Nova onda de bem-estar animal propõe ‘brinquedos’ para acalmar e entreter suínos

21 de fevereiro de 2023

Animais estressados engordam menos e oferecem matéria-prima de pior qualidade; produtor mineiro diz que suas vacas adoram ouvir rádio
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Nova onda de bem-estar animal propõe 'brinquedos' para acalmar e entreter suínos
Foto Osmar Dalla Costa – Embrapa Suínos e Aves

Você sabia que os suínos são animais bem mais inteligentes do que parecem? Na verdade, eles são a quarta espécie mais inteligente do planeta (ficam atrás apenas dos humanos, chimpanzés e golfinhos). Além disso, eles são sociáveis, sensíveis e gostam de estar sempre em movimento ou brincando quando acordados. Por esse motivo, pesquisadores, indústrias, produtores e organizações não governamentais têm investido na introdução de ‘brinquedos’ nas instalações em que os suínos são criados para reduzir os efeitos do confinamento.

“Brinquedo é como são chamados elementos colocados nas baias com a intenção de permitir que esses animais expressem comportamentos naturais, iguais aos que eles teriam se estivessem soltos na natureza”, explica o pesquisador Osmar Dalla Costa, da Embrapa Suínos e Aves.

A produção global de carne suína aumentou quatro vezes nos últimos 50 anos e deve se manter em alta até 2050 devido ao crescimento da população mundial e do consumo per capita em algumas regiões do planeta, como a Ásia. No entanto, esse aumento produtivo depende da superação de alguns desafios. Um deles é a necessidade de aperfeiçoamento das boas práticas de produção voltadas ao bem-estar animal. Propiciar as melhores condições de vida  aos suínos é uma exigência cada vez mais comum entre consumidores de todo o mundo. Além disso, significa reduzir perdas econômicas. Animais estressados, em geral, diminuem sua capacidade de transformar ração em carne e oferecem uma matéria-prima de pior qualidade.

Segunda Onda do Bem-estar

Investir em elementos de enriquecimento ambiental nas instalações em que são criados os suínos é uma espécie de segunda onda do bem-estar animal na suinocultura brasileira. A primeira onda teve início em meados dos anos 2000 e focou na melhoria das condições básicas disponibilizadas aos animais do nascimento ao abate – espaço adequado, temperatura, qualidade do ar, limpeza, transporte e tratamento humanitário.

Qualquer modificação que aumente o conforto do ambiente (como a diminuição no número de animais por baia ou a instalação de ventiladores) pode ser vista como uma ação de enriquecimento ambiental. Entretanto, na maior parte das vezes, o termo se refere ao acréscimo de objetos pendurados em algum ponto das instalações (como uma corrente colocada na divisória de uma baia) ou soltos no ambiente (como um pedaço de madeira livre no chão) que permitam ou estimulem os suínos a desenvolver comportamentos naturais, como fuçar, brincar e desenvolver laços de grupo.

De acordo com o gerente executivo de Sustentabilidade Agropecuária na Seara Alimentos, Vamiré Luiz Sens Júnior, os “brinquedos” visam principalmente quebrar a monotonia, que podem provocar comportamentos anormais por parte dos suínos. Por exemplo, quando os animais experienciam estados de estresse e frustração, exibem com frequência atitudes sem função aparente, como mastigar com a boca vazia, ranger os dentes, morder barras de ferro ou lamber o chão.

Os suínos que vivem em ambientes enfadonhos também demonstram mais propensão a interações sociais negativas. “Esse tipo de comportamento traduz-se, na prática, em episódios de agressividade dentro das baias. É daí que vêm problemas como a caudofagia, que ocorre quando um ou mais animais na baia sofrem mordeduras e consequentes lesões na cauda”, explica Dalla Costa.

 Regulamentação das boas práticas

A introdução de “brinquedos” para os suínos também é respaldada por uma regulamentação recente. A instrução normativa número 13 (IN 13), publicada pelo Ministério da Agricultura em dezembro de 2020, estabeleceu as boas práticas de manejo e bem-estar animal nas granjas de suínos de criação comercial. A norma prevê que “os suínos tenham acesso a um ambiente enriquecido, para estimular as atividades de investigação e manipulação e reduzir o comportamento anormal e agressivo”. 

O mesmo capítulo recomenda que sejam disponibilizados materiais para manipulação, como palha, feno, cordas, correntes, madeira, maravalha, borracha e plástico. Também são citados como itens de enriquecimento ambiental na IN 13 a oferta de estímulos sonoros, visuais e olfativos que aumentem o bem-estar dos suínos.


Quanto custa instalar ‘brinquedos’?

Quase todos os interessados em bem-estar animal, quando pensam em introduzir “brinquedos” para suínos, tentam primeiro dimensionar quanto custarão as mudanças. Afinal de contas, ações de enriquecimento ambiental representam custo extra ou oportunidade de ganho? O pesquisador ressalta que a introdução de brinquedos funciona, preferencialmente, em ambientes que estão sofrendo perdas por problemas gerados pelo confinamento intensivo. Um estudo de 2016 feito na União Europeia mostrou que os custos associados a mordidas de cauda e orelhas atingiram 18,96 euros por animal agredido, o que equivale atualmente a, aproximadamente, R$ 95. Essa perda compromete em até 43% o lucro por animal afetado.

Por outro lado, medidas de enriquecimento ambiental, claro, não saem de graça. E, na verdade, o que mais impacta é o investimento em tempo de trabalho para gerenciar o esforço extra representado pela manutenção dos brinquedos, o monitoramento mais próximo do comportamento dos suínos e o treinamento da equipe com foco no bem-estar animal.

Vacas adoram ouvir rádio

O pecuarista de leite e ex-suinocultor, Eugênio Diniz, é a favor de tudo o que traz bem-estar animal. Em sua fazenda, em Florestal, ele conta que mantém sempre um “radim” de pilha na sala de ordenha porque as vacas adoram. “Elas ficam entretidas, dóceis e entram mais facilmente na ordenha mecânica”, disse ele, acrescentando que “todo animal gosta de música”.

Suinocultor de 1986 a 1994, Diniz acha que a colocação de brinquedos para os suínos pode ser uma alternativa positiva, principalmente para se evitar as conhecidas ações de canibalismo. “Estressados, os suínos se agridem, mordendo os rabos e as orelhas uns dos outros, o que traz prejuízos para os criadores. Na época em que fui criador, não existia essa possibilidade, mas se existisse, eu certamente teria aderido”. Ele contou ainda que, certa vez, fez um curso com um especialista em defumados da Universidade Federal de Viçosa (UFV), campus Florestal, e aprendeu que o animal estressado, pode apresentar manchas vermelhas na carne, indicando microhemorragias.

Por Itatiaia

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