Maior produtor e exportador de café, Minas Gerais deve encerrar a safra de 2023 com um volume próximo a 28 milhões de sacas. Apesar da produção satisfatória, a condição dos cafeicultores é delicada devido à queda de preços e à instabilidade do mercado, o que tem, até mesmo, afastado os produtores do mercado futuro. Para 2024, as expectativas são cautelosas e há risco de comprometimento da produção devido aos fenômenos climáticos provocados pelo El Niño. O panorama foi apresentado durante a Semana Internacional do Café (SIC).
A situação do café de Minas e do Brasil foi discutida, ontem, na SIC, durante a coletiva realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). No evento, foram ressaltados os desafios dos preços do café, a sustentabilidade e as barreiras comerciais impostas ao País.
Com a presença também da imprensa internacional, o presidente da Faemg, Antônio de Salvo, explicou a importância do mundo conhecer a produção nacional, não só do café, mas de diversos outros itens do agronegócio nacional. Ele ressaltou a produção sustentável, os cuidados dos produtores rurais com o meio ambiente e a preservação de áreas nativas.
Sanções comerciais transfiguradas de ambientais
Durante o evento da SIC, Salvo também criticou a imposição de barreiras por parte de países compradores de café, que se sentem ameaçados pela competitividade e qualidade dos produtos brasileiros.
“As ameaças que existem aos produtos brasileiros são exatamente a capacidade do Brasil de ser competitivo, não só na cafeicultura, mas em grande parte dos principais produtos consumidos na segurança alimentar pelo mundo. Então, como nós somos um País de terceiro mundo, muitas vezes pouco conhecido por parte do Primeiro Mundo, essas ameaças, na grande maioria das vezes, são narrativas impostas pelos nossos possíveis compradores. Isso porque somos muito competitivos em qualidade e em preço. No caso da cafeicultura, mais ainda”.
Salvo ressaltou que o Brasil, que é uma potência do agronegócio, produz muito e preserva como nenhum outro país faz. “Não existe no mundo nenhum país que tenha 66,3% de área preservada, como Pedro Álvares Cabral chegou aqui em 1.500. Temos um Código Florestal único. A Europa tem 5% de área preservada. Mesmo assim, nós produtores rurais, cafeicultores ou não, preservamos 33% desta área de 66,3% dentro das nossas propriedades sem receber R$ 1, ou US$ 1, ou um euro para manter isso preservado”.
Produção de café crescerá de forma sustentável, diz Salvo durante a SIC
Salvo disse ainda que a produção brasileira de café e também do agronegócio continuará em crescimento, baseada na sustentabilidade, na inovação e avanço tecnológico.
“Sustentabilidade é uma palavra de ordem. Vamos continuar desenvolvendo, vamos continuar melhorando a qualidade não só da genética na nossa cafeicultura, mas da nossa cana-de-açúcar, dos nossos animais, dos bovinos. Essa narrativa que o Brasil está crescendo porque está fazendo de forma não sustentável, absolutamente, não é verdade. Mesmo porque ninguém tem as reservas legais e as áreas preservadas que nós temos”.
El Niño pode impacta próxima safra de café
No que diz respeito à produção de café, os desafios continuam. Além de enfrentar fenômenos climáticos que irão impactar na produção, como os efeitos do El Niño, os cafeicultores também estão com as margens comprometidas.
Conforme a assessora técnica da Comissão Nacional de Café da CNA, Raquel Miranda, que participou da SIC ontem, o El Niño normalmente é caracterizado por um regime de chuva mais favorável, mas com calor excessivo.
“Ainda assim, vamos sofrer com o calor excessivo em Minas e São Paulo, que são importantes regiões produtoras. Altas temperaturas inviabilizam o grão de pólen, o que pode trazer um impacto para a safra de 2024”.
O presidente da Faemg, Antônio de Salvo, explicou que ainda é cedo para mensurar quais podem ser os impactos, mas eles existirão. “Tanto os modelos europeu como o americano estão mostrando que vamos ter problema não só no café, mas também nos demais segmentos que dependem da chuva. Está um pouco cedo para mensurar porque começou a chover agora em setembro, outubro. Então, ainda não é possível mensurar isso, mas, certamente, vamos ter queda de produção, infelizmente”.
Preços do café
Para Salvo, uma queda na produção pode refletir no aumento dos preços do café. “A queda trará, consequentemente, um aumento de preços não só das commodities, mas também dos cafés especiais e, isso, certamente vai ser afetado por essa mudança de La Niña para El Niño”.
A retomada de preços do café é importante para o setor. Em 2023, os preços seguiram abaixo do necessário para gerar uma margem significativa para os cafeicultores. Além disso, há uma grande instabilidade no mercado mundial, o que tem causado receio dos produtores em negociar a safra de forma antecipada, no mercado futuro.
“Nós observamos que o mercado operou de forma invertida nos últimos dois anos, ou seja, o preço do spot estava mais atrativo que no mercado futuro. Assim, o produtor que fez a venda futura, teve que entregar para atender aos contratos, mas recebendo valores menores. Então, os produtores pararam de fazer a trava futura com receio de novos prejuízos”, explicou Raquel Miranda.
Ainda segundo a assessora técnica da CNA, na safra 2023 e também 2024 foi verificada queda muito significativa dos produtores que operaram no mercado futuro: “É uma situação complicada porque a trava futura é uma ferramenta importante para a gestão. Com ela, o produtor sabe quanto com antecedência de um, dois, três anos o valor que vai receber pela saca. Assim, ele pode planejar investimentos”.
De Diário do Comércio
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