O moderador foi o pesquisador Fernando Lamas, da Embrapa Agropecuária Oeste, também presidente do evento. “O objetivo é caracterizar como estão os ambientes de produção, onde é possível a expansão e os cuidados que determinadas regiões precisam ser considerados para realizar de forma sustentável”, disse Lamas.
A primeira palestra foi de Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial, com o tema “Expansão e intnsificação da agropecuária no Brasil”. Ele explicou que a pesquisa transforma dados numéricos em informações, que geram instrumento tecnológico para apoiar a competitividade e a solução do sistema de produção agropecuário. “É dar um ponto para o dado, gerar mapeamento e sistemas de gerenciamento territorial com sustentabilidade. Filtrar os dados e entregar ao cliente a solução”, explicou Spadotti.
Ele lembrou que o Brasil rural, em seus primórdios, era extremamente carente e que a Embrapa foi uma das instituições de pesquisa e desenvolvimento que trouxe a melhoria na agropecuária brasileira. “Não existia ciência tropical. Revolucionamos ao transformarmos solos pobres em agricultáveis por meio de boas práticas e tecnologias para melhorar a fertilidade. Tropicalizamos a genética como a da soja e agora está sendo feito com o trigo, mas também com os animais de corte e de leite. A Embrapa tem potencial para construir mais 50 anos de protagonismo. Para isso, é preciso ouvir todos os elos da cadeia”, analisou.
Segundo o analista, as tecnologias como Sistema Plantio Direto (SPD) e Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), pouparam 180 milhões de hectares do desmatamento e fazem com que o Brasil alimente mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, com somente 7,6% da sua área agricultável, segundo a Nasa e outras entidades. Ele comparou com a Argentina que utiliza cerca de 14% de seu território para agropecuária, e com os países da Europa, que cultivam em mais de 50% da área.
No Brasil, cada Área de Preservação Permanente (APP) e Área de Reseva Legal (ARL) ocupam cerca de 288 milhões de hectares, dedicados à conservação do ambiente nas áreas de produtores rurais. Quase metade das propriedades, 49%, são para preservação do meio ambiente. A Europa possui 0,3% de plantação nativa, e o Brasil tem 66%.
Para aumentar a produção agropecuária, “em qualquer área do planeta”, Spadotti falou que são necessários três pilares: intensificação do solo, aumento de produtividade e aumento da área cultivada. Precisam ser analisados dados dos quadros natural, agrário, agrícola, de infraestrutura e socioeconômico para saber se a áreas são aptas para produção.
O aumento da produtividade das culturas pode levar em consideração o chamado ‘Efeito poupa terra’. “São aproximadamente 71 milhões/ha que foram poupados por conta de nossa produtividade ao longo de 50 anos. É o papel da ciência, da tecnologia e da resiliência do produtor brasileiro que é apto para receber e implementar as tecnologias”, afirmou o chefe da Embrapa Territorial.
A intensificação de cultivos é o terceiro pilar. Ele chamou a atenção para os sistemas de integração: ILPF, ILP, ILF e IPF. “É para quem já possui tecnologia, que tem como trabalhar com qualificação, seja pequeno, médio ou grande produtor”, falou. Mato Grosso do Sul é o estado que está na dianteira no Brasil com sistemas integrados. Outro exemplo é o Sistema Antecipe desenvolvido pela Embrapa: adaptação de máquina para fazer o plantio do milho safrinha antes da colheita da soja.
Outra forma de intensificar é através da irrigação. De acordo com os dados levantados, o Brasil tem potencial para aumentar em 16 milhões de hectares com irrigação. “Temos muita água disponível no Brasil. Hoje, o Brasil está ‘irrigando o mar’ com chuva. Precisamos começar a barrar essa água em períodos de chuva e utilizá-la nos períodos de seca”, falou Spadotti.
Já os bioinsumos contribuem com a intensificação na medida em que proporcionam maior economia e maior sustentabilidade no controle de pragas e de doenças. “O setor de químicos ficou estável em 2022, enquanto o setor de biológicos teve aumento de 30% no mesmo ano. Manejo integrado é fundamental para quem está intensificando”, assegurou.
Spadotti finalizou, dizendo que o evento é importante para “difundir as tecnologias aos produtores rurais adotarem. Absorvam a infomação, mas não a guarde, leve para o produtor se apoiar nas tecnologias na tomada de decisão. Não existe competividade sem sustentabilidade”.
Políticas públicas
A palestra “Intensificação das cadeias produtivas de MS e seus impactos no meio ambiente e na economia” foi ministrada por Rogério Thomitão Beretta, secretário executivo de Desenvolvimento Sustentável, da Semadesc, do governo de Mato Grosso do Sul.
Segundo Beretta, desde 2012, o uso e ocupação do solo do estado tem sido analisado por meio do programa SIGA MS, financiado pelo governo de MS e executado pela Aprosoja/MS. A análise é realizada duas vezes por ano (safra de verão e de inverno). Na safra 2022/2023, por exemplo, a soja ocupou 12% de área, com cerca de 4 milhões de hectares e o milho safrinha (que ocupa o lugar da soja no outono-inverno) totalizou mais de 2 milhões de hectares. A produção aumentou de 4,6% de 2021 para 2022/2023 (de 8,6 milhões de toneladas para 15,1 milhões de toneladas).
“Na Semadesc, mostramos que Mato Grosso do Sul tem capacidade de expansão grande: 4 milhões de pastagens com potencial agrícola, em todas as regiões, mas, principalmente, o sudoeste e leste”, afirmou o secretário. Oportunidades surgem com o fomento do FCO para sistemas irrigados, suinocultura, bioinsumos, florestas plantadas e erva-mate. “Temos uma nova oportunidade também com a citricultura, porque o greening (doença) tem incidência menor em áreas quentes, como no Leste de MS”, disse Beretta.
As pastagens degradadas no estado reduziram graças às tecnologias e a novas culturas entrando no sistema de produção, como eucalipto e amendoim (Costa Leste), atividades que ocupam áreas de pastagens menos tecnificadas.
No projeto estratégico do governo de Mato Grosso do Sul, as metas são atingir a neutralidade de carbono até 2030, tornando o estado carbono neutro com energia renovável, desmatamento ilegal zero, politicas agrícolas sustentáveis, pecuária sustentável de baixo carbono, entre outros; ter instrumentos de política estadual de mudanças climáticas; trabalhar com pecuária sustentável, com aditivos, grãos e pastagens de melhores qualidades, melhoramento genético, sanidade, nutrição e compensação do sequestro de carbono dos solos.
O secretário citou políticas agricolas sustentáveis como o algodão com certificação, implementação dos programas e eixos estratégicos no Programa ABC+; inclusão da agricultura familiar nas políticas de mitigação e adaptação às mudanças do clima; ações de manejo e conservação do solo como o Prosolo; combate ao desmatamento ilegal; valorização dos ativos ambinetais; geração de biogás, como subproduto animal e vegetal.
Citou ainda os programas Precoce MS, Proleite, Propeixe, Carne orgânica e sustentável do Pantanal, PNEFA (área livre sem vacinação), Leitão Vida e Pro Aves. “Se manejar da maneira correta, damos uma bonificação para o produtor”, garantiu o secretário.
Os desafios para o governo estão em tornar MS em estado carbono neutro: mudança de uso de solo com revisões periódicas, como no Pantanal; infraestrutura e logística (o principal projeto é a Rota Bioceânica); concessões (para melhorar a cobertura digital nas cidades e no campo); energia renovável (potencial para aumentar); industrialização, revitalização das ferrovias (Corumbá-Três Lagoas-Bauru, assim como Maracaju-Cascavel) e Zoneamento agroecológico para aumentar e orientar a produção sustentável do estado de MS.
Algodão intensivo e sustentável
Adão Hoffman, diretor-executivo da Ampasul, representando a Abrapa no II SIP, falou sobre a cultura do algodoeiro em sistemas intensivos de produção. Resgatou a informação da produção de algodão em duas grandes épocas. Até decada de 1990, o sistema era de pequena escala, pequenos produtores, manual e baixa tecnologia.
De 1994 a 1998 em diante, implantou-se a cultura nas regiões do Centro-Oeste. “Naquele período, éramos o segundo maior produtor, com tecnologias, colheita mecanizada, larga escala. De 1999 pa frente, passamos para o segundo maior exportador do algodão. E o Brasil continua evoluindo muito na produção”, garantiu Hoffman.
Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor de algodão no mundo, com produção de 3 milhões de toneladas de algodão na safra de 2022/2023. Deste valor, 700 mil toneladas atendem o mercado interno e 2,3 milhões de toneladas de algodão foram exportados.
“Em 1970, plantava-se mais de 4 milhões de hectares de algodão e produzia-se pouco mais de 500 mil toneladas de algodão. Hoje, a área diminuiu, cerca de 1,68 milhões de hectares com uma produção de mais de 3 milhões de toneladas. Ou seja, a área plantada diminuiu 60%, a produção aumentou 423% e produtividade cresceu mais de 1000%”, informou o diretor-executivo da Ampasul, graças a melhoria de campo, de máquinas, de biotecnologias e outras tecnologias.
O Brasil ocupa 0,2% de área plantada com algodão (851 mil/ha). O País é o maior exportador de algodão do mundo com certificação socioambiental, sendo que 33% do algodão certificado do mundo sai do Brasil. Mais de 80% do algodão brasileiro tem certificação. É o principal insumo da indústria têxtil brasileira, segundo maior empregador na indústria de transformação no Brasil (60% da mão de obra é feminina), 54% da produção é destinada à industria alimentar e ração (54% do volume colhido é de caroço e 41,2% de plima).
Ainda sobre certificação, 82% de toda produção de algodão do Brasil possui certificação das melhores práticas socio ambiental. “É uma conquista de 12 anos e vem crescendo. É o cumprimento da legislação”. O Brasil é o maior ofertador Better Cotton em larga escala, licenciado, para o mundo, sendo 42% do volume licenciado pela Better Cotton no mundo. A maioria dos compradores são da Ásia e da África.
O Brasil tem maior produtividade de algodão em área de sequeiro, pouco mais de 1800 kg por hectare. Porém, 92% da área plantada no País utiliza apenas a água da chuva (sequeiro). “A água da chuva pode ser armazenada e utilizada. Viabilizar o aumento de várias culturas em MS através da irrigação. Selvíria e Três Lagoas já cultivam soja em irrigação há cinco anos e estão buscando cultura para viabilizar a produção e uma delas é o algodão”, exemplificou.
A produtividade de pluma brasileira é 129% superior à media mundial, utilizando apenas 0,14 hectare para produzir um fardinho de algodão (226 kg). “Se a produtividade do mundo fosse igual a do Brasil, poderiam ser usados 19 milhões hectares a menos para produzir a mesma coisa do que o Brasil”, afirmou Hoffman.
Os desafios que o produtor rural de algodão precisa enfrentar são a superação da competitividade com as fibras sintéticas; a implementação dos sistemas de certificação, com adoção de critérios de Governança (ESG), agricultura regenerativa e crédito de carbono; aumento da inserção de biológico na cultura do algodoeiro; aumento na média de produtividade por hectare (acima de 350@ha); expansão da área cultivada em solos arenosos (Mato Grosso do Sul tem grande potencial, principalmente na Costa Leste em expansão nas lavouras com pastagens degradadas); estímulo técnico e manejo para ampliar o cultivo em segunda época (pós soja ou feijão).
Mesa Redonda – Ao final, os palestrantes e o moderador deram a oportunidade para o público participar fazendo perguntas sobre os temas tratados no Painel.
Unidades da Embrapa – Presentes neste primeiro dia, fazem parte da equipe Embrapa: Agropecuária Oeste, Agricultura Digital, Algodão, Arroz e Feijão, Gado de Corte, Soja, Solos, Territorial e Trigo.
SIP 2023 – O Simpósio tem apoio da Ampasul, Aprosoja, Sistema Famasul, Senar-MS, UEMS, Governo de Mato Grosso do Sul (Semadesc), Sistema OCB/MS e Agoro Carbon Alliance, com patrocínio da Bayer, CHD´s Brasil, Sicredi, Rede ILPF e Syngenta.
Por Embrapa
Leia outras notícias no portal Mundo Agro Brasil