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Biocombustível pode transformar MT em protagonista da transição energética brasileira

7 de junho de 2024

Dados divulgados pelo Bioind MT (Indústrias de Bioenergia de Mato Grosso) e pelo IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) apontam que na safra 2023/24, o estado produziu 43,8 milhões de toneladas de milho, sendo responsável por 38% da safra nacional
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Biocombustível pode transformar MT em protagonista da transição energética brasileira

Parlamentares, investidores, especialistas, produtores de grãos, representantes dos governos Estadual e Federal, além de conselheiros de entidades estrangeiras enchiam o auditório de um importante hotel da cidade. No hall, estandes de usinas de todo o estado indicavam que o debate, que reunia tanta gente, estava centrado em tecnologia, sustentabilidade, bioenergia e na produção de um dos mais promissores biocombustíveis do mercado: o etanol de milho. A escolha por Cuiabá como sede da primeira Conferência Internacional da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM) não se deu por um motivo qualquer.

Mato Grosso pode protagonizar nos próximos anos a tão discutida transição energética brasileira. Dados divulgados pelo Bioind MT (Indústrias de Bioenergia de Mato Grosso) e pelo IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) apontam que na safra 2023/24, o estado produziu 43,8 milhões de toneladas de milho, sendo responsável por 38% da safra nacional. Neste período, a moagem de milho também foi recorde, 10,1 milhões de toneladas, um crescimento de 37,8%, o maior percentual de crescimento anual já registrado no estado. O mesmo para a produção de etanol, cujo crescimento foi de 38,4% em relação ao período anterior.

“O etanol de milho é o mais novo fenômeno econômico do Brasil e, para nossa alegria, está acontecendo em Mato Grosso. Nós temos a capacidade natural de chegar a 100 milhões de toneladas nos próximos 10 ou 12 anos. Isso quer dizer que tem muita oportunidade para esse segmento que é símbolo de sustentabilidade. O etanol de milho é a fonte de energia do futuro. É bom para quem trabalha a terra, para quem produz, para quem industrializa e para quem consome. Nós temos a convicção de que Mato Grosso está contemplado pela natureza para ser um líder mundial na produção”, enfatizou o vice-governador Otaviano Pivetta (PDT) durante a conferência internacional ocorrida em março deste ano.

Como explica o presidente do Bioind MT, Silvio Rangel, a indústria do etanol de milho traz, atualmente, pelo menos quatro importantes benefícios para o país: produz biocombustíveis e óleo de milho; fornece fertilizantes e proteína vegetal para alimentação animal e levedura; emite créditos de carbono; e gera energia elétrica a partir de resíduos. “É um setor onde tudo é reaproveitado e produz renda, gera empregos e aumenta a arrecadação de impostos”, destaca. Hoje, Mato Grosso tem 11 indústrias de etanol de milho e outras quatro previstas para entrar em operação nos próximos anos.

Uma dessas usinas, fundada em 2019, é a ALD Bioenergia, localizada às margens da BR-364, no município de Nova Marilândia (a 251 km de Cuiabá). Resultado da parceria entre 24 produtores rurais locais, a usina opera exclusivamente com milho cultivado na região. Com capacidade de processamento superior a 5,4 milhões de sacas por ano, a instalação da ALD gerou uma nova demanda significativa para o milho local, um fenômeno observado em todo Mato Grosso.

“As usinas de etanol de milho mudaram a relação de oferta e demanda do cereal no estado, desempenhando um papel muito importante na sustentação do consumo desse produto e apoiando o crescimento da produção de milho em Mato Grosso”, explica Vanessa Gasch, gestora de desenvolvimento regional do IMEA.

Conforme Julio Cesar da Silva, gerente de Comunicação e ESG da ALD, a planta atual iniciou suas operações em 2021 com capacidade de processamento de 750 toneladas de milho/dia. A capacidade produtiva foi ampliada na segunda metade de 2023 para 1.000 toneladas de milho/dia, e agora há a expectativa de triplicação a partir de 2026. Para assegurar uma produtividade elevada, a usina conta com tecnologia de alta performance desenvolvida por mais de duas décadas nos EUA. “Toda a planta possui um alto nível de automatização, com medições precisas de todos os consumos necessários para o processo”, explica o gerente.

A tecnologia de ponta permite que, além do etanol de milho, a indústria também comercialize óleo de milho, utilizado no enriquecimento energético de ração animal. Do mesmo modo, do parque industrial também sai o Dried Distillers Grains with Solubles (DDGS), um co-produto da fabricação do etanol. Após a fermentação e a destilação do grão para produzir etanol, o material remanescente é seco para formar DDGS. O produto é rico em nutrientes e tem sido utilizado como suplemento alimentar para animais, devido ao seu alto teor de proteínas, fibras e outros nutrientes.

O quarto produto comercializado pela ALD são os Créditos de Descarbonização (CBIOs). Esses ativos ambientais podem ser emitidos por produtores de biocombustíveis em quantidade proporcional à nota de eficiência de sua produção certificada e do volume de biocombustível comercializado. Um CBIO equivale a uma tonelada de gases causadores de efeito estufa não emitidos para atmosfera devido ao uso de biocombustível em substituição aos combustíveis fósseis, como a gasolina. O valor médio de cada CBIO, comercializado na Bolsa de Valores brasileira (B3), ficou em R$ 111,63 em 2023.

Diante das evidentes mudanças climáticas, discussões sobre economias de baixo carbono têm ganhado cada vez mais relevância no cenário global. O mundo debate a urgente necessidade de ações focadas na redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE). A transição energética é apontada como um dos grandes pilares para o crescimento econômico e social dos países. Para a chefe da Divisão de Energia Renovável do Ministério das Relações Exteriores, a diplomata Laís Garcia, o etanol de milho representa uma esperança de inovação e sustentabilidade para diversos setores.

“O Brasil já é o segundo maior produtor de biocombustíveis no mundo e há uma expectativa de demanda crescente por combustíveis sustentáveis, especialmente para setores de difícil descarbonização, como o marítimo, aéreo e de cargas pesadas. O etanol de milho brasileiro é um combustível muito sustentável e vantajoso por também contribuir com a coprodução de alimentos. É uma grande esperança para a descarbonização desses setores que levarão muito tempo para reduzir suas emissões”, afirma Garcia.

A diplomata explica que a posição do governo brasileiro em relação à transição energética é equilibrar a redução de emissões com a expansão da oferta de energia, atendendo à crescente demanda e mantendo a segurança energética. “O Brasil é um grande produtor de petróleo e possivelmente continuará sendo, mas precisamos gradualmente substituir essa oferta de combustíveis fósseis por combustíveis renováveis. O Brasil combina bem essas duas coisas, e essa é uma das grandes vantagens da nossa matriz energética: a diversidade de fontes. Podemos usar essa variedade para garantir um fornecimento sustentável e firme de energia a todo o tempo”.

Apesar das vantagens ambientais em relação aos combustíveis fósseis, a produção de etanol de milho tem sido monitorada por cientistas de diversos campos que têm investigado possíveis impactos socioambientais. Um relatório do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT), assinado por Zamir Mera, Georg Bieker, Ana Beatriz Rebouças e André Cieplinski, aponta preocupações específicas quanto à Mudança Indireta no Uso da Terra (iLUC), por exemplo. Os pesquisadores reconhecem o potencial do etanol de milho como alternativa aos combustíveis fósseis, mas destacam que seu impacto depende das condições de cultivo e processamento do grão.

Desse modo, o êxito da produção de etanol de milho depende diretamente do compromisso com práticas agrícolas sustentáveis e do apoio contínuo de políticas públicas que incentivem o desenvolvimento do biocombustível. A diversidade de produtos derivados do milho, o próprio etanol, óleo de milho, DDGS e créditos de carbono, ilustra a versatilidade e o potencial econômico desse setor. Ao integrar sustentabilidade e inovação, o etanol de milho de Mato Grosso não só promete reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também impulsiona a criação de empregos e fortalece a economia local, consolidando assim sua posição como uma peça fundamental no cenário da energia renovável nacional e global.

Por PNB Online

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