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Como a inteligência artificial e energia nuclear estão ajudando produtores contra a mosca-das-frutas

19 de junho de 2024

Produtores do Vale do São Francisco utilizam técnicas de esterilização de machos e captura das pragas com armadilhas no campo
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Como a inteligência artificial e energia nuclear estão ajudando produtores contra a mosca-das-frutas

Responsável por provocar um prejuízo estimado em até R$ 180 milhões anuais à fruticultura brasileira, a mosca-das-frutas tem sido combatida no Vale do São Francisco, principal polo exportador de frutas do país, com tecnologias que vão de inteligência artificial ao uso de energia nuclear para esterilização de machos da principal espécie que é registrada na produção da região, a Ceratitis capitata.

Combinadas, as técnicas estão sendo utilizadas para identificar focos de infestação e controlar a população do inseto em lavouras de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). Os dois municipios produziram, juntos, 600 mil toneladas de mangas e 300 mil toneladas de uvas em 2022, segundo dados do IBGE.

“A grande vantagem do uso dessa técnica [de esterilização de machos] é que ela reduz a quantidade de produtos químicos aplicados na natureza. A técnica é incompatível com o uso de inseticidas porque estamos usamos a própria praga no seu controle”, explica Jair Virgílio, presidente do instituto de pesquisa Moscamed Brasil.

Hoje presente em 10% da área plantada do Vale do São Francisco, o uso de machos estéreis da mosca-das-frutas já contribuiu para reduzir em 91% o dano da praga, segundo avaliações realizadas pela instituição. A Moscamed Brasil foi a primeira organização do mundo a receber autorização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para utilizar a radiação com o objetivo de esterilizar insetos.

A linhagem de insetos utilizada também foi desenvolvida pelo órgão internacional e possui duas características essenciais para a sua aplicação em campo: a sensibilidade ao calor e a diferenciação de cor das pupas dos machos e das fêmeas. Com isso, os pesquisadores podem, ao replicar o inseto em laboratório, separá-los pelo sexo.

Os machos são, então, submetidos à radiação para serem esterilizados e liberados na natureza numa proporção de 100 a 150 vezes superior à população de moscas selvagens. “Como são insetos criados em laboratório, são mais sensíveis, então a gente precisa que esse controle seja feito de forma justa, com uma população muito mais elevada para haver uma ação mais eficaz”, explica Ítala Cruz Damasceno, engenheira agrônoma e responsável técnica da Moscamed.

Para isso, ela destaca que o monitoramento do nível de infestação dos pomares é parte fundamental desse controle. Ele é feito pela distribuição de armadilhas com atrativos sexuais e alimentares que permitem a contagem dessa população e geração de um índice chamado de “MAD”, sigla para “Mosca-Armadilha-Dia”.

“O produtor, com esse índice, pode e deve monitorar qualquer pomar, de qualquer fruta. É partir dele que vamos saber como atuar em relação ao controle”, destaca a pesquisadora.

É neste ponto que a inteligência artificial atua, permitindo uma contagem mais eficaz dos insetos capturados pelas armadilhas. “O que existe no mercado hoje são armadilhas manuais que demandam uma equipe de pessoas especializadas que saibam reconhecer o inseto de interesse e que façam essa contagem. Isso é inviável e pode gerar erros. Já a máquina não erra, ela tem 98% de assertividade”, diz Andrei Grespan, cofundador da Tarvos, que desenvolveu uma solução própria de inteligência artificial.

Há nove meses na região, a startup já instalou cerca de 900 armadilhas no Vale do São Francisco numa área superior a 5 mil hectares. Inicialmente focada em culturas anuais como algodão, soja e milho, a Tarvos migrou para o mercado de frutas diante das características do setor.

“É um mercado muito mais fino e exigente no trato, em que o produtor tem muito mais cuidado com pragas e doenças porque qualquer dano causa perdas na comercialização, enquanto soja e milho serão processados depois”, diz.

Desde a fundação, a startup já recebeu R$ 9,6 milhões em investimentos, sendo R$ 5 milhões de fundos de apoio à pesquisa e R$ 4,5 milhões de investidores.

No caso da Moscamed, a saída encontrada para o monitoramento com inteligência artificial foi firmar parceria com a empresa de tecnologia Elsys, hoje focada em serviços de conectividade e com protótipos em áreas de citricultura e cana de São Paulo.

A perspectiva, segundo o gerente de novos negócios da companhia, Franz Bories, é instalar os primeiros protótipos para monitoramento em lavouras de uva no Vale do São Francisco.

“A gente vê muita oportunidade no agro e o convencimento de venda é muito bom ao apontar para o produtor o quanto ele vai deixar de gastar e o quanto ele vai ganhar na ponta”, destaca.

Fonte: Globo Rural

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