A maioria das pessoas conhece silagem de milho, que é um dos principais alimentos do gado de corte e de leite. Mas um outro tipo de silagem está ganhando espaço, principalmente no sul do Brasil, como uma opção de lavoura de inverno: o trigo.
Em uma propriedade em Marmeleiro, no sudoeste do Paraná, uma ensiladeira parecida com a usada para preparo do milho colhe e mói pés inteiros de trigo. A diferença é uma adaptação feita na frente da máquina, especialmente para este outro cereal de inverno.
A colheita não para: três caminhões se revezam e, quando um enche, logo outro já encosta ao lado. Quem colhe precisa estar em sintonia com quem dirige o caminhão.
“Tem que ficar bem atento à carga, para valer a pena a distância até o silo e o caminhão fazer o frete cheio”, diz Sidiclei Risso, produtor de leite.
Rissi plantou uma variedade de trigo específica para alimentação animal, diferente das usadas para fazer farinha.
“A estrutura da planta amadurece o cacho, o grão, ou seja, juntando bastante amido para baratear o amido que você compraria para dietas animais”, afirma.
A variedade também não tem as aristas, as hastes que saem de cada grão no trigo comum. O produtor acredita que as aristas fazem mal ao gado.
O pesquisador e engenheiro agrônomo Osmar Comte, da Embrapa Trigo de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, diz que não há comprovação científica para isso e que é, sim, possível fazer a silagem com qualquer tipo de trigo.
“A planta é colhida em um ponto em que a arista ainda não está seca, ela não tem resistência. Porque, depois, quando a planta atinge o estágio de maturação para ponto de colheita, aí sim a arista tem uma determinada resistência que poderia ser agressiva ou causar rejeição por parte dos animais”, explica Comte.
“No entanto, no ponto em que se colhe silagem, a arista ainda não tem resistência e vai ser triturada, assim como toda a planta, ou seja, será cortada em, pelo menos duas ou três partes, vai para o silo, será compactada e fermentada… Portanto, quando ela sai desse processo, não tem como ela ter uma resistência que pudesse causar alguma coisa aos animais.”
Depois de colhido, o trigo é trazido para a fazenda, onde é descarregado em silos. O primeiro passo é distribuir bem e compactar, para não ficar com ar dentro. Para isso, o trator vai e volta várias vezes sobre a massa.
Rissi usa o trigo para silagem há seis anos e vem incentivando amigos e vizinhos a adotarem a alternativa. Segundo ele, uma das principais vantagens é a redução no custo de produção.
“Eu estimo que eu consigo reduzir, mais ou menos, em torno de 60% o custo do volumoso produzindo trigo na propriedade em relação [ao custo que teria] se tivesse que comprar”, diz.
Na propriedade de Ari Vicente Muller, vizinho de Rissi, 60 hectares de trigo renderam 1.200 toneladas de silagem, rendimento que agradou o criador de gado de corte. É o primeiro ano que ele investe na silagem de trigo, uma opção para substituir a silagem de milho safrinha, que no ano passado rendeu menos que essa silagem de trigo e custou muito mais – por conta do ataque de pragas como as cigarrinhas.
“No momento, tem sido satisfatório, vamos ver o resultado no cocho, fazer esse teste e procurar uma alternativa de comida barata, de qualidade e que se encaixe na nossa realidade”, afirma Muller
“Essa questão de plantar milho muito tempo na mesma área não é recomendada, tem que ter a rotação de cultura, então optamos pelo trigo.”
A silagem de trigo de boa qualidade tem proteína, fibra digestível e amido no cacho, sendo benéfica ao animal. “Se o preço do leite hoje não é atrativo para a atividade, temos que fazer nossa lição bem feita da porteira para dentro”, diz Rissi.
“É muito mais eficiente você produzir do que comprar. Como o trigo entrega muito mais do que a aveia e outros cultivares semelhantes de inverno, com certeza haverá mais adeptos.”
Por G1
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