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Em parceria com Embrapa, startup produz trigo em fazenda vertical

14 de abril de 2023

No segundo teste em ambiente controlado, a produtividade do grão já alcançou o correspondente a uma tonelada por hectare
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Em parceria com Embrapa startup produz trigo em fazenda vertical

A produção vertical de hortaliças em ambiente controlado, com menor uso de água e sem nenhum agrotóxico já avança nos grandes centros urbanos brasileiros. A novidade agora é a produção vertical de trigo, um dos grãos mais consumidos no mundo, matéria-prima do pãozinho nosso de cada dia.

Uma parceria público-privada entre a startup 100% Livre, que produz e comercializa folhosas nesse modelo de plantio na capital paulista, e a Embrapa Hortaliças já rendeu dois experimentos de produção de trigo vertical em hidroponia, com iluminação artificial de led e controle de diversas variáveis meteorológicas no ambiente, como temperatura, umidade relativa do ar, tempo e intensidade de iluminação.

Fazenda Vertical

Diego Gomes, CEO e sócio-fundador da 100% Livre, diz que, após o desenvolvimento junto com a Embrapa da tecnologia para folhosas e do avanço da comercialização de alfaces e temperos, começou a buscar uma oportunidade de trabalhar no mesmo sistema com uma commodity.

“Pesquisei oferta e demanda de grãos e decidi investir na pesquisa do trigo porque o Brasil não é autossuficiente na produção e a guerra da Ucrânia [um dos maiores produtores mundiais e exportadores do grão] nos fez entender melhor as opções de mercado do cereal”, conta.

O primeiro plantio, em julho de 2022, usando a cultivar BRS 394 da Embrapa, desenvolvida para produção irrigada no Cerrado brasileiro, serviu apenas como aprendizado. A germinação teve muitas falhas e o grão não encheu.

No segundo teste, foram feitos ajustes em nutrição, em tempo e intensidade da iluminação por leds, temperatura e em outras variantes, e os resultados já começaram a animar a equipe de pesquisa e a empresa.

“Colhemos um grão mais cheio e 42% mais produtivo que o da primeira rodada. A produtividade que conseguimos corresponde a mais de 1 tonelada por hectare. Como posso fazer o plantio em 20 prateleiras, já teria uma produtividade de 20 toneladas por hectare, diante da média de 3,5 toneladas colhidas atualmente em lavouras brasileiras a céu aberto”, projeta Gomes, que espera chegar ao mesmo rendimento do campo nos próximos testes.

Outra vantagem do ambiente controlado é que o trigo de 0,70 metro de altura ficou pronto para colheita entre 80 e 85 dias após o plantio, o que permitiria três ciclos de produção por ano, enquanto as lavouras do campo demandam cerca de 120 dias e têm apenas uma safra anual.

Terceiro ciclo

Ítalo Guedes, engenheiro agrônomo e coordenador da pesquisa feita em um contêiner instalado na área da Embrapa Hortaliças no Distrito Federal, diz que já está sendo conduzido o terceiro ciclo de experimentos, usando a mesma BRS 394 e também cultivares de empresas privadas.

Nas folhosas, até fechar o sistema de produção, diz o pesquisador, foram necessários de sete a dez ciclos e foram testadas mais de 300 cultivares.

Trigo de 0,70 metro de altura ficou pronto para colheita entre 80 e 85 dias após o plantio, o que permitiria três ciclos de produção por ano — Foto: Divulgação

Trigo de 0,70 metro de altura ficou pronto para colheita entre 80 e 85 dias após o plantio, o que permitiria três ciclos de produção por ano — Foto: Divulgação

“No trigo, devemos fazer de seis a oito ciclos de ajustes e experimentação e demorar de oito meses a um ano para fechar o sistema de produção a ser entregue para a produção comercial da 100% Livre”, revela.

Mesmo sendo em Brasília, onde a Embrapa faz pesquisas com grãos de trigo transgênico, não está nos planos da parceria testes com sementes geneticamente modificadas.

“Temos muito que conhecer e avançar ainda no processo com as cultivares de mercado”, diz Guedes, que sempre trabalhou na Embrapa com o cultivo em estufas e hidroponia e, a partir de 2016, após o lançamento do conceito de fazendas verticais nos Estados Unidos, se especializou no modelo de produção em ambiente controlado.

No modelo de parceria técnico-financeira, denominada Inovação Aberta, a empresa paga a pesquisa da Embrapa e recebe o sistema pronto para o cultivo comercial.

Segundo Guedes, só para começar, a pesquisa demandou um investimento de cerca de R$ 250 mil, sem contar salários e outros encargos, que a Embrapa não poderia bancar sem a parceira com a agtech, que recebe também, ao final do processo, um estudo de viabilidade financeira da cultura.

O CEO da 100% Livre explica que, antes de começar a produzir trigo em escala comercial, será preciso estabelecer se o consumidor vai aceitar pagar mais por um grão rastreável produzido sem defensivos, como já faz com as hortaliças.

“Sou um cara que entende de commodity e não de plantas. Fui buscar ajuda dos pesquisadores para dominar um sistema inovador de produção, mas ainda preciso avaliar se o cultivo vertical sustentável do trigo é competitivo, estudar os desafios de transporte e armazenagem, entre outros”, diz Gomes, formado em administração e publicidade.

Espaço para o cultivo, a empresa já tem. Além do galpão no Ipiranga de 300 metros quadrados e 14 metros de pé direito, que comporta 20 prateleiras e abriga a produção de folhas, a startup já alugou espaço de 1.500 metros quadrados com 20 metros de pé direito em Osasco, na região metropolitana de São Paulo.

Por Globo Rural

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