Os bilionários Warren Buffett, CEO da Berkshire Hathaway, e Bill Gates, fundador da Microsoft, são críticos fervorosos das criptomoedas. Por isso, em vez das criptos, eles têm olhado para terras agrícolas nas suas cestas de investimentos.
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Bill Gates e Warren Buffett em uma entrevista realizada na Columbia Business School
A dupla historicamente mostra interesse no setor. Buffett adquiriu sua primeira fazenda no estado de Nebraska, nos EUA, por cerca de U$ 10 mil (R$ 48,2 mil na cotação atual) antes mesmo de concluir o ensino médio. Já Gates possui cerca de 108 mil hectares de terras cultivadas. Ironicamente, os investimentos desses bilionários coincidem com a rápida adoção da tecnologia blockchain — ligada de maneira embrionária ao universo cripto — pela indústria agrícola, o que tem revolucionado os processos da agropecuária e potencialmente melhorando sua eficiência.
Grandes varejistas como Walmart, Unilever e Carrefour atualmente utilizam blockchain para rastrear a origem dos produtos alimentícios, reduzindo significativamente o tempo necessário para verificar a procedência de um produto. À medida que o blockchain ganha força na agropecuária, várias empresas surgiram como líderes na implementação dessa tecnologia
AgriDigital, IBM Food Trust, AgriLedger, TE-Food, Ripe.IO, Demeter, AgriChain, Ambrosus, GrainChain e Etherisc são algumas das principais empresas do setor que usam blockchain. Essas companhias aproveitam o novo recurso para enfrentar diversos desafios, como segurança alimentar, rastreabilidade, transações eficientes e seguro agrícola, entre outros.
Nesse cenário, mesmo os investidores sem interesse direto em criptomoedas podem considerar opções de ações ou investimentos-anjo em empresas que oferecem os benefícios da tecnologia blockchain.
Por que investir em terras agrícolas?
A razão por trás dos investimentos de bilionários como Gates e Buffett em terras agrícolas pode ter sua origem na famosa citação de Will Rogers, humorista americano do início do século 20: “Compre terras. Não estão fabricando mais elas”. Nos últimos 50 anos, o retorno médio sobre as terras agrícolas, ajustada inflação, tem sido em torno de 6% nos EUA (no Brasil, segundo a IHS Markit, a valorização na última década ficou sempre acima de 10%).
Isso representa um investimento estável para investidores de longo prazo, especialmente aqueles que podem comprar e manter grandes quantidades de terras. O USDA (sigla em inglês para Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) relata que 30% das terras agrícolas do país pertencem a proprietários que não cultivam a terra, sugerindo que muitos investidores compartilham da mesma percepção de Buffett e Gates.
Embora investidores comuns possam não ter bilhões para comprar grandes quantidades de terras agrícolas, eles ainda podem participar de investimentos, apostando em ações de propriedades, fundos mútuos agrícolas, fundos negociados em bolsa (ETFs) ou fundos de investimento imobiliário. Esses investimentos podem ser adquiridos por meio de corretoras ou contas de aposentadoria — com um pouco de pesquisa, é possível encontrar uma proposta que atenda aos seus objetivos.
Investidores credenciados também têm a opção de investir em terras agrícolas por meio de plataformas, como a AcreTrader. Em operações desse tipo, valores mínimos variam, para a maioria de ofertas, de US$ 10 mil a US$ 20 mil (R$ 48 mil e R$ 96 mil). Enquanto isso ocorre no mercado, o avanço da tecnologia blockchain no setor agropecuário tem reforçado ainda mais o valor dos investimentos em terras agrícolas.
Tecnologia blockchain na agropecuária
O blockchain oferece vários benefícios para a agroindústria, como transparência na cadeia de suprimentos, rastreabilidade, contratos inteligentes, sistemas de pagamento e controle de qualidade.
Essa tecnologia pode melhorar significativamente a cadeia de suprimentos de alimentos, fornecendo transparência e rastreabilidade. Isso permite que os consumidores saibam a origem de seus alimentos, garantindo que os produtos sejam genuínos, seguros e produzidos de forma sustentável.
Um estudo recente publicado na revista Heliyon afirma: “As indústrias alimentícias podem minimizar fraudes alimentares por meio da detecção, em tempo real, ou relacionar surtos à sua causa definitiva, por exemplo. Dessa forma, a técnica de livro-razão distribuído, como é a tecnologia blockchain, permite um controle mais determinado e viável da segurança e qualidade dos alimentos.”
O blockchain também pode simplificar os processos de transação e aumentar a eficiência para agricultores de pequena escala e produtores de culturas, especialmente em áreas de baixa renda. Os agricultores podem estabelecer confiança entre os participantes do mercado e garantir preços justos para seus produtos, fornecendo acesso a plataformas baseadas nessa tecnologia para a negociação de produtos agrícolas. O relatório publicado pela Heliyon explica: “Os participantes em nível de base (agricultores), a indústria de processamento de alimentos e o sistema de gerenciamento da cadeia de suprimentos podem se unir em uma única plataforma usando a tecnologia blockchain.”
Os contratos inteligentes, alimentados pela tecnologia blockchain, podem ajudar os agricultores a garantir suas colheitas e registrar reclamações junto às seguradoras. Ao automatizar o processo de reclamações, o blockchain pode tornar o seguro mais acessível e eficiente para os agricultores, protegendo-os contra eventos climáticos imprevisíveis e perdas nas colheitas.
Com esse recurso, agricultores e produtores podem obter informações valiosas sobre quando e como um produto foi colhido, quem o produziu e sua jornada da fazenda à mesa. A natureza imutável das informações registradas no blockchain garante sua credibilidade e resistência à falsificação.
A preferência de bilionários como Buffett e Gates por investimentos em terras agrícolas, em vez de criptomoedas, destaca o potencial dessa classe de ativos em longo prazo. Com a crescente adoção da tecnologia blockchain no setor agrícola, os investimentos em terras agrícolas oferecem oportunidades promissoras para aqueles que desejam diversificar seus negócios e investir em um mercado estável e em crescimento. Ao compreender as várias aplicações do blockchain na agricultura e explorar diferentes opções de investimento, é possível aproveitar essa tendência e potencialmente colher os benefícios de uma indústria próspera.
*Steve Larsen é colaborador da Forbes EUA. Também criou a Columbia Advisory Partners, que opera em diversos segmentos na área financeira e criptomoedas (tradução: João Pedro Isola).
Por Forbes
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