A mosca Stomoxys calcitrans, popularmente conhecida por mosca dos estábulos ou por mosca-do-bagaço, ocorre em diversos países do mundo, principalmente em áreas ao redor de estábulos e
confinamentos. É um inseto hematófago, ataca preferencialmente equinos e bovinos. Eventualmente, ataca outros animais domésticos e o homem.
Realiza a postura e se desenvolve em resíduos orgânicos de origem vegetal ou animal, úmidos e em processo de decomposição ou de fermentação. Também podem servir como substrato para o desenvolvimento das larvas desta mosca a cama de frango de aviários e restos de culturas
ou de alimentos do gado, tais como: feno, silagem, material verde picado, palha de forrageiras, palha de cana-de-açúcar, compostagem mal manejada.
Características da mosca dos estábulos
Ciclo biológico
O ciclo de vida ou biológico apresenta as fases de ovo, larva de 1o instar (L1), larva de 2o instar (L2), larva de 3o instar (L3), pupa e adulto. Os adultos realizam um acasalamento único cerca de dois a três dias após a emergência. Após o acasalamento, as fêmeas realizam a postura de forma aglomerada (massa de ovos) em grupos de, no mínimo, 20 ovos em matéria orgânica em decomposição. Cada fêmea pode produzir mais de sete ciclos ovarianos, fazendo postura de cerca de 500 a 1.000 ovos durante sua vida.
A temperatura ideal para o desenvolvimento e maior sobrevivência da mosca está ao redor de 25ºC. Sob temperatura de 25ºC, por volta de um a dois dias após a postura, ocorre a eclosão da larva de 1o instar, que sofre duas mudas até atingir a fase de 3o instar.
Todos os instares larvais se alimentam na matéria orgânica e o período de L1 a L3 dura cerca de dez a treze dias. Essa larva de 3o instar dá origem à fase de pupa, que ocorre nas porções mais secas da matéria orgânica em decomposição. Após cerca de quatro a seis dias a pupa dá origem a um espécime adulto. Esta mosca não pode ser criada à temperatura igual ou superior a 35ºC.
O período de desenvolvimento, ou ciclo evolutivo dessa mosca (ovo até adulto), é completo em torno de duas a três semanas em climas quentes, podendo durar mais de dois meses em climas temperados. O período médio de vida de uma mosca adulta é de 15 a 30 dias. Os adultos, após seis horas de sua emergência, estão aptos a realizar a hematofagia.
Existem muitos dados sobre o ciclo biológico e comportamento da mosca que, em alguns casos, diferem um pouco entre si. Essas variações se devem às condições climáticas das diferentes regiões nas quais os estudos foram realizados ou das condições artificiais quando conduzido em laboratórios. Além dos restos alimentares sob cochos, também o vinhoto (vinhaça) pode atrair e estimular a postura desse díptero.
A postura e o desenvolvimento larval ocorrem em resíduos orgânicos de origem vegetal ou animal em processo de decomposição ou de fermentação, com umidade elevada e temperatura entre 15ºC e 30ºC. Fezes de animais domésticos, cama de aviários e de outros animais, palha, feno, restos de lavouras, bagaço de cana ou de frutas, grãos ou farinhas umedecidas, resíduos alimentares acumulados em confinamentos de animais misturados com fezes e urina, decomposição de lixo sanitário, e em locais que há formação de húmus (minhocários, composteiras e esterqueiras a céu aberto) podem servir como substrato para o desenvolvimento das larvas da mosca.
Importância econômica e veterinária da mosca dos estábulos
Os adultos de ambos os sexos da mosca-dos-estábulos são hematófagos. Além da perda de sangue, as suas picadas são muito doloridas e dependendo do grau de infestação provocam muito estresse com alterações no comportamento dos animais, contribuindo para a redução de ganho de peso.
Esse inseto é capaz de atuar na transmissão de vários patógenos: servir como hospedeiro intermediário para os nematoides Habronema microstoma, agente da habronemose gástrica e/ou cutânea dos equinos, e Setaria cervi, que parasita a cavidade peritoneal de ruminantes; transmitir o vírus da anemia infecciosa equina; atuar como vetor mecânico na transmissão de Trypanosoma evansi e Trypanosoma vivax; e como vetor biológico na transmissão da mosca-do-berne, Dermatobia hominis.
Essas moscas atacam preferencialmente equinos e bovinos, e podem atacar outros animais domésticos e o homem. No geral, preferem as partes baixas dos animais. No ato de alimentação (repasto), perfuram a pele várias vezes e ficam repletas de sangue em três minutos em um único repasto. Depois de alimentadas, pousam em locais como celeiros, cercas, estábulos, árvores, entre outros. Nas horas mais quentes abrigam-se, preferencialmente, em lugares sombreados e/ou frescos.
A espoliação e a irritação, provocadas nos animais, fazem com que estes tenham decréscimo do peso corporal (15% a 20%) e prejuízo na produção de leite (40% a 60%). O total de danos que essa mosca pode provocar depende, naturalmente, do grau de infestação nos animais.
Alternativas de Controle
• Manter a higiene das instalações, limpando sistematicamentefezes e restos alimentares, principalmente naquelas propriedades com sistema de confinamento ou leiterias
• Remover e dar destino adequado (via espalhamento ou compostagem) para toda e qualquer matéria orgânica acumulada, especialmente, os resíduos alimentares e/ou dejetos dos animais.
• Revolver o material de compostagem completamente duas vezes por semana e dispor a composteira de modo a drenar naturalmente a água da chuva
• Avaliar a eficácia dos princípios ativos inseticidas de produtos químicos antes de sua aplicação no controle da mosca
• Usar, quando necessário, inseticidas que sabidamente funcionam e que possuam origem reconhecida, assim como, registro para uso em animais, utilizando sempre com rigor a dose e o volume de calda indicados por animal a ser tratado.
• Procurar a assistência técnica, sempre e especialmente, quando for percebido que os produtos de controle não estão fazendo o efeito desejado.
• Realizar o controle químico, quando necessário, apenas nos dias previamente programados de forma coordenada. Todas as propriedades envolvidas e adjacentes ao problema devem fazer parte da programação.
O uso frequente de inseticidas nos animais não é sustentável, por não ser eficiente quando utilizado isoladamente. O seu uso de maneira generalizada e repetida propicia a seleção e desenvolvimento de populações de moscas resistentes, podendo ocasionar, também, desequilíbrios ambientais.
Em usinas sucroalcooleiras para diminuir uma possível contribuição da vinhaça para a multiplicação da mosca sugere-se:
• Distribuição fracionada da vinhaça em etapas com intervalo suficiente entre aplicações de modo que permita ser rapidamente absorvida pelo solo.
• Realizar a incorporação da palha de cana pós-colheita ao solo após a primeira aplicação de vinhaça.
• Se possível, não distribuir a vinhaça quando o solo ainda estiver encharcado com água de chuvas.
Alerta-se o fato de que, pastagens vedadas, com abundância de forragem seca e palhada, também podem, em condições de muita umidade, permitir o desenvolvimento de moscas.
Por isso, o manejo da pastagem torna-se importante estratégia auxiliar no controle da mosca-dos estábulos.
Fonte: Fazendo Certo – Como controlar as moscas do estábulo – Embrapa/Famasul
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