_Por Rodolfo Viana* _
A empresa que não estiver com uma estratégia de sustentabilidade muito bem definida está
perdendo a oportunidade de acompanhar esse momento de produção do conhecimento e desenvolvimento de soluções sustentáveis que estão despontando em todo mundo. Hoje, pensar no desenvolvimento sustentável
como estratégia de negócio exige mais do que intenção ou compromisso
com selos verdes, certificados e marcos legais. É preciso ter ações
práticas para romper paradigmas.
Se pensarmos em soluções que mais contribuem para uma sociedade
sustentável, acredito que a economia circular seja um dos conceitos que
consegue melhor se adequar a qualquer segmento da economia, pois ela é
capaz de fechar ciclos e incentivar o uso de produtos e recursos da
maneira mais engenhosa ao longo de toda cadeia de valor. É possível
perceber a materialização dessa ideia em muitas iniciativas de
mercado: cápsulas de café produzidas com alumínio reciclado; molduras
e acabamentos feitos a partir de isopor; embalagens de bens de consumo
utilizando plásticos renováveis; entre outros exemplos.
Além disso, a economia circular tem ganhado espaço na indústria ao
longo dos últimos anos. Por trás dessa ideia está uma mudança do
modelo linear de _”take-make-dispose”_ (coletar, produzir e descartar)
para um sistema de circuitos fechados alimentados por energia renovável
ou não. Isso porque a sociedade está seguindo para um caminho muito
positivo, valorizando menos os materiais de uso único e priorizando
ainda mais os materiais de longa duração.
O pensamento de economia circular não pode se restringir às próprias
operações de uma empresa. Precisa percorrer toda a cadeia para
abranger e fornecer valor a clientes e fornecedores. A indústria
química — que é responsável por fornecer matérias-primas para
outros negócios – e as suas inovações podem liderar o caminho nessa
mudança, aplicando esse modelo de várias maneiras com o propósito de
inovar e buscar oportunidades que possam gerar mais valor para clientes
e para a sociedade em geral. Como, por exemplo, um projeto do mercado de
tintas que transforma embalagens de garrafas PET, coletadas por
recicladores, e transformadas em esmaltes e vernizes.
Um conceito de economia circular inteligente deve ser integrado ao
desenvolvimento de produtos, processos de produção, utilização e
reutilização de sistemas desde o início.
Um outro exemplo que trago aqui é um projeto socioambiental que deu
nova função a 2,5 milhões de unidades de embalagens plásticas,
direcionadas para a construção da segunda escola sustentável da ONG
Mangalô, no bairro do Tatuapé (SP). Os números impressionam: gerou
95% menos resíduos, emitiu 90% menos CO2 e utilizou 90% menos água em
comparação à construção civil tradicional. Por meio desse projeto,
ainda em fase de implementação, será possível evitar descartes no
meio ambiente e promover a economia circular plena, pois os produtos
oriundos desse material podem ser reciclados inúmeras vezes ao final de
sua vida útil.
O grau e a velocidade da “circularidade” no mercado dependerão do
ritmo do desenvolvimento tecnológico, incentivos regulatórios, novos
modelos de negócios, disponibilidade de investimentos e da disposição
dos consumidores e do setor empresarial para mudar o seu comportamento.
O caminho é longo, mas a transição de uma economia linear para um
modelo circular traz alterações significativas nos modelos de
negócios e nas atividades de muitas indústrias.
A economia circular deve continuar sendo uma aposta prioritária do
setor empresarial, tendo em vista não somente um crescimento maior em
termos econômicos e sociais, mas também alcançar impacto ambiental
verdadeiramente positivo que beneficie todos os atores da cadeia e da
sociedade em geral.
*Rodolfo Viana é gerente sênior de sustentabilidade da BASF para
a América do Sul e diretor-presidente da Fundação Espaço ECO
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