Essa mesma redução foi observada na população desse inseto, que vive
no solo e provoca perdas qualitativas ao agronegócio dessa oleaginosa,
que tem São Paulo como o principal estado produtor e onde 80% das
lavouras são instaladas com cultivares IAC.
Esses resultados foram obtidos com o uso de fontes de enxofre em
aplicação foliar e na gessagem para redução da população do inseto
e, consequentemente, a diminuição de seus danos aos grãos. “A ideia
é usar esses recursos de forma integrada e avaliar se é possível
melhorar o controle dessa praga.
Estamos fazendo isso também com
tratamento de sementes com o uso do inseticida fipronil, que é hoje uma
das ferramentas que observamos para controlar esse inseto”, explica
Marcos Doniseti Michelotto, pesquisador do IAC, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Trata-se de uma praga importante porque, embora não reduza a
produtividade, afeta muito a qualidade do grão, que perde condição de
ser comercializado in natura. “Esse dano é descoberto na unidade de
beneficiamento, principalmente quando o grão é blancheado, ou seja,
tem a película retirada.
Nesta fase do processamento, fica exposto o
estrago causado pelo inseto, que se alimenta do grão ainda na vagem, no
solo”, explica. Neste caso, os grãos danificados são destinados para
fins que remuneram menos, como a produção de óleo, e as perdas ficam
para as beneficiadoras.
Segundo o cientista, o percevejo-preto é a principal praga de solo em
amendoim e sua ocorrência tem aumentado nos últimos anos no estado de
São Paulo. O crescimento populacional dessa praga se dá a partir dos
90 dias após a semeadura. Esse período coincide com a fase reprodutiva
da cultura, reforçando o prejuízo na lavoura.
Os experimentos do IAC e da APTA estão sendo realizados desde 2017,
principalmente nos municípios paulistas de Pindorama e Ribeirão Preto.
Pragas-chaves do amendoim
O amendoim possui algumas pragas-chaves, chamadas desta forma por
ocorrerem em toda plantação dessa cultura. Há aquelas que atacam a
parte subterrânea da planta e outras que incidem sobre sua estrutura
aérea. Uma das principais pragas da parte aérea são os tripes e em
amendoim há duas espécies: o tripes-do-prateamento e o tripes das
flores.
O primeiro é um inseto que causa dano direto na lavoura por se
alimentar dos folículos jovens das plantas. “À medida que a planta
vai emitindo novos folíolos, aqueles atacados se abrem e os danos são
expostos e, desta forma, os sintomas de prateamento dos folículos
tornam-se visíveis. Esse ataque reduz o desenvolvimento vegetativo das
plantas, diminuindo a área foliar e, consequentemente, a produção de
vagens”, completa.
Quando não controlado, o ataque do tripes abre portas para a verrugose,
doença fúngica que incide sobre a parte aérea da planta. Dependendo
da severidade da ocorrência, a planta seca e tem perda de
produtividade. “O controle desse inseto é feito com inseticida
aplicado de forma regular ao longo do ciclo, podendo totalizar de sete a
dez aplicações, encarecendo o custo de produção”, diz.
Mas, a boa notícia é que há manejos que podem ser adotados, como o
monitoramento do inseto. Ao monitorá-lo é possível reduzir o número
de aplicações, que passam a ser feitas de acordo com a densidade
populacional do inseto. No entanto, os produtores têm dificuldade de
fazer esse monitoramento. “Como eles já vão fazer aplicações para
o controle de doenças, então já fazem o controle de tripes de forma
calendarizada. Como o controle da doença é feito de forma preventiva,
protetiva e calendarizada, na carona desses fungicidas, vai também
inseticida desse tripes”, comenta.
A outra espécie, o tripes das flores, não causa dano direto na planta
ao se alimentar dela, mas transmite doenças causadas por vírus,
chamadas de viroses. Nestes casos, a intensidade da ocorrência oscila
ano a ano, mas também são importantes para o amendoim.
A região da Alta Paulista, importante polo produtor de amendoim, tem
tido a maior ocorrência dessa virose desde 2014. “Os inseticidas,
embora controlem os tripes, não têm eficácia para reduzir a
incidência da doença. Neste caso, recomendamos o plantio de cultivares
mais tolerantes, como a IAC 503, IAC 505 e IAC OL5, e evitar o plantio
tardio de cultivares mais suscetíveis, como a IAC OL3 e Granoleico”,
recomenda.
Além disso, o controle da virose deve ser baseado no uso integrado de
métodos. Os pesquisadores do IAC recomendam o uso de variedades mais
tolerantes e o plantio com maior estande de plantas, em linha dupla e na
palha.
De acordo com Michelotto, a equipe conduz também estudos que mostram a
diminuição da incidência do tripes e da virose quando o amendoim é
semeado diretamente na palhada. “No caso do tripes, a redução é
observada nos primeiros 30 a 40 dias após a semeadura. Mas em termos de
percentual de redução de plantas com vírus, observou-se até 50%”,
relata.
No entanto, ainda são poucos os produtores que adotam a técnica do
plantio direto na palha, que consiste em instalar a lavoura sobre a
palhada seca da cultura anterior.
Outras linhas de pesquisas estão em andamento. “Temos experimentos
com uso de produtos biológicos para controle de controle de percevejo,
tripes e de doenças fúngicas foliares. Esses trabalhos estão sendo
conduzidos em parcerias com o setor privado e com Instituto
Biológico”, finaliza.
Por: IAC
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