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Estudo mostra que desmatamento global aumentou em 2022, atingindo cerca de 6,6 milhões de hectares de floresta

27 de outubro de 2023

Mundo ficou 21% abaixo das metas anuais que devem ser cumpridas para acabar com o desmatamento até 2030
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Estudo mostra que desmatamento global aumentou em 2022, atingindo cerca de 6,6 milhões de hectares de floresta

Um novo estudo realizado por uma coligação entre a sociedade civil e de organizações de investigação que avaliam o progresso em direção às promessas feitas por países, empresas e investidores para eliminar o desmatamento e recuperar 350 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030 mostra que, em 2022, o progresso mundial na proteção e recuperação de florestas avançou muito lentamente e, em alguns casos, piorou.
 

“As florestas do mundo estão em crise. Todas essas promessas foram feitas para deter o desmatamento, para financiar a proteção das florestas. Mas a oportunidade de progredir está passando por nós ano após ano”, afirma Erin Matson, autora principal da Avaliação da Declaração Florestal e consultora sênior da Climate Focus.

“Vimos que, em 2021, os esforços para acabar com o desmatamento já estavam atrasados. 2022 foi uma oportunidade para recuperarmos o atraso, mas os líderes desapontaram uma vez mais. Não podemos nos dar ao luxo de continuar tropeçando no caminho para o fim do desmatamento até 2030. Está claro que deter o desmatamento exigirá mudanças radicais na economia – e que toda a sociedade tem um papel a desempenhar”.

Desmatamento global aumentou 4% em 2022
 

No geral, o desmatamento global aumentou 4% em 2022 em comparação com 2021. Esta perda de cerca de 6,6 milhões de hectares de floresta significa que o mundo está 21% abaixo do esperado para que o desmatamento seja eliminado até 2030. Os esforços para proteger as florestas tropicais primárias — as florestas mais densas e imaculadas da Terra — estão 33% abaixo da meta, com 4,1 milhões de hectares perdidos em 2022. Globalmente, o mundo precisa reduzir o desmatamento em 27,8% para voltar a estar dentro da progressão esperada em 2023.
 

A avaliação anual dos compromissos internacionais, incluindo a Declaração Florestal e sobre o Uso da Terra de Líderes de Glasgow (2021), acompanha o progresso na redução da perda de florestas em comparação com a taxa média de desmatamento entre 2018 e 2020 (o “nível base”), com o objetivo de atingir perda zero até 2030. Em 2021, o desmatamento diminuiu, mas não o suficiente para atingir a meta de 2030. Em 2022, as taxas globais de desmatamento aumentaram, deixando o mundo ainda mais longe.
 

“No entanto, a esperança não está perdida”, acrescentou Franziska Haupt, autora principal e sócia-diretora da Climate Focus. “Também observamos que cerca de 50 países estão no caminho certo para acabar com o desmatamento nas suas fronteiras. Os principais países com florestas tropicais, como Brasil, Indonésia e Malásia, exibiram reduções drásticas na perda florestal. As reformas necessárias não são inviáveis, e estes países dão exemplos claros que outros devem seguir. Mas o desafio é grande: globalmente, precisaremos reduzir o desmatamento em 27,8% para ficarmos no rumo certo em 2023”.
 

Nos trópicos, o progresso na eliminação do desmatamento ficou fora da meta em 2022. A perda de florestas aumentou 8% em relação aos níveis base na América Latina tropical e no Caribe, com Brasil e Bolívia apresentando os piores resultados. (Os dados ainda não refletem as reduções do desmatamento no Brasil em 2023.) Em contraste, o desmatamento diminuiu 18% em relação aos níveis base nos países tropicais da Ásia, com Malásia e Indonésia atingindo suas metas intermédias para 2022.
 

Nas regiões tropicais, a agricultura – incluindo pecuária, soja, produção de óleo de palma e a agricultura de pequenos agricultores – é o principal motor da perda de florestas. A expansão rodoviária, incêndios e a exploração madeireira comercial também destroem e degradam essas florestas.
 

As florestas primárias nos trópicos tiveram um desempenho inferior em 2022, com um aumento de 6% na perda em 2022 em comparação com os níveis base. Nenhuma das três regiões de floresta tropical — África Tropical, Ásia Tropical, América Latina e Caribe Tropicais — está no caminho certo para eliminar a perda de tais preciosas florestas.
 

O relatório também fornece a avaliação mais completa até o momento acerca dos progressos na proteção das florestas temperadas e boreais, centrando-se na degradação, que representa uma ameaça significativa e contínua para todas as florestas. Utilizando uma nova métrica para acompanhar a degradação florestal à escala global, o relatório conclui que uma degradação significativa e generalizada está a ocorrer todos os anos em todas as regiões do mundo. Esta descoberta é especialmente importante porque ilustra as ameaças à biodiversidade florestal, ao carbono armazenado e à resiliência dos ecossistemas, mesmo em regiões florestais temperadas e boreais onde a desflorestação total é baixa.
 

De acordo com a avaliação, alguns países desenvolvidos precisam proteger melhor as suas florestas da degradação, principalmente devido às práticas de exploração madeireira e às alterações climáticas. Na América do Norte e no Norte da Europa, por exemplo, as empresas madeireiras ainda desmatam grandes áreas de floresta, que por vezes incluem florestas primárias, insubstituíveis e antigas. Felizmente, os responsáveis pelas decisões políticas estão cada vez mais atentos e ativos quanto a essas questões em alguns dos países interessados. O Canadá, por exemplo, está trabalhando no desenvolvimento de uma definição de degradação florestal para melhorar seu monitoramento e elaboração de relatórios.
 

“Embora devamos aplaudir todo e qualquer sucesso, o progresso em alguns países ou regiões foi prejudicado por falhas na redução da perda florestal em outros países”, acrescenta Haupt. “Todos os países precisam assumir a responsabilidade: precisam limitar sua pegada de desmatamento e degradação tanto interna quanto externamente, e precisam colaborar e apoiar os países em desenvolvimento neste esforço.”

Entre outras das principais constatações do estudo sobre 2022:

  • As emissões brutas de desmatamento aumentaram. As emissões brutas de gases do efeito de estufa resultantes de desmatamento aumentaram 6% em comparação a 2021 — totalizando 4 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente em 2022.
     
  • A biodiversidade nas florestas está ameaçada. Dados atualizados mostram que especialistas florestais — espécies dependentes dos habitats florestais para a sua sobrevivência ou reprodução — diminuíram drasticamente. De acordo com o Índice de Especialistas Florestais, as populações monitoradas diminuíram em abundância em 79% em média, entre 1970 e 2018.

Mas houve boas notícias — o mundo fez progressos na eliminação da perda de cobertura de árvores em áreas de alto valor de conservação. Em 2022, 1,2 milhões de hectares de florestas foram perdidos em áreas de biodiversidade florestal em todo o mundo — o que representa uma redução de 30% em relação ao período de referência de 2018-2020.

  • O progresso na degradação florestal — o declínio progressivo da estrutura da floresta, da composição das espécies e das funções ecológicas — teve resultado misto, com dados disponíveis apenas até 2021. Houve aumento da degradação nas regiões tropicais e não tropicais da América Latina e África; na Ásia Tropical e Não Tropical, na Europa e na América do Norte, a taxa de degradação diminuiu. Contudo, em todas as regiões, a integridade florestal continuou a piorar.
     
  • Embora haja evidência de que a recuperação esteja aumentando globalmente, o acompanhamento do progresso é dificultado pela gritante falta de transparência nos esforços públicos e privados para recuperação de florestas em todo o mundo. É essencial que responsáveis, tanto do setor público quanto do privado empenhem esforços para relatar os seus dados de restauração com foco na qualidade, validação e transparência.

O relatório revela mais uma vez uma preocupante discrepância entre os recursos empenhados atualmente e os necessários para as florestas — os 2,2 bilhões de dólares em fundos públicos canalizados para projetos de proteção às florestas todos os anos não são apenas uma fração do investimento necessário.

Enquanto isso, continuam os investimentos em setores destruidores de florestas, aparentemente inabaláveis. Por exemplo, a Forest 500 estima que, a partir de outubro de 2022, as instituições financeiras privadas tinham 6,1 biliões de dólares em financiamento ativo para empresas com maior risco de impulsionar o desmatamento tropical através da produção de commodities agrícolas.
 

“A liderança na proteção florestal ainda é uma exceção, e erradicar o desmatamento ainda não é uma prioridade para a maioria das empresas ou seus financiadores”, alerta Thomas Maddox, Diretor Global de Florestas e Terras do CDP. “Na maioria dos casos, a pressão para que as autoridades tomem uma ação continua a ser demasiado fraca para impulsionar progressos significativos nas finanças públicas ou no comércio privado. Deve ocorrer uma mudança na forma como os setores público e privado valorizam a natureza, incluindo as florestas, se quisermos ver algum progresso real.

Com a ampla aceitação e aprovação do quadro TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures) lançado recentemente, e um aumento no envolvimento com a colaboração multilateral, como abordagens paisagísticas, há uma esperança real de que possamos começar a avançar na direção certa. Ao mesmo tempo, o relatório aponta que os investimentos em Povos Indígenas e em comunidades locais são mínimos.
 

“Continuamos com o triste fato de que muitos dos compromissos para proteção dos direitos dos povos indígenas e das comunidades locais muitas vezes sejam apenas conversa fiada”, disse Darragh Conway, autor de relatórios e consultor jurídico chefe da Climate Focus. “Análises anteriores mostraram que povos indígenas e comunidades locais recebem uma mera fração do financiamento necessário para garantirem seus direitos e gerirem seus territórios.

Entretanto, as evidências reais mostram, na melhor das hipóteses, um progresso lento: o reconhecimento legal de terras de povos indígenas e comunidades locais aumentou nas principais regiões de florestas tropicais. No entanto, essas comunidades estão consistentemente sujeitas a violência e criminalização quando protegem as suas terras, mesmo que sejam as mais diretamente prejudicadas pela destruição da floresta.”
 

Os países desenvolvidos anunciaram dezenas de iniciativas para apoiar o fim do desmatamento tropical — mas os incentivos recebidos não são suficientes para superar os desafios de obtenção das metas da floresta. Por exemplo, os recursos de um programa chamado REDD+, que fornece incentivos econômicos para a proteção das florestas, têm sido demasiado baixos desde o princípio ou no geral. A maioria dos países em desenvolvimento ainda precisa de um apoio significativo para iniciar reformas ousadas, mas absolutamente necessárias.

A Avaliação mostra que alguns países, empresas e investidores têm demonstrado liderança na redução do desmatamento. A União Europeia, por exemplo, aprovou uma legislação histórica em 2022 que, se implementada, obrigará as empresas a cessarem o desmatamento e a removê-lo — até certo ponto — das suas cadeias de suprimento.

Ao mesmo tempo, a maioria das grandes empresas em cadeias de suprimento de matérias-primas de risco florestal avaliadas pela Forest 500 não tem uma política clara, abrangente ou ambiciosa para eliminar o desmatamento de suas cadeias de abastecimento. A maioria das instituições financeiras não tem uma política de risco florestal que cuide de seus empréstimos e investimentos.

“O mundo está falhando com as florestas, com consequências devastadoras em escala global”, afirma Fran Price, Líder Florestal Global da WWF. “É impossível reverter a perda natural, enfrentar a crise climática e desenvolver economias sustentáveis sem florestas. Desde que foi assumido o compromisso global de acabar com o desmatamento até 2030, perdeu-se uma área de floresta tropical do tamanho da Dinamarca. Estamos em um momento crítico. Governos e empresas têm uma enorme responsabilidade em nos colocar no caminho certo. Não precisamos de novos objetivos florestais: precisamos de ambição, rapidez e responsabilidade irredutíveis para que se cumpram os objetivos que já foram definidos. É hora de intensificar nossas ações.”

Por Climate Focus

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