O ex-piloto de Fórmula 1 Pedro Paulo Diniz trocou o gosto pelas máquinas que andam a 250 km/h por uma nova paixão: pelas plantadeiras, no universo rural em Itirapina, a 200 quilômetros de São Paulo. Mas ele não se tornou um fazendeiro tradicional.
Nas últimas décadas, o seu nome está na dianteira quando o assunto são práticas agrícolas sustentáveis, que combinam agropecuária e preservação ambiental. Pedro é sócio da Rizoma Partners, empresa que busca mudar o paradigma da agricultura, promovendo produção eficiente que olha os indicadores ambientais.
Na outra ponta da cadeia, ele também é sócio-fundador do Maní, um dos 50 melhores restaurantes da América Latina desde 2013 – hoje na 7ª colocação – com alimentos naturais e orgânicos na maioria das receitas. “A agricultura pode ser uma solução para o clima e a preservação ambiental. Difundir os sistemas agroflorestais é o que me move”, diz o empresário de 53 anos. Já vamos entender o que são esses sistemas agroflorestais que ele defende.
As seis temporadas disputadas na elite da velocidade, entre 1995 e 2000, além de uma vida glamorosa em Mônaco, andando de Ferrari, tiveram essa virada de chave, quando ele resolveu incorporar a missão de promover a agricultura sustentável ao seu estilo de vida e aos investimentos.
O paulistano é um dos herdeiros de Abilio Diniz, presidente do Conselho da Península e conselheiro do Carrefour e Global. Sua fortuna está avaliada em US$ 4,2 bilhões (quase R$ 21 bilhões).
Agricultura Orgânica
Para acelerar o modelo de agricultura sustentável, a maior fonte de inspiração do ex-piloto é a própria natureza. Na citricultura da Rizoma, os limoeiros dividem espaço com outras árvores em um sistema agroflorestal.
As árvores são plantadas em associação com culturas agrícolas, garantindo a produção e a melhora de aspectos ambientais. Ingá, eritrina e eucalipto oferecem matéria orgânica para o solo; as bananeiras ajudam no controle de pragas.
“Sempre fui apaixonado por agricultura florestal, aquela que se inspira na natureza, entende como ela opera e tenta replicar esses modelos em sistemas produtivos”, afirma ele, que também é conselheiro do Península.
Segundo o biólogo Pedro Barral, que atua na Iniciativa Verde, organização do terceiro setor que contribui para a melhoria de serviços ambientai, a biodiversidade é fundamental para evitar a suscetibilidade às pragas, principalmente nos sistemas livres de produtos químicos.
As espécies da fazenda são escolhidas a dedo para ajudar o planeta no sequestro do gás carbônico da atmosfera. É o que as plantas fazem naturalmente pela fotossíntese que a gente conhece desde o ensino fundamental. É uma contribuição efetiva contra o aquecimento global, diminuindo a emissão de gases do efeito estufa. A estimativa é de que a propriedade sequestre 21 toneladas do poluente por hectare.
“Essas ações são benéficas em longo prazo para o agricultor, pois geram aumento da fertilidade do solo, maior acúmulo de água e promovem aumento de produtividade e retorno financeiro”, diz Juliana Picoli, pesquisadora e gestora de projetos no Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces). Já o desmatamento de uma floresta nativa, segundo ela, pode emitir cerca de 280 toneladas de carbono por hectare.
Isso é agricultura orgânica regenerativa, produção de alimentos com práticas ecologicamente corretas, com alternativas naturais no lugar do uso de agrotóxicos e pesticidas, e que trazem benefícios ao planeta. E o processo, ressalta o empresário, é eficiente. “Alcançamos a mesma produtividade por hectare que o limão convencional”, diz ele, que fala dos negócios com entusiasmo e paciência. Alguns dados estratégicos, como área cultivada e os números de produção, não são revelados.
Um dos desafios para o avanço dos alimentos orgânicos são os custos elevados. “Varejistas e supermercadistas tratam os produtos orgânicos como um produto ‘premium’, onde buscam maior porcentual de lucro”, afirma ele. “Numa feira mais próxima do produtor, os preços de frutas, legumes e verduras estão próximos dos convencionais. Está evoluindo, mas devagar”, diz.
A aposta de Diniz numa agricultura benéfica ao meio ambiente alcançou seus resultados mais expressivos na Fazenda da Toca, propriedade da família desde os anos 1970 e que espalha seus 2,3 mil hectares pela mesma Itirapina.
Na propriedade, alguns negócios prosperaram; outros, não. Entre os êxitos, está a produção de ovos orgânicos, que se tornou a maior da América Latina e recebeu o selo Carbon Free, que comprova a neutralização das emissões de gases estufa.
O bom desempenho atraiu a atenção de investidores. Há dez meses, a Fazenda iniciou uma nova onda de desenvolvimento ao ser arrendada pelo Grupo Mantiqueira, maior produtor de ovos convencionais da América Latina.
Cobi Cruz, diretor executivo da Associação de Promoção de Orgânicos (Organis), cobra mais políticas públicas de incentivo. “As merendas escolares poderiam ser feitas com alimentos orgânicos, com incentivos para os produtores locais”, exemplifica. Alíquotas menores para os pequenos produtores, mais espaços para feiras de orgânicos e menor tempo de certificação são outras reivindicações.
O mercado vem crescendo. Segundo o estudo da entidade, 36% dos brasileiros declararam consumir algum item orgânico nos últimos 30 dias – em 2021, o número havia sido de 31%. Os itens mais consumidos continuam sendo hortifruti, com 75% da preferência.
Diniz trabalha agora para compartilhar os aprendizados transformando a Rizoma numa prestadora de serviços de sistemas agroflorestais para o mercado agropecuário.
Sobre os tempos de piloto, ele define como ”uma época interessante” porque velocidade e adrenalina sempre foram uma paixão. Mas também tirou lições daquela fase. “Aprendi na prática que muitas coisas não faziam sentido para mim, como essa coisa materialista e consumista, com relações humanas superficiais.”
Dois fatores fizeram o ex-piloto desacelerar quando voltou ao Brasil. O ano de 2006 marcou o nascimento de seu primeiro filho e, além disso, o empresário ficou especialmente impactado pelo documentário Uma Verdade Inconveniente, do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, que chama a atenção para a crise climática.
“Todas aquelas cenas do degelo no Ártico e as catástrofes naturais provocadas pela ação humana me fizeram pensar que esse não é o mundo que quero deixar para os meus filhos”, conta Diniz.
Procurou um novo caminho da minha vida, encontrou a ioga e a meditação, que pratica até hoje. Também pedala e faz kite surfe. Gostaria de viver mais no interior, mas ainda fica um com pé lá e outro na capital. “A natureza parece lenta, mas ela tem outro tipo de velocidade, uma dinâmica intensa. É um fascínio. Estou onde deveria estar”.
Por Estadão
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