A biorrevolução é um fenômeno que se ancora firmemente no avanço notável das ciências biológicas, incluindo áreas especializadas como a biotecnologia, bioquímica e biologia molecular. Estas áreas, associadas a rápida evolução das tecnologias de informação e comunicação, detêm um potencial enorme para influenciar profundamente nossas economias, sistemas de saúde, setor agrícola e produção energética.
No setor agropecuário, inovações biológicas têm sido postas em prática para potencializar a produtividade, controlar pragas e desenvolver novas fontes de energia. As tecnologias centradas na biologia, através da manipulação e exploração de recursos genéticos, apresentam destaque na agropecuária, impulsionados por técnicas de ponta de biotecnologia:
- biologia sintética, uma variedade de estudos em genômica e fenômica vegetal, animal e de microrganismos,
- edição genética, e
- criação de biomoléculas, entre outros biossistemas.
Sabemos que o desenvolvimento de inovações tecnológicas exige um significativo investimento financeiro, entre outros recursos, devido a natureza incerta dessas atividades. Neste cenário, que os mecanismos de apoio à inovação são essenciais para financiar e aliviar os custos de P&D para as organizações.
Ao final do texto, indicamos algumas oportunidades que sua organização também pode utilizar em busca de manter-se competitivo e inovando no mercado.
Evolução tecnológica no setor
O avanço notável na capacidade de sequenciar o genoma humano exemplifica o progresso acelerado da biotecnologia. O Projeto Genoma Humano, que durou 13 anos (1990 – 2003), desvendou o código genético humano, um marco significativo na história da ciência. Graças à inovação tecnológica, hoje temos tecnologia para sequenciar o genoma humano em menos de dois dias. Essa revolução no ritmo e na capacidade de análise possibilitou desenvolvimentos significativos em várias áreas, desde o diagnóstico de doenças e elaboração de tratamentos personalizados.
Esses avanços não estão restritos à medicina. Estes, são também incorporados de maneira surpreendente no setor agrícola. Atualmente, vemos um crescimento significativo na utilização de produtos biológicos, incluindo biofertilizantes, biopesticidas, e biostimulantes, que são desenvolvidos através de processos biotecnológicos.
Um exemplo emblemático dessa revolução é o uso da tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) em cultivares de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar. Graças à manipulação genética, essas culturas agora produzem uma toxina naturalmente presente na bactéria Bt, que é fatal para muitos insetos-praga. Isso reduz a necessidade de pesticidas químicos, diminuindo o impacto ambiental e melhorando a eficiência na produção.
Outra tecnologia que revolucionou o setor agrícola é a resistência ao glifosato. Através da engenharia genética, cientistas desenvolveram variedades de culturas resistentes ao glifosato, conhecidas como culturas RR (Roundup Ready). Esse avanço permitiu aos agricultores usar o glifosato de maneira mais eficaz para controlar ervas daninhas, sem prejudicar as próprias culturas.
Essas inovações são exemplos claros de como a biotecnologia, sustentada por avanços em bioquímica, biologia molecular e genética, está remodelando a agricultura. Estamos vivendo uma era onde ciência e tecnologia se fundem para criar soluções mais eficazes e sustentáveis para alimentar uma população mundial em constante crescimento. Vale destacar que, a biotecnologia não é apenas uma ferramenta do presente, mas é indiscutivelmente a chave para o futuro da agricultura.
Visão para o futuro
Com a visão voltada para o futuro da agropecuária, o uso de tecnologias inovadoras como o CRISPR e o RNAi traz um potencial imenso de transformação. As capacidades dessas ferramentas vão além de simples melhorias, elas prometem uma verdadeira revolução na maneira como lidamos com os desafios do setor.
O CRISPR, por exemplo, permite a edição de genes de maneira precisa, eficaz e, o mais importante, mais rápida que as técnicas de engenharia genética tradicionais. Essa velocidade e eficiência têm o potencial de facilitar o lançamento frequente de cultivares resistentes a pragas, superando os desafios enfrentados pelas técnicas iniciais de biotecnologia.
Além disso, o CRISPR permite a modificação de características específicas das plantas, abrindo caminho para a criação de cultivos mais robustos e produtivos. Esta tecnologia apresenta grande potencial para combater pragas que causam preocupações significativas aos agricultores. Por exemplo, insetos como as lagartas do complexo Spodoptera spp., percevejos, cigarrinhas e ácaros provocam perdas consideráveis em culturas importantes, mas com a edição genética, podemos desenvolver cultivares mais resistentes, que resistem a esses ataques, diminuindo a dependência de pesticidas químicos.
Por outro lado, o RNAi representa uma abordagem inovadora para o controle biológico de pragas. Esta tecnologia tem o potencial de silenciar genes específicos em pragas e patógenos, efetivamente ‘desligando’ sua capacidade de causar danos. Isto não apenas permite uma intervenção mais direcionada, mas também reduz o impacto ambiental, uma vez que a necessidade de agentes de controle químicos agressivos é minimizada.
Além disso, novos microorganismos com potencial inseticida e fungicida estão sendo cada vez mais exploradas, buscando a sustentabilidade e reduzindo o uso de químicos. Associados ao avanço da nanotecnologia, as moléculas naturais e os novos microorganismos podem ser encapsulados para garantir sua eficiência e durabilidade no ambiente, trazendo uma nova perspectiva para o controle de pragas no campo.
A nanotecnologia de materiais nanoestruturados também apresenta capacidade para geração de novos materiais de resíduos agroindustriais e embalagens e revestimentos que aumentam a durabilidade de produtos na prateleira. Biossensores nanoestruturados e sistemas ciberfísicos são outros exemplos, que demonstram a convergência entre tecnologias digitais e de base biológicas e devem ganhar espaço nos próximos anos.
Captação de recursos para PD&I no setor
O desenvolvimento dessas inovadoras soluções biotecnológicas na agricultura requer investimentos significativos. No entanto, a natureza dessas tecnologias, alinhadas com os princípios ESG, as tornam particularmente atraentes para a captação de recursos. Tanto entidades públicas quanto privadas estão cada vez mais interessadas em apoiar iniciativas que promovam a sustentabilidade ambiental.
Com isso, empresas que se dedicam à pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia para o setor agropecuária têm uma ampla gama de oportunidades de financiamento disponíveis. Esses recursos podem ser vitais para superar os desafios associados à implementação dessas tecnologias, facilitando a inovação e o progresso contínuo na área.
A Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, por exemplo, tem estimulado a inovação e criado um impacto significativo no ecossistema de inovação brasileiro. Com uma estrutura de suporte abrangente, as empresas podem se beneficiar de incentivos fiscais, financiamentos e subvenções, apoio à pesquisa e desenvolvimento através de recursos humanos, investimento de capital de risco e outros.
A Lei do Bem, por exemplo, apoiou 2.564 organizações e 11.660 projetos de PD&I em 2020, proporcionando incentivos fiscais para que as organizações invistam em pesquisa e desenvolvimento. Esse tipo de incentivo tem sido fundamental para empresas do agro que produzem produtos biotecnológicos, impulsionando sua capacidade de inovação e desenvolvimento.
A FINEP desempenha um papel crucial no financiamento da inovação, tendo investido R$ 2 bilhões em 2022 e liberado R$ 36,7 bilhões desde 2002. Em 2022, a FINEP também disponibilizou 15 editais de subvenção econômica para apoiar projetos inovadores, que representaram uma oportunidade valiosa para empresas que desenvolvem inovações para o setor agropecuário.
Além disso, são encontradas também oportunidades para o desenvolvimento em conjunto de biotecnologias no agro juntamente com a EMBRAPII, empresa que financia 1/3 do valor do projeto com recursos não reembolsáveis, além de disponibilizar mão de obra especializada e infraestrutura de ponta.
O BNDES também disponibiliza oportunidades para o setor agropecuário inovar, por meio de financiamentos reembolsáveis com condições especiais para o desenvolvimento de inovações tecnológicas alinhados com princípios ESG.
Para empresas interessadas em explorar as diversas formas de apoio disponíveis e aprender como maximizar sua capacidade de captação de recursos, é essencial entender o cenário de fomento atual. Isso inclui a familiarização com as várias opções de financiamento, os critérios de elegibilidade e os processos de aplicação. Com este conhecimento, as empresas podem traçar estratégias eficazes para garantir o financiamento necessário para levar suas inovações biotecnológicas do conceito à realidade.
Precisa captar recursos para desenvolver projetos de inovação tecnológica no setor agro? A Abgi é sua parceira ideal com um time de consultores multidisciplinar, com conhecimento em produtos biotecnológicos para o agro, e principalmente, com experiência em identificar e defender projetos de inovação aos órgãos de fomento. Ajudamos empresas a acessar diversos instrumentos de financiamento, otimizar processos, criar ferramentas e realizar uma gestão estratégica dos recursos.
Autor: Rafael Barros – Mestre em Entomologia Agrícola, Doutor e Pós-Doutor em Bioquímica e Biologia Molecular pela UFV. Na Abgi, atua na avaliação de projetos para a Lei do Bem e na escrita de projetos de subvenção econômica.
Por Agrolink
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