo, mas também representa um custo maior para a produção, impactando diretamente setores como o de proteína animal.
Estratégias para os produtores rurais
Diante de um cenário de juros elevados, Serigati recomenda que os produtores rurais repensem seus investimentos. “Cada produtor deve analisar sua situação específica. Há setores com margens mais confortáveis, como a pecuária, que pode ver uma reversão positiva em 2025. Já outros, como o milho, enfrentam margens apertadas e precisam tomar decisões mais cautelosas”, comentou.
O pesquisador sugere que os produtores avaliem alternativas, como reduzir o nível tecnológico aplicado nas lavouras ou diminuir a área plantada para equilibrar os custos. “Cada decisão deve ser baseada em informações e gestão cuidadosa. É hora de planejar e ajustar as estratégias conforme a situação de cada mercado”, acrescentou.
Inflação dos alimentos e os impactos do câmbio
A inflação dos alimentos, que durante parte do ano foi vista como uma “vilã” do bolso do consumidor, agora parece estar se estabilizando. No entanto, Serigati alerta que essa estabilidade depende de vários fatores, como condições climáticas e oscilações no mercado internacional.
O pesquisador ressaltou a influência do câmbio sobre os custos e preços das commodities agrícolas. “Uma coisa é exportar um contêiner de carne com o dólar a R$4,90, outra é com o dólar a R$5,60. Isso afeta diretamente a rentabilidade das exportações no agro”, afirmou. Ele destacou que a taxa cambial pode ser um fator positivo ou negativo, dependendo do momento em que a desvalorização do real ocorre e como isso se alinha com as operações de compra de insumos pelos produtores.
Brasil no cenário internacional
No contexto global, Serigati afirmou que o Brasil se encontra em uma posição de destaque entre as economias emergentes, mas ainda precisa “fazer a lição de casa” em termos de gestão econômica para aproveitar ao máximo seu potencial. “Temos um grande potencial, mas é preciso subir a vela de forma organizada para aproveitar o vento favorável”, disse o pesquisador.
Apesar das incertezas e dos desafios, o especialista expressou otimismo em relação ao agronegócio brasileiro. Segundo ele, com boas práticas de gestão e uma visão estratégica, o setor tem condições de superar os obstáculos e continuar crescendo, mesmo em um ambiente econômico adverso.
Por Canal Rural
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