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Ranicultura: entenda os principais pontos sobre o assunto

4 de fevereiro de 2024

A ranicultura, ou criação de rãs, tem ganhado cada vez mais a atenção de produtores e aquicultores no Brasil, e os motivos são diversos.
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Ranicultura: entenda os principais pontos sobre o assunto
Foto: Ranário Santa Clara

Apesar do consumo desse tipo de carne ainda não ser tão popular em comparação a de outros animais no país, especialistas afirmam que o clima, o ambiente e o custo de investimento são fatores diferenciais para esse tipo de cultura, somando, claro, ao rico valor nutritivo que o animal pode oferecer à mesa do brasileiro.

A ranicultura engloba desde a reprodução até a comercialização de rãs e tem um forte potencial econômico devido à alta demanda por carne de rã, principalmente no mercado externo. Com um manejo adequado e o aproveitamento das condições naturais favoráveis do país, a atividade se destaca como uma alternativa promissora no cenário agropecuário brasileiro.

Mas afinal, o que é necessário para se começar um projeto de ranicultura? Quais as vantagens desse negócio? É só a carne que se aproveita do animal? Enfim, nós vamos abordar com mais detalhes ao longo do texto todas as principais questões sobre o assunto. Portanto, boa leitura!

O que é ranicultura?

A ranicultura é a prática de criar e reproduzir rãs em ambiente controlado, geralmente em cativeiro. Essa atividade é conduzida visando a diversos propósitos, como a produção de carne de rã, a obtenção de sapos para pesquisa científica, a comercialização de girinos para aquarismo, entre outros.

Essa prática pode ser realizada em escala comercial ou em pequena escala e têm importância econômica em várias partes do mundo, principalmente em países como a França, a China, a Tailândia e o Brasil.

Como a ranicultura vem ganhando espaço no Brasil?

A ranicultura tem sido objeto de estudos que destacam atributos adicionais que podem ampliar sua rentabilidade para os produtores. Para começar, a carne da rã se distingue não apenas pelo sabor apurado, mas também por apresentar propriedades medicinais.

Por exemplo, a pele do animal contém propriedades cicatrizantes notáveis, o que a torna um recurso valioso, especialmente em procedimentos de tratamento de queimaduras. Além disso, pode ser utilizada para a produção de couro.

Já o óleo derivado da rã representa uma fonte lucrativa para os criadores, uma vez que é um componente fundamental na formulação de certos fármacos e produtos cosméticos.

O que saber antes de iniciar sua criação de rãs?

Perfeitamente adaptáveis a climas quentes e úmidos, as diversas variedades de espécies de rãs têm, no Brasil, o ambiente perfeito e ideal para se proliferarem sem grandes dificuldades. Em alguns casos, é preciso até controlar para que não exceda tanto a criação.

Essa facilidade de multiplicação se soma também ao fato de que a ranicultura não depende tanto de equipamentos, procedimentos e investimentos complexos, bastando apenas ter espaço adequado e água de boa qualidade.

Qual o local ideal para a ranicultura?

Como bem resumimos acima, a ranicultura depende basicamente de água limpa. Logo, tudo o que precisa para dar início a uma criação profissional de rãs é ter um terreno e, basicamente, montar os criadouros, que podem ser em tanques simples de piscicultura.

No Brasil, os principais produtores do animal se encontram na região Centro-Oeste do país, com destaque para o estado de Goiás. No entanto, o clima quente e úmido das demais regiões do país é propício para a criação de rãs, seja para consumo próprio, seja para fins comerciais.

Além disso, o local de reprodução e criação precisa ser arejado. Em locais mais frios, recomenda-se fechar as laterais e as partes superiores dos criadouros para manter o calor e a umidade.

Quais são as fases de vida de uma rã?

Em média, as rãs vivem na água ao longo de três meses na primeira fase de vida, ainda como girinos. Ao longo desse período, é notória a transformação quase que diária do anfíbio, até finalmente ganhar a forma de uma rã adulta, que passa a se adaptar à terra também.

No entanto, para fins comerciais e de alimentação, bastam pouco mais que quatro meses para o abate, tempo suficiente para que o animal atinja entre 200 e 250 gramas.

Vale destacar que esse tempo é médio e que o ambiente e as condições do criadouro podem determinar melhor a velocidade de crescimento de cada espécie. Quanto mais abafado e úmido o ambiente, e com a água em devida qualidade para a sobrevivência, a tendência é de o metabolismo do animal se adaptar melhor e se reproduzir com mais eficiência.

Quais as melhores espécies para a ranicultura?

No mundo, em especial na China, há uma variedade ampla de espécies de rãs, o que amplifica as opções de ranicultura lá fora. Porém, no Brasil, o tipo mais utilizado para fins comerciais é a raça Rana Catesbeiana, popularmente chamada de rã-touro.

Essa espécie tem origem nos Estados Unidos, mas foi introduzida no Brasil na década de 30, adaptando-se perfeitamente às condições climáticas do país. É precoce, rústica e com uma velocidade incrível de reprodução de novos girinos.

Para ser mais exato, cada rã-touro fêmea é capaz de produzir, em média, cinco mil ovos.

Qual a estrutura necessária para a ranicultura?

Já explicamos que a ranicultura não depende de grandes investimentos e equipamentos completos. Na prática, tanques de piscicultura já oferecem basicamente toda a estrutura necessária para a criação das rãs.

Na fase aquática, como girinos ainda, os tanques precisam ter um leve declive no fundo, o que permitirá o desenvolvimento mais adequado do anfíbio. A partir da fase terrestre, é necessário haver baias de crescimento para os imagos (setor de recria) e outras estruturas básicas, como: galpões fechados (que podem ser em lonas) e estufas agrícolas (que podem ser telas também).

Um ranário de médio porte ocupa, no máximo, 500 metros quadrados de um terreno e deve ser dividido em setores de reprodução, desenvolvimento, girinagem, metamorfose e engorda. Nessa última etapa, a de engorda, o setor precisa de áreas secas, mas também de uma pequena área com piscina. Os demais setores utilizam unicamente tanques de piscicultura.

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Carne de rã ( foto: Ranário Santa Clara)

Só se aproveita a carne na ranicultura?

Hoje no Brasil, a base da ranicultura é para a venda da carne de rã, considerada leve, saborosa e de alto valor nutritivo. No entanto, a pele do animal tem um potencial mercado consumidor, em especial na Europa, onde a utilizam para a confecção de bolsas, sapatos e até mesmo para utilização medicinal.

Logo, há uma gama ampla de oportunidades a serem trabalhadas na ranicultura e, tendo em vista o baixo investimento de implementação dos criadouros e o alto desempenho de reprodução do animal, o ramo tende a ser uma excelente alternativa de negócio e com retornos satisfatórios em pouco tempo de trabalho.

Como começar a criação de rãs adequadamente?

Até aqui, você já conhece as principais informações sobre a ranicultura e seu significado. Agora, vamos mostrar dicas práticas para começar uma criação de rãs corretamente e com segurança. O Brasil é um dos principais produtores industriais no ramo da ranicultura mundial. Nesse sentido, existe muita oferta de cursos e especializações na área, além de incentivos para o desenvolvimento de novas tecnologias e abordagens para essa profissão.

Porém, existe uma lei específica para a criação de rãs em território nacional. Em primeiro lugar, todos os criadores devem se registrar no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Depois disso, os ranicultores precisam emitir uma licença de produtor rural no Ministério da Pesca e Aquicultura.

Também é necessário se cadastrar como aquicultor na Federação da Agricultura Estadual, além de se registrar na Prefeitura do município onde vive, na Junta Comercial, na Secretaria da Receita Federal e na Secretaria da Fazenda. Ainda é exigida uma licença ambiental, que pode ser conseguida junto à Seama (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos).

Como você pode notar, estamos falando de um processo bastante burocrático. Mas para facilitar esse processo de formalização, vale a pena pedir a orientação de uma associação de produtores. Após finalizar todas as etapas da regularização, você deve construir o ranário de acordo com as seguintes recomendações.

Instalações na ranicultura

O ranário é estruturado em setores específicos, abrangendo as etapas de reprodução, criação de girinos e recria das rãs. Cada setor é planejado levando em consideração as intenções e os recursos financeiros do profissional em ranicultura.

A temperatura ótima para a criação é de 16 °C, e a altitude local deve ser inferior a 600 metros do nível do mar. No entanto, as avançadas tecnologias possibilitam a adaptação do ambiente para atender às necessidades dos animais.

Dessa forma, ranicultores com maior capacidade financeira não encontram obstáculos ao criar rãs em locais que, de outra forma, poderiam ser desfavoráveis ao bem-estar dos animais.

Dicas de construção do ranário

Em nosso país, a criação de rãs é praticada de modo confinado. Quem já entende um pouco sobre a ranicultura sabe que o espaço onde as espécies são criadas é chamado de ranário. Esse local deve ser construído de uma forma que atenda a todas as necessidades naturais dos anfíbios.

Divisões no ranário

O ranário se subdivide em setores: o setor de reprodução, o setor de girinagem e o setor de recria. Confira, a seguir, mais detalhes sobre cada setor.

Setor de reprodução

  • baias de manutenção: onde as rãs são mantidas durante todo o ano;
  • baias de acasalamento: destinadas à reprodução e à desova.

Durante os períodos de reprodução e desova, as rãs são transferidas da baia de manutenção para a baia de acasalamento.

Setor de girinos

  • tanques de pequeno porte destinados à incubação dos ovos, proporcionando um ambiente protegido para o desenvolvimento dos anfíbios desde o estágio embrionário até a fase de larva;
  • tanques de dimensões ampliadas destinados ao crescimento e à metamorfose dos animais, abrigando-os desde a fase de girino até completarem o processo de metamorfose e se tornarem jovens rãs.

Setor de recria

  • baias de recria inicial: tanques que abrigam as rãs nos primeiros 20 a 30 dias de vida;
  • baias para crescimento e terminação: local onde os animais são mantidos até o momento do abate.

Cuidados indispensáveis para criação de rãs

Depois de se registrar e construir o ranário com todas as recomendações citadas acima, é preciso tomar alguns cuidados para que a criação seja bem-sucedida. Veja, a seguir, quais são eles:

  • certifique-se de que o local de criação seja apropriado, com condições controladas de temperatura, umidade e luminosidade;
  • mantenha a temperatura controlada de acordo com a espécie de rãs que está criando — algumas espécies requerem temperaturas específicas para se desenvolverem adequadamente;
  • monitore regularmente a qualidade da água para garantir que esteja dentro dos parâmetros ideais de pH, amônia e nitritos, essenciais para a saúde das rãs;
  • lembre-se de que esses animais são carnívoros, então ofereça uma variedade de alimentos como insetos, minhocas e rações específicas para rãs;
  • manuseie esses anfíbios com muita cautela e sem movimentos bruscos para não assustá-los;
  • mantenha o ambiente limpo e livre de resíduos, evitando o acúmulo de sujeira e prevenindo o crescimento de bactérias nocivas;
  • observe se há sinais de doença nas rãs, como mudanças na pele, comportamento anormal ou perda de apetite;
  • submeta novos animais a exames periódicos para garantir que estão se desenvolvendo com saúde e separe os adoecidos dos demais para receberem tratamento técnico adequado e especializado;
  • mantenha registros detalhados sobre a criação, incluindo dados sobre alimentação, crescimento e saúde das rãs, pois isso facilita a identificação de padrões e a tomada de decisões.

Onde encontrar tudo para iniciar sua ranicultura?

Visto a necessidade de uma estrutura simples para a criação de rãs no Brasil, começar seu projeto de ranicultura não vai demandar muito mais que uma breve pesquisa com fabricantes e fornecedores de tanques.

Por: Sansuy

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